Brasil e Rússia entram em atrito por Venezuela em reunião dos Brics
Ministro russo rebate declaração do chanceler Ernesto Araújo e defende não intromissão na crise do país sul-americano, aliado de Moscou
Brasil e Rússia entraram em atrito na reunião ministerial dos Brics nesta sexta-feira, 26, no Rio de Janeiro, depois de o chanceler Ernesto Araújo ter introduzido a crise da Venezuela em seu discurso e declarado que “não se pode deixar de ouvir um grito que pede liberdade” vindo do país vizinho. O ministro de Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, reagiu e defendeu uma solução “sem interferência de fora”.
O mal-estar instalou-se imediatamente. Venezuela, obviamente, não faz parte dos temas da agenda dos Brics. O encontro no Rio de Janeiro dos chanceleres dos cinco países emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – tem o objetivo de preparar a reunião dos líderes marcada para novembro. O aprofundamento dessa aliança, criada nos anos 2000 para elevar a cooperação e a interconexão entre os cinco sócios, estava na pauta, assim como a de seu principal mecanismo de financiamento, o Novo Banco de Desenvolvimento.
“Precisamos usar a lei internacional como uma fundação e apoiar os venezuelanos a chegar a uma solução por eles mesmos, sem interferência de fora”, afirmou Lavrov, logo depois do discurso de Araújo.
O chanceler russo defendeu ainda as negociações em curso em Oslo, na Noruega, entre representantes do governo de Nicolás Maduro e a oposição venezuelana como um “passo no caminho de encontrar uma solução sustentável” para a crise na Venezuela. O chanceler da China, Wang Yi, preferiu manter-se à parte do entrevero entre Brasil e Rússia em torno da Venezuela.
Rússia e China são os principais aliados do regime de Maduro, além dos governos de Cuba e da Turquia. Moscou tornou-se a última fonte de financiamento e de apoio militar. Em março, os russos enviaram aviões e soldados à Venezuela, sob o argumento de conduzir projeto de cooperação. Outro avião militar pousou no fim de junho em Caracas. Por essa posição, os Estados Unidos ameaçam impor sanções contra Moscou.
A China manteve-se por anos como principal fonte de financiamento da Venezuela, concedido como antecipação de embarques de petróleo. A consultoria Ecoanalitica, de Caracas, estima que Pequim tenha injetado 70 bilhões de dólares no país sul-americano. No ano passado, durante sua visita à capital chinesa, Maduro conseguiu mais 5 bilhões de dólares.
O apoio das duas potências nucleares, ambas integrantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem sustentado o regime. As sanções aplicadas por Washington sobre a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), entretanto, têm esvaziado as últimas capacidades econômicas do país e de seu regime. A posição dos Estados Unidos é apoiada pelo Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte.
(Com Estadão Conteúdo)