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Raiva, choro e ressaca: o clima no campus de Kamala

Na Universidade Howard, onde a vice-presidente estudou, muitos estudantes ainda tentam entender a derrota democrata

Por Ricardo Ferraz, de Washington DC
7 nov 2024, 17h27

Há algo de melancólico no campus da Universidade Howard na tarde desta quinta-feira, 7. Em plena hora do almoço, o refeitório está vazio e as rodas de conversa entre os estudantes estão desanimadas e silenciosas. Muitos professores cancelaram as aulas. “Não vou mentir pra você, tá todo mundo desanimado”, diz Kheela Dubois, 19 anos, estudante que veio de Camarões e ainda tenta se adaptar ao primeiro ano do curso de Direito.

O motivo de tanta apatia não poderia ser outro: a vice-presidente e ex-estudante de Howard, Kamala Harris, perdeu a eleição para Donald Trump. “Chorei a noite toda, foi muito triste estou muito desapontada e preocupada com o futuro do país”, revela Azariah Providence, 18 anos.

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“Chorei a noite toda, foi muito triste estou muito desapontada e preocupada com o futuro do país”, revela Azariah Providence, 18 anos (Ricardo Ferraz/VEJA)

Kamala escolheu a universidade onde se formou em ciência política, conhecida como a Harvard negra, pela forte presença de estudantes dessa comunidade, para acompanhar a noite de apuração. A festa, acompanhada em parte por VEJA, começou animada, com muita dança e estudantes comemorando cada vez que o nome de Harris entrava no telão com os primeiros resultados. Aos poucos, porém, a excitação deu lugar à surpresa e à apatia.

Alguns sinais da noite ainda podem ser vistos no campus, com cartazes pró-Harris amontoados em um canto e um enorme coração feito de flores de papel crepom abandonado no corredor do prédio da faculdade de ciência política.

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“Bem-vinda à casa, VP Kamala Harris – Howard te ama”, diz mensagem colocada na universidade (Ricardo Ferraz/VEJA)

Muitas teorias têm sido aventadas para explicar a derrota democrata. Entre os estudantes a mais aceita é a de que os Estados Unidos não estão prontos para ter uma mulher negra na Casa Branca.

“Em 2027 Hillary Clinton perdeu pra Trump, se uma mulher branca não conseguiu ganhar, as chances de uma mulher negra com ascendência do sul da Ásia vencer eram mínimas”, defende Kamrin Wyggis, 19 anos, estudante de criminologia, que conta ter ficado com muita raiva do resultado.

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Kamrin Wyggis, 19 anos, estudante de criminologia, conta ter ficado com muita raiva do resultado da eleição presidencial (Ricardo Ferraz/VEJA)

Muitos estudantes de outros cantos dos EUA voltaram pra suas casas pra votar. É o caso de Collin Howard, nascido na da Carolina do Norte, um dos sete estados-pêndulo que poderiam decidir a disputa e que foram todos conquistados por Trump. “O norte é mais progressista, mas o resto do país ainda não pensa da mesma maneira”, diz o jovem de 18 anos, que estuda finanças.

Há certo espanto no campus, principalmente entre os estudantes homens, quanto ao fato de Trump ter avançado no voto entre pessoas do sexo masculino na comunidade negra. O republicano avançou 5% nesse eleitorado.

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“Pessoalmente eu não consigo votar em uma pessoa que tem esse tipo de valores morais. Acho que as pessoas estão mais em sentimentos despertados pela campanha ligados à economia do que ao que os perigos que um novo governo Trump pode significar para homens e mulheres negros” , diz Malach McMilan, 18 anos, estudante do curso de performance humana.

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Malach McMilan, 18 anos, estudante do curso de performance humana (Ricardo Ferraz/VEJA)
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