Brasileira é eleita deputada na Espanha por partido de esquerda
A sergipana Maria Dantas será deputada pelo partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e se define como uma ativista "antirracismo e antifascismo"
Com as eleições de domingo 28, a brasileira Maria Dantas, de 49 anos, se tornou a primeira cidadã brasileira eleita deputada na Espanha. Maria foi eleita como uma das quinze representantes do partido nacionalista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), a favor do separatismo catalão, e afirmou que sua principal bandeira é a dos imigrantes e dos refugiados.
Nascida em Aracaju, no Estado de Sergipe, a advogada mora há 25 anos em Barcelona, dez deles como uma imigrante ilegal, e trabalhou como empregada doméstica, babá e camareira antes de se estabilizar no país como funcionária de uma empresa de finanças.
“Esta é uma referência muito importante. Ter uma brasileira de uma família humilde do Nordeste do Brasil no congresso espanhol pode fazer com que outros imigrantes deixem de ter dúvidas se podem ser bem sucedidos aqui”, afirmou a deputada recém-eleita em entrevista ao jornal O Globo.
No site do ERC, Maria se define como uma candidata “na luta antirracista e antifascista”. Ela migrou para a Catalunha em 1994 para cursar uma especialização em direito ambiental e ontem foi à sessão eleitoral vestindo uma camiseta com o rosto de Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em março de 2018.
A sergipana já participou de iniciativas como a Unidade contra o Fascismo e o Racismo, Stop Mare Mortum e da plataforma Brasileiras contra o Fascismo de Barcelona. Em um post no Twitter, ela reforçou suas bandeiras contra o fascismo ao postar uma foto defendendo a que “todas as pessoas possam votar”.
Haber nacido es España no es motivo suficiente para poder votar, sino que se tiene que demostrar conocimientos del país en un examen y esperar, en algunos casos más de cinco años, para obtener respuesta. #votaresunderecho #CedeTuVoto #racismeinstitucional pic.twitter.com/pQyHjRsGmk
— Maria Dantas (@_Maria_Dantas_) April 27, 2019
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Mãe de dois jovens, de 21 e 23 anos, fruto de seu casamento com um brasileiro, Maria afirmou que a ascensão do Vox, partido da extrema direita espanhola, foi a principal motivação para sua entrada na política.
“A população daqui sempre foi racista e xenófoba porém, com a chegada do Vox, as pessoas saíram do armário”, defendeu a ativista. “Depois de vinte anos trabalhando nos movimentos sociais catalães, creio que, em algum momento, alguém da população ‘subalterna’ teria que entrar nas instituições, pelo bem da representatividade.”
Vitória socialista
O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) venceu as eleições realizadas de domingo na Espanha, de acordo com a apuração divulgada pelo governo do país. O partido liderado pelo atual primeiro-ministro, Pedro Sánchez, obteve 28,29% da preferência do eleitorado, que se traduzem em 123 cadeiras das 350 que compõem o parlamento.
A vitória do PSOE, que tinha 84 deputados na legislatura anterior, foi anunciada pela porta-voz do governo da Espanha, Isabel Celaá, em entrevista coletiva. Além do triunfo no Congresso dos Deputados, os socialistas garantiram maioria absoluta no Senado.
Sem os 176 deputados necessários para formar maioria, no entanto, Sánchez será obrigado a fazer alianças com outros partidos para governar. Os resultados mostram que o primeiro-ministro poderá formar a maioria se obtiver apoio do Podemos, do Partido Nacionalista Basco (PNV) e de outros partidos de esquerda de menor expressão.
As eleições também ficarão marcadas pelo pior desempenho da história do PP, o mais tradicional da direita no país, e pela volta da extrema direita ao Parlamento por meio do Vox, com 10,26% dos votos.
A legenda ultraconservadora marcará presença no parlamento da Espanha, com 24 representantes, um número abaixo do esperado pelo partido, que ganhou força no pleito regional realizado no ano passado em regiões antes controladas pelos socialistas, como a Andaluzia.
O ministro do Interior da Espanha, Fernando Grande-Marlaska, disse em entrevista coletiva que as eleições ocorreram com tranquilidade e sem nenhum incidente. O comparecimento de eleitores às urnas foi de 75,8%, um das mais altos já registrados na democracia da Espanha, onde o voto não é obrigatório.
(com Estadão Conteúdo)