O presidente americano, Joe Biden, anunciou neste sábado, 24, que os Estados Unidos passarão a reconhecer como genocídio a morte ou a deportação de até 1,5 milhão de armênios que eram cidadãos do Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A ação, embora amplamente simbólica, representa uma grande ruptura em relação ao tom moderado empregado anteriormente por Washington e pode prejudicar ainda mais laços do país com a Turquia, que já se manifestou contra a decisão.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reagiu imediatamente denunciando “a politização por terceiros” do debate. O chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, por sua vez, afirmou que o país “rejeita inteiramente” a decisão americana e que a Turquia “não tem nenhuma lição a receber de ninguém sobre sua história”.
A mensagem de Biden, no entanto, foi recebida com “grande entusiasmo” pelo povo da Armênia, disse o primeiro-ministro Nikol Pashinyan, em carta enviada ao presidente americano. Em suas redes sociais, o premiê também agradeceu ao governo americano “pelo grande passo em direção à justiça e o apoio inestimável aos descendentes das vítimas do genocídio armênio”.
Embora presidentes anteriores tenham feito reflexões sobre o momento histórico, todos evitaram usar o termo genocídio — uma política sistemática e deliberada de extermínio de um povo — para evitar problemas nas relações com a Turquia, aliada na Otan e ator importante em conflitos no Oriente Médio. Em dezembro de 2019, o Congresso americano chegou a reconhecer o genocídio armênio em uma votação simbólica, mas o então presidente Donald Trump se recusou a usar a palavra, citando apenas “uma das piores atrocidades em massa do século 20”.
“O povo americano honra estes armênios que morreram no genocídio que começou 106 atrás nesta data”, afirmou Biden em comunicado neste sábado. “Nós afirmamos a história. Não fazermos isso para colocar culpa, mas para garantir que o que aconteceu nunca se repita”.
Com o reconhecimento, Biden cumpre uma promessa de campanha feita há um ano e coloca os EUA junto a países como Alemanha, França e Rússia, que já reconheciam o episódio como genocídio. Em 2015, o Senado brasileiro passou uma moção de solidariedade ao povo armênio, em lembrança ao centenário do massacre. Nunca houve, no entanto, uma iniciativa do Executivo para o reconhecimento.
O democrata argumentou à época, no entanto, que não ser vocal contra atrocidades abriria caminho para novos massacres. Estima-se que 2 milhões de armênios foram deportados e 1,5 milhão foram mortos nos eventos conhecidos como Metz Yeghern.
A Turquia, resultante do desmantelamento do Império Otomano em 1920, reconhece massacres, mas rejeita o termo genocídio, evocando uma guerra civil na Anatolia, associada a uma fome, na qual entre 300.000 e 500.000 armênios e turcos morreram.
A violência começou durante o início da dissolução do Império Otomano. Aliados à Alemanha durante a Primeira Guerra, os otomanos queriam impedir que os armênios se aliassem à Rússia, então ordenaram deportações em massa.