Austrália pede revisão de bloqueio da Itália à exportação de vacinas
Governo italiano cita escassez de vacinas dentro da União Europeia, assim como atrasos na entrega de insumos por parte de farmacêuticas
O governo da Austrália pediu nesta sexta-feira, 5, que a Comissão Europeia revise a decisão da Itália de bloquear o envio de 250.000 doses da vacina contra a Covid-19 fabricada pela AstraZeneca para o país. A solicitação foi feita um dia após o governo italiano impedir a exportação de vacinas com base nas regras da União Europeia que permitem o controle dessas remessas, citando a escassez de doses para os Estados-membros do bloco europeu.
“A Australia abordou este assunto com a Comissão Europeia através de múltiplos canais e, em especial, pedimos que revise esta decisão”, disse o ministro da Saúde australiano, Greg Hunt, que assegurou que a campanha nacional de vacinação não será afetada.
Na quinta-feira, o governo italiano anunciou a decisão, citando a escassez de vacinas dentro da União Europeia, assim como atrasos na entrega de insumos por parte das farmacêuticas. Assim, a Itália se tornou o primeiro país do bloco a tomar a decisão do tipo desde que Bruxelas aprovou o mecanismo sobre controle de exportações de fármacos produzidos em território comum.
Sob forte pressão devido às dificuldades da AstraZeneca em entregar o número combinado de doses da vacina, a UE divulgou em 28 de janeiro um sistema de monitoramento para exportação do produto produzido em fábricas nos países do bloco. Na época, autoridades disseram se tratar de uma “medida emergencial”, e que não seria dirigida a nenhum laboratório em particular, mas claramente dando aos Estados-membros a capacidade de vetar remessas para fora do bloco.
Para o ministro australiano das Finanças, Simon Birmingham, a decisão explicita “o desespero” que existem em outras partes do mundo, “em comparação com a boa posição que nos encontramos na Austrália”. O país já assegurou 53,8 milhões de doses da AstraZeneca, das quais 3,8 milhões deveriam ser entregues no começo de 2021, enquanto outras 50 milhões seriam produzidas localmente como parte da campanha nacional de vacinação que começou em 21 de fevereiro.
“Na Itália, as pessoas estão morrendo a uma taxa de 300 por dia, então eu certamente consigo entender o alto nível de ansiedade existente em muitos países da Europa”, disse o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, nesta sexta-feira.
A Austrália, que soma 29.000 casos do novo coronavírus, incluindo 909 mortes, espera vacinar toda sua população antes de novembro para reabrir suas fronteiras internacionais. A Itália, por sua vez, soma quase 3 milhões de casos, incluindo 98.974 mortes.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores italiano, Luigi Di Maio, a “posição privilegiada” da Austrália no combate à Covid-19 serve como motivo para impedir a importação.
“É justo que os países da UE bloqueiem a exportação para países que não são vulneráveis”, apontou Di Maio após reunião em Roma com o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian.
Na Itália, 1,52 milhão de pessoas já foram vacinadas, principalmente profissionais de saúde e idosos. Com uma população de cerca de 60 milhões de habitantes, o país já aplicou 4,8 milhões de doses no total