A cidade que mais encanta o mundo pela beleza e relevâncias histórica e cultural amanheceu nesta quinta-feira, 6, com o acúmulo de cerca de 36.000 toneladas de lixo nas ruas – o resultado de doze dias sem coleta, desde que o pessoal da limpeza pública aderiu aos protestos contra a reforma da Previdência de Emmanuel Macron, o presidente da França. Em greve, os lixeiros de Paris, a Cidade Luz, deixaram de recolher 3.000 toneladas de resíduos por dia.
Os funcionários da limpeza urbana mantêm bloqueadas seis das sete usinas de processamento de lixo que atendem à metrópole. Segundo a categoria, a reforma é injusta, pois retiraria do regime de pensões a regalia do setor de se aposentar mais cedo. Os grevistas argumentam que, por terem uma expectativa de vida sete anos menor do que um trabalhador comum, contariam com direito ao benefício.
Mas a queixa dos lixeiros não se restringe somente a essa reforma. A categoria foi às ruas por diversas vezes no passado. As mais recentes foram em 2016 e 2017, quando reivindicaram melhores condições de trabalho e salários mais altos. Um relatório recente apresentado pelos vereadores parisienses questionou a falta de investimentos na área de limpeza pública e a má gestão dos recursos pela prefeitura na zeladoria da cidade.
Os protestos gerais contra a reforma da Previdência tiveram início em 5 de dezembro de 2019, logo após Macron anunciar o projeto que unificaria todos os 45 regimes de pensões. Centrais sindicais, que ainda são extremamente fortes nas França, logo mobilizaram manifestações nas ruas de Paris, paralisando serviços como o de transporte e reduzindo o movimento em hotéis, restaurantes, cafés e até nos museus. No dia 17 dezembro, 680.000 pessoas atenderam aos chamados dos sindicalistas.
A força dos protestos foi escalando na medida que mais setores aderiam à greve. Macron tentou costurar um cessar-fogo temporário para as festas de fim de ano, mas não teve sucesso. Os turistas ficaram frustados ao não conseguirem utilizar o sistema de transporte público porque apenas duas linhas da malha ferroviária funcionavam parcialmente. Para os lojistas, o cenário em dezembro foi desanimador: as vendas caíram de 30% a 50% durante a greve. Com a adesão dos lixeiros, o cenário deixou de ser convidativo e dele apenas se beneficiaram os ratos.
Assim como Nova York, Paris sofre com a proliferação dos roedores, e o acumulo do lixo na rua se transformou num verdadeiro open bar para esses animais. A prefeitura de Paris, mesmo antes da greve, fora forçada a fechar pontos turísticos por causa da infestação. O relatório dos vereadores sobre limpeza pública chegou a sugerir a criação de um “plano contra a proliferação dos ratos”.
Macron não desistiu de sua reforma, apesar de ter concordado com alguns recuos. Chegou a trocar o responsável pela articulação política no Parlamento e colocou o texto para tramitar. A expectativa é que o projeto seja apresentado aos parlamentares no 17 de fevereiro. Até lá, não há expectativa de os parisienses e os turistas desfrutarem de limpeza nas ruas de Paris.