Após 40 anos, Battisti admite envolvimento em assassinatos
Segundo procurador-geral de Milão, durante interrogatório na prisão, o terrorista confessou ter sido autor de dois homicídios e mandante de outros dois
O italiano Cesare Battisti admitiu seu envolvimento em quatro assassinatos cometidos nos anos 1970 ao ser interrogado na prisão na Itália no último sábado 23.
Esta é a primeira vez que o terrorista, que foi extraditado ao seu país-natal em janeiro, confessa os crimes pelos quais foi condenado à prisão perpétua. Desde que os homicídios foram cometidos, entre 1978 e 1979, ele alegava inocência e dizia ser vítima de perseguição política.
Battisti foi interrogado na prisão de Oristano, na região da Sardenha, pelo promotor Alberto Nobili e pela titular da unidade antiterrorista de Milão, Cristina Villa.
Segundo o procurador-geral de Milão, Francesco Greco, ele admitiu “suas responsabilidades” em quatro assassinatos, no ferimento de três pessoas e em muitos roubos protagonizados pela organização Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), da qual fez parte nos anos 1970.
Battisti declarou ter matado duas pessoas e ser o mandante de outros dois homicídios, de acordo com o jornal La Repubblica.
“Os quatro assassinatos, os três feridos e uma enxurrada de roubos para autofinanciamento, é verdade. Eu falo das minhas responsabilidades, não vou nomear ninguém” afirmou o ex-militante de extrema esquerda, conforme Nobili declarou à imprensa nesta segunda-feira, 25.
Durante o interrogatório, que durou 9 horas, Battisti também pediu desculpas pela dor causada às famílias das vítimas. “Foi uma guerra justa, mas peço desculpas. Percebo o mal que causei e peço desculpas às famílias das vítimas”, disse.
“Com essa admissão, ele esclarece muitas controvérsias, presta homenagem às autoridades policiais e à magistratura de Milão e reconhece que agiu de maneira brutal”, afirmou Greco.
Até então, o italiano de 64 anos negava envolvimento nos homicídios e se dizia vítima de perseguição política. Foragido, ele foi condenado nos anos 90 à prisão perpétua pelos quatro assassinatos.
Cesare Battisti foi preso em janeiro na Bolívia após 40 anos fora da Itália e extraditado para seu país. Após sua chegada a Roma, ele foi transferido para a prisão de segurança máxima na Sardenha, onde cumpre sua pena.
Pelo Twitter, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que denunciou por anos ” a proteção dada ao terrorista” pelo governo brasileiro, que tratava Battisti como “exilado político”.
“A nova posição do Brasil é um recado ao mundo: não seremos mais o paraíso de bandidos!”, escreveu.
Uma vida de fugas
Battisti foi condenado pela primeira vez na Itália no início da década de 1980. Na época, foi sentenciado a 13 anos de prisão por pertencer ao PAC durante os “anos de chumbo”. Fugiu em 1981.
Acabou sendo julgado à revelia em 1993 e condenado à prisão perpétua por quatro homicídios e por cumplicidade em outros assassinatos no final dos anos 1970.
Viveu por 15 anos no exílio na França, protegido pelo governo socialista de François Mitterrand, onde se tornou um autor de sucesso de romances policiais.
Depois de um período no México, retornou à França, mas, em 2004, viu-se obrigado a sair deste país: os ventos políticos mudaram. Refugiou-se clandestinamente no Brasil, antes de ser preso no Rio de Janeiro em 2007.
Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou sua extradição para a Itália após um longo processo judicial com uma estada na prisão. No último dia de seu mandato, Lula outorgou a Battisti o “status” de refugiado político.
Battisti se casou com uma brasileira, com quem teve um filho em 2013. Em 13 de dezembro passado, o Supremo Tribunal Federal ordenou sua prisão “para ser extraditado”.
A extradição foi assinada no dia seguinte pelo então presidente, Michel Temer, mas as autoridades brasileiras perderam seu rastro.
Por meio da geolocalização de celulares, usados para se conectar às redes sociais, ele foi detectado em Santa Cruz de la Sierra, onde as polícias boliviana e italiana prepararam sua prisão, efetivada em 12 de janeiro.
Ele havia solicitado o “status” de refugiado político na Bolívia, mas o governo de Evo Morales não deu prosseguimento ao pedido.