Militante da linha do populismo autoritário, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, pôs em prática nas prisões do país o exato oposto do que prega o combate ao novo coronavírus: amontoou os detentos nos pátios, em situação de máxima aglomeração social. As penitenciárias salvadorenhas, em estado de emergência, suspenderam o banho de sol dos presos e deram a seus agentes a permissão de atirar contra amotinados para tentar conter a recente escalada de assassinatos dentro delas — na sexta-feira 24, foram registradas 24 mortes, um recorde. Eleito no ano passado depois de uma campanha calcada na luta contra o crime, Bukele tem como alvo principal o desmantelamento das maras, como são conhecidas as gangues que aterrorizam os 6,4 milhões de salvadorenhos. Calcula-se que só as duas maiores, Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18, tenham cerca de 60 000 membros. Segundo o Banco Mundial, a taxa de homicídios de El Salvador é de 62 por 100 000 habitantes, a mais alta do planeta (a do Brasil, também vergonhosa, é de 31 por 100 000). A atuação mais firme do governo resultou em uma queda de 40% nos crimes violentos, em comparação a 2015, e em pontos para Bukele, que é aprovado por 88% da população. Com a decretação de emergência nas cadeias, “os contatos com o mundo exterior estão proibidos, a venda de produtos foi suspensa e todas as atividades interrompidas até segunda ordem”, anunciou o presidente no Twitter. E acrescentou: “Líderes de gangues foram postos em regime de solitária”. Sorte deles.
Publicado em VEJA de 6 de maio de 2020, edição nº 2685