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Ativista LGBT é alvo de ameaças após discurso histórico no Parlamento

Parlamentares chegaram a pedir que Lilit Martirosyan, a primeira mulher a conseguir registro como transexual na Armênia, fosse queimada viva

Por Da Redação
Atualizado em 26 abr 2019, 17h08 - Publicado em 26 abr 2019, 17h01
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  • A primeira mulher transgênero registrada na Armênia recebeu ameaças de morte depois de um discurso histórico na Assembleia Nacional do país. Lilit Martirosyan foi a primeira representante LGBT do país a ter voz no palanque do Parlamento, falando contra a discriminação à comunidade em uma sessão do comitê de direitos humanos.

    Martirosyan manifestou sua solidariedade com a comunidade que, segundo ela, tem sido “torturada, estuprada, sequestrada, queimada, esfaqueada, alvo de violência física, tentativas de homicídio, emigração e roubos.” Ela ainda destacou que pessoas transgênero na Armênia sofrem com o “estigma e a discriminação nas áreas social, jurídica, econômica e médica, sendo deixadas desempregadas, pobres e moralmente abandonadas.”

    A ativista vem recebendo ameaças desde que fez o discurso, há duas semanas. Ataques verbais de alguns dos parlamentares incluíram pedidos para que Martirosyan fosse queimada viva. Grupos anti-LGBT organizaram protestos em frente à Assembleia Nacional .

    Na Armênia, a homossexualidade não é mais crime, mas a discriminação contra pessoas LGBT continua frequente. O primeiro-ministro do país, Nikol Pashinian, e o líder da oposição tentam se esquivar da responsabilidade pelo convite à mulher transgênero, querendo agradar os eleitores conservadores.

    “Um homem transfóbico com uma faca veio à Assembleia Nacional para dizer que me mataria e que outros como eu deveriam ser mortos também. Recebi inúmeras mensagens por e-mail e no Facebook, de várias pessoas, afirmando que iriam me encontrar e me matar”, disse Martirosyan ao jornal britânico The Guardian.

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    “Mas na Armênia pós-revolucionária o ódio não tem lugar”, afirmou a ativista, se referindo aos protestos populares do ano passado, liderados por Pashinian. À época, a oposição acusava o então primeiro-ministro, Serj Sargsian, de ter reformado o sistema político do país apenas para se perpetuar no poder, transformando a Armênia em uma república parlamentar.

    Sargsian renunciou ao cargo em abril do ano passado e o líder oposicionista foi eleito primeiro-ministro no mês seguinte, apesar da rejeição da Assembleia Nacional, controlada pelo Partido Republicano armênio.

    Uma tentativa de impugnar a candidatura dele levou milhares de seus apoiadores de volta às ruas da capital, Yerevan. Com o recuo dos republicanos, o opositor, único candidato na disputa, recebeu o apoio de 59 deputados, superando a marca de 53 que precisaria para ser eleito, e prometeu “grandes mudanças” no governo armênio.

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    Ainda segundo Martirosyan, foram vazados os endereços de vários funcionários da Right Side, a organização pelos direitos trans fundada por ela em 2016. O endereço da própria ativista também foi espalhado pela internet por grupos extremistas que ameaçaram matá-la. Além disso, nacionalistas também se reuniram em frente à casa dela empunhando bandeiras do país.

    “Nós acreditávamos que nossos direitos seriam protegidos na nova Armênia”, disse Martirosyan em sua fala no Parlamento, explicando o motivo de ela e muitas de suas colegas apoiarem o movimento do atual primeiro-ministro.

    No ano passado, em uma das manifestações contra o governo, vários ativistas da comunidade LGBT foram atacados. Alguns ficaram feridos depois de serem atingidos por pedras. Hayk Hakobian, criador da Rainbow Armenia Initiative, outra ONG pelos direitos LGBT, estava entre eles.

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    Ele deixou o país e busca asilo político na Holanda. “Deixei a Armênia porque fui atacado e expulso de casa. Deixei a Armênia porque não existe justiça no meu país”, contou Hakobian ao Guardian. Para ele, não houve nenhuma evolução para a comunidade LGBT desde que Pashinian assumiu o poder.

    “Estamos preocupados com a ascensão recente dos discursos de ódio e ameaças contra os direitos humanos e os ativistas LGBT”, declarou o escritório das Nações Unidas na Armênia. “Nem as ameaças, nem qualquer forma de discriminação contra qualquer grupo ou indivíduo pode ser tolerada”, disse, em nota.

    A União Europeia apoiou a posição da ONU, afirmando que “o discurso de ódio, incluindo as ameaças de morte direcionadas a Lilit Martirosyan, seus colegas e a comunidade LGBT como um todo, equivalem à discriminação proibida pela convenção europeia sobre direitos humanos, da qual a Armênia é aliada, e que está presente também na constituição armênia.”

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    Martirosyan foi a primeira armênia a conseguir um passaporte com seu novo nome social, em 2015. Ao Parlamento, ela detalhou que no ano passado foram registrados pelo menos 283 crimes de ódio contra pessoas transgênero. “Para mim, isso quer dizer que existem 283 criminosos vivendo na Armênia, ao nosso lado. E, quem sabe, talvez o criminoso 284 irá cometer seu crime já amanhã.”

     

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