Biden diz que reação militar de Israel na Faixa de Gaza foi ‘exagerada’
Presidente americano também afirmou que está em busca de uma "pausa sustentada" nos combates entre tropas israelense e Hamas

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta quinta-feira, 8, que a a resposta militar de Israel na Faixa de Gaza foi “exagerada”, à medida que o número de palestinos mortos se aproxima da marca de 28 mil. A declaração do chefe da Casa Branca se afasta do apoio “sólido e inabalável” concedido a Tel Aviv no início da guerra, em 7 de outubro, e representa a mais contundente crítica do governo americano à administração do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
O líder americano disse também que está em busca de uma “pausa sustentada” nos combates entre as tropas israelenses e o grupo palestino radical Hamas, de forma a permitir a libertação de reféns mantidos em Gaza. Ele acrescentou que tenta firmar um acordo para normalizar as relações Arábia Saudita-Israel e aumentar a ajuda humanitária à população em Gaza.
“Estou pressionando muito agora um acordo de cessar-fogo e reféns”, explicou. “Há muitas pessoas inocentes que estão morrendo de fome, muitas pessoas inocentes que estão em apuros e morrendo, e isso precisa parar.”
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Memorando de Washington
As críticas ocorrem no mesmo dia em que a Casa Branca emitiu um memorando de Segurança Nacional, no qual insta o Departamento de Estado a “obter certas garantias escritas credíveis e confiáveis de governos estrangeiros que recebem artigos de defesa” de que respeitam “o direito humanitário internacional e o direito internacional dos direitos humanos”.
O documento também afirma que “apoiar parceiros estrangeiros dos Estados Unidos” é uma forma de avançar na “política externa e dos objetivos de segurança nacional”, que incluem a “promoção da paz” e “impedir transferências de armas que possam facilitar ou de outra forma contribuir para violações dos direitos humanos ou do direito humanitário internacional”. Em meio a quatro meses de conflito, Israel tem sido alvo de críticas de organizações, ex-autoridades das Nações Unidas e de governos, como o da África do Sul, que acusam o governo de Netanyahu de promover genocídio contra palestinos.
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Desgaste EUA-Israel
Nos últimos meses, a administração Biden tem aumentado o tom em relação às ações de Netanyahu. Em dezembro, o presidente americano condenou os bombardeios “indiscriminados” em Gaza e destacou que Israel poderia perder o apoio internacional por tamanha violência. Na ocasião, ele também disse que o governo do premiê tornava “tudo muito difícil” e que os EUA não podiam negar a formação de um Estado Palestino, desejo de Tel Aviv.
O primeiro-ministro, por sua vez, alega que a vitória contra os militantes está próxima e rejeita um novo cessar-fogo. Mas, segundo o jornal britânico The Guardian, funcionários dos serviços secretos dos Estados Unidos informaram membros do Congresso americano de que Israel estava longe de concretizar o plano de eliminar o Hamas.
Em meio ao desgaste, tropas israelenses bombardearam a cidade de Rafah, que abriga mais de um milhão de pessoas, na quinta-feira. O local era antes considerado por Israel como área “segura”, para qual metade dos moradores de Gaza se deslocaram. Ao menos 13 pessoas morreram, incluindo duas mulheres e cinco crianças. Em resposta, o porta-voz do conselho de segurança nacional dos EUA, John Kirby, alertou que a Casa Branca não apoiará qualquer ataque em Rafah, que enfrenta uma grave emergência humanitária.
“Se não forem mortos nos combates, as crianças, mulheres e homens palestinos correrão o risco de morrer de fome ou de doença”, alertou Bob Kitchen, do Comitê Internacional de Resgate. “Não haverá mais uma única área ‘segura’ para os palestinos irem.”
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Arábia Saudita e Israel
Ainda nos comentários desta quinta-feira, Biden sugeriu que o ataque-surpresa do Hamas, em 7 de outubro, teria sido uma maneira de impedir o retorno das relações diplomáticas entre Israel e Arábia Saudita, mas ponderou: “Não tenho provas”. Na véspera, Riad se recusou a retomar os laços com Tel Aviv enquanto não fosse reconhecida a criação de um Estado palestino com base nas fronteiras de 1967. Também impôs como condição que “a agressão israelense na Faixa de Gaza cessasse e todas as forças de ocupação israelenses se retirassem da Faixa de Gaza”.
“O Reino comunicou a sua posição firme à administração dos EUA de que não haverá relações diplomáticas com Israel a menos que um Estado palestino independente seja reconhecido nas fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital”, comunicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita.