O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aprovou em março um plano estratégico nuclear altamente confidencial que, pela primeira vez, prioriza a ameaça representada pela rápida expansão do arsenal nuclear da China, alterando significativamente a abordagem de dissuasão do país, de acordo com reportagem publicada pelo jornal americano The New York Times nesta terça-feira, 20.
A mudança, segundo o jornal, ocorre porque o Pentágono acredita que o arsenal chinês pode se equiparar em tamanho e diversidade aos dos Estados Unidos e da Rússia na próxima década.
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A Casa Branca não divulgou oficialmente que Biden havia aprovado a nova estratégia, denominada “Orientação de Emprego Nuclear”, que também busca preparar os Estados Unidos para possíveis desafios nucleares coordenados da Rússia e Coreia do Norte. O documento, atualizado a cada quatro anos ou mais, é tão confidencial que não há cópias eletrônicas, apenas um pequeno número de cópias impressas distribuídas a alguns oficiais de segurança nacional e comandantes do Pentágono.
Recentemente, dois altos funcionários do governo mencionaram essa mudança, embora de forma sutil.
“O presidente emitiu recentemente uma orientação atualizada sobre o emprego de armas nucleares para levar em conta vários adversários com armas nucleares”, disse Vipin Narang, estrategista nuclear do MIT que atuou no Pentágono, em um discurso recente. Ele acrescentou que a nova orientação reflete “o aumento significativo no tamanho e na diversidade” do arsenal nuclear chinês.
Em junho, o diretor sênior de controle de armas e não proliferação do Conselho de Segurança Nacional, Pranay Vaddi, também se referiu ao documento, o primeiro a examinar em detalhes se os Estados Unidos estão preparados para responder a crises nucleares que eclodem simultânea ou sequencialmente, com uma combinação de armas nucleares e não nucleares.
Segundo uma análise da Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (Ican, na sigla em inglês), gastos globais com armas nucleares aumentaram 13%, atingindo um número recorde de 91,4 bilhões de dólares durante o ano de 2023.
O novo total, que representa um aumento de 10,7 bilhões de dólares em relação ao ano anterior, é impulsionado em grande parte pelo aumento acentuado dos orçamentos de Defesa dos Estados Unidos, em meio às incertezas geopolíticas provocadas pela invasão da Rússia à Ucrânia e pela guerra entre Israel e o grupo militante palestino Hamas.
Dados compilados pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), mostram que o número de ogivas nucleares ativas também aumentou ligeiramente, chegando a 9.585, impulsionado em grande parte pelo aumento do arsenal da China de 410 para 500.
Os Estados com maior força nuclear continuam, desde a década de 1950, sendo os EUA e a Rússia, que possuem cerca de 90% de todas as ogivas. A Rússia tem 4.380 ogivas nucleares instaladas ou armazenadas, em comparação com os EUA, que têm 3.708.