PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

Brexit: o prazo está acabando

Diante do acordo sai não sai da União Europeia, com negociações marcadas para terminar no dia 31, os britânicos chegam a estocar comida

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 13h44 - Publicado em 18 dez 2020, 06h00

Faltando pouco para o último dia da transição para uma União Europeia (UE) sem Reino Unido, 31 de dezembro de 2020, o Brexit, aprovado em plebiscito em meados de 2016, chega à reta final do jeito que começou — confuso e com pontos importantes a definir. O anúncio do acordo definitivo, que deveria ter sido feito na reunião do Conselho Europeu na quinta-feira 10 — para dar tempo de os Parlamentos dos dois lados discutirem e aprovarem suas cláusulas —, foi adiado para o domingo seguinte e, agora, ficou em aberto: até o fim do ano, qualquer dia é dia. “O mais provável neste momento é que as negociações resultem em fracasso”, disse o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, após mais de uma hora de conversa por telefone com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

No mar de idas e vindas em que o Brexit navega, o tom de honesta franqueza soou como mais uma jogada do descabelado primeiro-ministro para acentuar sua postura dura, enquanto, nos bastidores, todos continuam tentando costurar compromissos. Da parte da UE, a orientação é “seguir com as tratativas” — mas, pelo sim, pelo não, o bloco divulgou um plano de contingência para reduzir o impacto na interrupção de cadeias de suprimento, no caso de o ano acabar sem acordo. “É impressionante que, depois de tanto tempo, os dois lados continuem paralisados”, diz Alan Winters, do Observatório de Política Comercial da Universidade de Sussex.

A incerteza tem impacto no dia a dia dos britânicos. Temendo uma escassez de produtos vindos dos ex-­parceiros da UE, a Tesco, principal rede de supermercados do Reino Unido, está estocando alimentos não perecíveis em armazéns espalhados pelo país e racionando itens, para evitar uma corrida às lojas. A possibilidade de que a falta de acordo obrigue o comércio entre os dois países a se submeter às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), que não admite descontos e privilégios (a não ser, justamente, quando as duas partes firmam um pacto bilateral), impulsiona o temor de aumento da inflação: a previsão é de uma alta imediata de 5% no preço da cesta básica. Pesquisa da London School of Economics mostra que o queijo roquefort importado da França, por exemplo, ficaria 55% mais caro.

Outra questão são as viagens de fim de ano (se a pandemia deixar, evidentemente): um inglês corre risco de não poder desembarcar no território da UE, que só permite turismo dentro do bloco, ou, pior ainda, viajar para o continente em 2020 e não poder voltar para casa em 2021, por falta de regras definidas na imigração. “O impasse no setor turístico é um dos exemplos de como o Brexit vem travando a atividade econômica”, afirma Paul Charles, da consultoria especializada em turismo PC Agency, de Londres. Nestes últimos dias disponíveis para evitar o apocalipse do no deal, dois pontos estão pegando. Um é concreto e efetivamente complicado: alcançar o que está sendo chamado de level playing field, ou campo nivelado, que consiste no compromisso dos britânicos de não contrapor suas regras às que vigoram na UE — em um exemplo simplista, não exportar para o continente um carro que foi fabricado com impostos, direitos trabalhistas e índices de poluição menos rígidos do que os existentes no bloco e poder ser vendido mais barato por causa disso.

O outro trata de uma atividade quase irrelevante nas economias envolvidas, mas sensível em matéria de orgulho nacional: quanto do valor de um peixe pescado por franceses em águas britânicas deve permanecer no Reino Unido? Sobre tudo isso paira o enrosco da circulação entre a Irlanda do Norte, território britânico que saiu da UE, e a Irlanda, que continua lá — um compromisso alcançado a duras penas que vira e mexe volta à corda bamba. Aos negociadores, resta a lembrança da velha canção: “Ai, ai, ai, ai. Está chegando a hora…”.

Publicado em VEJA de 23 de dezembro de 2020, edição nº 2718

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.