Ataque do Hezbollah fere israelenses e guerra ameaça adentrar Beirute
Dois soldados ficam feridos por mísseis da organização xiita do Líbano, um dia depois de Israel matar uma liderança do Hamas na capital da nação vizinha
As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram nesta quarta-feira, 3, que dois soldados israelenses ficaram feridos devido a um ataque do grupo xiita libanês Hezbollah, aliado do Hamas e do Irã, e também o mais poderoso ator militar no Líbano. O lançamento de mísseis antitanque contra a fronteira norte de Israel ocorreu um dia após Tel Aviv matar o número dois da ala política do Hamas, em Beirute, ameaçando levar a guerra em Gaza ao território libanês.
Desde o início da guerra, as forças israelenses afirmam estar em alerta máximo para eventuais retaliações partindo do Líbano. Além disso, há uma crise de segurança com ataques dos rebeldes houthis do Iêmen, também pró-Hamas e Irã, no Mar Vermelho contra embarcações que aportam em Israel, bem como ataques de drones vindos de milícias sírias e renovados conflitos no norte e na Cisjordânia.
Todos esses elementos aumentam os temores de que o conflito em Gaza transborde e torne-se uma guerra regional mais ampla, algo que os principais aliados de Israel – os Estados Unidos – não desejam.
O assassinato
O número dois da ala política do grupo militante palestino Hamas, Saleh al-Arouri, morreu na terça-feira 2 após um ataque israelense com drone em Beirute, segundo a agência de notícias Reuters. Israel não negou nem confirmou o ataque, mas Mark Regev, um conselheiro do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, disse à rede americana MSNBC que “quem fez, precisa ser claro: este não é um ataque ao Estado libanês”.
Acusado por Israel e pelos Estados Unidos de financiar e supervisionar operações militares do Hamas na Cisjordânia ocupada, al-Arouri, de 58 anos, era cofundador da ala militar do Hamas, as Brigadas Izzedine Al-Qassam.
O primeiro-ministro interino do Líbano, Najib Mikati, condenou a explosão como um “novo crime israelense” e disse se tratar de uma tentativa de levar o Líbano à guerra.
A região de Dahiyeh, na capital libanesa, também tem forte presença do Hezbollah, uma organização muçulmana xiita designada como organização terrorista por países ocidentais, por Israel, pelos países do Golfo Árabe e pela Liga Árabe. Financiada pelo Irã, é uma das forças militares não estatais mais fortemente armadas do mundo.
Pouco antes da virada do ano, o ministro sênior israelense Benny Gantz, membro do gabinete emergencial montado para a guerra, afirmou que a situação da fronteira do país com o Líbano “precisa mudar”, indicando a possibilidade de uma escalada militar com o grupo armado Hezbollah.
A repórteres, Gantz disse que a chance de uma solução diplomática para as disputas entre Israel e grupos armados no sul do Líbano está se afastando cada vez mais.
“A situação na fronteira norte de Israel precisa mudar”, disse Gantz em entrevista coletiva. “O cronômetro para uma solução diplomática está se esgotando, se o mundo e o governo libanês não agirem para impedir os disparos contra os residentes do norte de Israel e para distanciar o Hezbollah da fronteira, os [militares israelenses] farão isso”.
Guerra recente
Em 2006, uma guerra em larga escala entre o Hezbollah e Israel foi desencadeada quando o Hezbollah realizou um ataque mortal através da fronteira e tropas israelenses invadiram o sul do Líbano.
Israel e o Hezbollah, juntamente com um punhado de grupos armados menores que operam no sul do Líbano, trocam ataques bélicos desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, grupo militante palestino que controla a Faixa de Gaza que lançou um ataque ao sul de Israel que deixou mais de 1.100 mortos.
Desde então, Israel tem bombardeado Gaza numa campanha que já deixou mais de 21 mil mortos e deslocou quase todos os seus 2,3 milhões de residentes.
Dezenas de milhares de pessoas em Israel e no Líbano também foram deslocadas, e mais de 150 pessoas, a maioria delas combatentes do Hezbollah, foram mortas no lado libanês desde o início dos intercâmbios, segundo um cálculo da agência de notícias AFP. O número inclui 20 civis, incluindo três jornalistas, disse a agência.