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O duro ataque do chanceler israelense a Lula: ‘Cuspiu no rosto dos judeus’

Israel Katz, ministro das Relações Exteriores de Israel, cobrou pedido de desculpas do petista por fala em que comparou ação militar em Gaza ao Holocausto

Por Amanda Péchy
Atualizado em 7 Maio 2024, 17h09 - Publicado em 20 fev 2024, 12h10

O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, elevou o tom da briga diplomática com o Brasil nesta terça-feira, 20, ao fazer nova cobrança para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se retrate por uma fala em que comparou as ações militares de Israel contra os palestinos em Gaza ao Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler. O chanceler disse que a declaração do petista foi “promíscua, delirante”, além de “um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”.

Milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler?”, escreveu Katz no X, antigo Twitter. 

O ministro frisou as diferenças entre as atrocidades cometidas durante a era Hitler na Alemanha e a guerra que corre em Gaza desde 7 de outubro do ano passado, quando o grupo terrorista palestino Hamas invadiu comunidades do sul de Israel e matou brutalmente cerca de 1.200 pessoas. Segundo ele, Tel Aviv “embarcou numa guerra defensiva contra os novos nazistas que assassinaram qualquer judeu que viam pela frente”. Até agora, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, 29.000 palestinos foram mortos no conflito.

[Hitler] Levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente”, descreveu. “Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel.”

Segundo ele, a fala de Lula foi uma “vergonha” e garantiu que, até que retirasse o que disse, continuaria sendo persona non grata em Israel.

“Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”, afirmou Katz. “Ainda não é tarde para aprender história e pedir desculpas. Até então, continuará sendo persona non grata em Israel!”

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Briga diplomática

O Itamaraty disse a VEJA na segunda-feira 19 que o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, será chamado de volta a Brasília pelo governo Lula. A medida ocorreu após Meyer ser convocado por autoridades em Tel Aviv para dar explicações sobre a declaração do petista.

A desocupação do posto em Tel Aviv tem objetivo de fazer “consultas” com o atual embaixador, segundo um funcionário ligado à diplomacia brasileira disse a VEJA, mas sugere um agravamento do impasse diplomático entre Brasil e Israel, já recheado de tensão.

O Itamaraty também anunciou na segunda-feira que convocou o embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, para comparecer a uma reunião com o chanceler Mauro Vieira.

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“Diante da gravidade das declarações desta manhã do governo de Israel, o ministro Mauro Vieira, que está no Rio de Janeiro para a reunião do G20, convocou o embaixador israelense Daniel Zonshine para que compareça hoje [segunda-feira 19] ao Palácio Itamaraty, no Rio. E chamou para consultas o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, que embarca para o Brasil amanhã [terça-feira, 20]“, disse um comunicado.

Persona non grata

Também na segunda-feira, o governo israelense declarou o presidente Lula persona non grata. Katz, que já havia convocado Meyer para uma reprimenda, emitiu um comunicado em que caracterizou a declaração do petista como “antissemita”.

“Não esqueceremos nem perdoaremos. É um ataque antissemita grave. Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, diga ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que retire o que disse”, afirmou Katz.

O chanceler israelense escolheu o museu do Holocausto chamado Yad Vashem como cenário incomum do encontro com Frederico Meyer para a “repreensão”, uma etapa do balé diplomático geralmente confinada às Chancelarias, que acabou virando a declaração de persona non grata. Ele mostrou o nome de seus avós no livro das vítimas, a infindável compilação dos que morreram de tantas formas diferentes.

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Discurso polêmico

Lula fez essa declaração durante entrevistas a jornalistas no hotel onde estava hospedado em Adis Abeba, a capital da Etiópia. Lá, o presidente cumpriu seu último dia de compromissos oficiais na África. Lula discursou durante a abertura da cúpula da União Africana. “Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro.

As declarações do petista também provocaram reação do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Ele usou as redes sociais para endossar a convocação do embaixador do Brasil em Tel Aviv. “Comparar Israel ao Holocausto nazista de Hitler é cruzar a linha vermelha”, escreveu o primeiro-ministro.

+ Netanyahu já se envolveu em polêmica por declarações sobre Holocausto

Reação no Brasil

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) emitiu uma nota na qual condenou a comparação feita por Lula. Para a entidade, o governo tem adotado uma postura desequilibrada sobre esse assunto e pediu moderação às autoridades. A Federação Israelita do Estado de São Paulo também criticou Lula. “Comparar a legítima defesa do Estado de Israel contra um grupo terrorista que não mede esforços para assassinar israelenses e judeus com a indústria da morte de Hitler é de uma maldade sem fim”, diz o texto.

Israel representa cerca de 0,4% da corrente de comércio com o Brasil. No ano passado, as exportações do Brasil para Israel, entre janeiro e setembro, somaram 570 milhões de dólares, enquanto as importações alcançaram 1,068 bilhão de dólares.

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