As promessas que Trump quer colocar em prática assim que voltar à Casa Branca
Muitas das políticas seguem na direção contrária às implementadas por Joe Biden e sua vice, Kamala Harris, candidata democrata derrotada nas eleições
Ainda durante a corrida à Casa Branca, Donald Trump fez uma série de promessas para conquistar o polarizado eleitorado dos Estados Unidos. Muitas delas, inclusive, seguem na direção contrária às políticas implementadas por Joe Biden, atual mandatário, e sua vice, Kamala Harris, candidata democrata derrotada nas eleições realizadas na última terça-feira, 5.
Imigração e aborto foram temas quentes na disputa entre Trump e Kamala, mas o que tomou protagonismo foi a economia. Apesar de melhoras na inflação e no aumento do emprego na iniciativa privada, os americanos não sentiram o alívio no bolso — o que, segundo analistas, teria levado a população a dar uma segunda chance ao republicano, que seria visto por alguns como o único capaz a colocar o país de volta aos trilhos, ainda que suas propostas sejam mais custosas aos cofres públicos. É uma lógica de rompimento com o status quo, ou melhor, com Biden e Harris.
Por mais que seja conhecido pelo tom firme e pelo conservadorismo, Trump também é famoso pela imprevisibilidade. Resta ver se suas promessas, algumas controversas, sairão do papel. Veja abaixo seis das propostas do republicano para o seu retorno ao governo dos EUA:
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Inflação e impostos
Em campanha, Trump fez promessas de “acabar com a inflação”, embora o presidente detenha de poder limitado para colocar o plano em prática. Cortes de impostos, incluindo o fim de taxas sobre pagamentos de previdência e sobre gorjetas, também fazem parte dos seus planos. A ideia é ampliar a reforma fiscal de 2017, que reduzia de 35% para 20% os impostos pagos por grandes empresas.
Em contrapartida, os projetos de oferecer incentivos fiscais às corporações podem aumentar o déficit fiscal americano, o que, em consequência, pressionaria a inflação. Além disso, ele disse que aplicaria tarifas de 10% em grande parte dos produtos estrangeiros, taxa que poderia chegar a 60% em importações da China.
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Deportação de imigrantes
Imigrantes ilegais, que entram aos montes pela fronteira com o México, também entraram no circuito das críticas da extrema direita, encabeçada por Trump. Daí o surgimento de uma das maiores fake news da corrida eleitoral: imigrantes haitianos estariam comendo animais de estimação em Ohio. O empresário também afirmou que imigrantes que chegavam aos EUA, com aval democrata, eram criminosos e fugitivos de manicômios.
Na campanha, ele prometeu colocar em prática deportações em massa de imigrantes sem documentos e concluir a construção do muro na divisa mexicana. Em entrevista à revista americana TIME, Trump também disse que se a situação saísse “do controle”, “não teria problema em usar o exército” contra os indocumentados, acrescentando: “Temos que ter segurança em nosso país”.
“Usaremos a polícia local. E começaremos, com certeza, com os criminosos que estão chegando. E eles estão chegando em números que nunca vimos antes. E temos uma nova categoria de crime. É chamado de crime migrante. É, ugh, você vê isso o tempo todo. Você vê isso na cidade de Nova York, onde eles estão tendo brigas com a polícia. E muito pior do que isso”, disse ele na ocasião.
Descrença na mudança climática
Investir nas questões climáticas é, na opinião de Trump, “desperdiçar o dinheiro público”. No primeiro mandato, revogou 100 normas que de alguma forma diminuíam a emissão de gás do efeito estufa e anunciou a saída do Acordo de Paris, sob a justificativa de que precisava de um “melhor acordo”.
De volta à Casa Branca, ele deseja continuar com cortes às regulamentações e romper com as metas de Biden para carros elétricos, mais limpos do que aqueles movidos à combustíveis fósseis. Ele, inclusive, quer “perfurar, perfurar e perfurar” em busca de petróleo, impulsionar a produção de combustíveis e fortalecer a indústria do carvão. Os americanos são historicamente os maiores emissores de gases do efeito estufa.
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Perdão por invasão ao Capitólio
Ele disse que “libertará” alguns dos condenados pela invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, apesar de ter afirmado que “alguns deles, provavelmente, perderam o controle”. Na ocasião, seus apoiadores invadiram o Congresso na tentativa de barrar a vitória de Joe Biden. Cinco pessoas morreram. O republicano passou anos fazendo falsas alegações de que perdeu a eleição de 2020 devido a uma fraude eleitoral.
Ele alega que muitos deles foram “injustamente presos”. E não parou por aí: em outubro, o então ex-presidente chamou a invasão como o “dia do amor” ao ser questionado sobre os eventos daquele dia durante um evento de campanha. Ele também minimizou a gravidade da situação, insistindo que não havia armas entre seus seguidores.
Fim da guerra na Ucrânia
O ex-presidente assumiu um tom crítico sobre a torrente de dinheiro gasta na guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022. Ainda neste ano, o Congresso americano aprovou um projeto de lei de 95,34 bilhões de dólares (cerca de 470 bilhões de reais na cotação da época) que prevê ajuda para Israel, Ucrânia e Taiwan.
Ele prometeu colocar um ponto final na guerra “dentro de 24 horas” ao retomar o comando dos EUA, por meio de um acordo. Os democratas, grandes aliados de Kiev, dizem que a falta de apoio às demandas ucranianas para o fim do confronto beneficia os planos do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
A ideia do republicano é, sobretudo, afastar os Estados Unidos de problemas da política externa. Apesar disso, Trump mostrou-se um assíduo apoiador de Israel, em guerra contra o grupo palestino radical Hamas desde outubro do ano passado. Ao mesmo tempo, disse que trabalharia para um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Questão do aborto
Em 2022, a maioria conservadora da Suprema Corte, que inclui três indicados pelo magnata, reverteu a famosa decisão judicial Roe vs Wade, que garantia proteções constitucionais para o aborto legal há quase 50 anos. Com o fim da decisão, uma gama de estados restringiu ou proibiu o acesso ao procedimento de interrupção da gravidez.
A anulação, condenada pelos progressistas e exaltada pelos conservadores, tornou-se um dos motes de campanha de Kamala. Para atrair a ala feminina e contrariar a rival, que dizia que Trump representava uma ameaça aos direitos reprodutivos, o republicano afirmou no primeiro e único debate contra Harris que não baniria o aborto através de uma lei nacional. No entanto, ao longo da campanha, ele defendeu a liberdade dos estados para definirem suas leis.