Armas prometidas estão quebradas ou não chegam à Ucrânia, diz governo
Contratos não cumpridos por empresas estatais do país e o envio de equipamentos precários pelos aliados ocidentais dificultam o desenrolar da contraofensiva
Uma investigação do jornal americano The New York Times revelou, na segunda-feira 19, que muitos dos armamentos prometidos por potências ocidentais à Ucrânia estão em péssimas condições, ou sequer chegam ao seu destino final. A situação é preocupante, já que Kiev iniciou uma contraofensiva para retomar o controle do território perdido para as tropas russas desde o início da guerra.
O Times teve acesso a documentos referentes a 2022 da administração do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que indicam que seu país pagou mais de US$ 800 milhões (cerca de R$ 3,8 bilhões) para fornecedores a partir da invasão russa. Os contratos, no entanto, não teriam sido cumpridos por completo, deixando um rombo no arsenal do país.
Apesar de alguns equipamentos terem sido entregues, parte do valor destinado à compra teria sido embolsado por corretores.
Em meio aos preparos para a contraofensiva que, de acordo com análises independentes, teria começado no início deste mês, o governo ucraniano teria investido centenas de milhões de dólares na compra de armas, incluindo negociações com empresas estatais. No entanto, segundo os documentos, não recebeu o conteúdo completo.
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“Tivemos casos em que pagamos dinheiro e não recebemos”, disse Volodymyr Havrylov, vice-ministro da Defesa, em uma entrevista recente.
Nos últimos meses, o Ministério da Defesa da Ucrânia processou ao menos duas dessas empresas estatais por não cumprirem com os acordos, ao passo que Kiev comunicou que faria reformas nessas instituições para que fossem mais eficientes.
Prometendo apoio na luta contra Putin, países ocidentais também adquiriram equipamentos bélicos para o país invadido. Só na semana passada, os Estados Unidos destinaram US$ 40 bilhões (R$ 191,6 bilhões) em apoio militar, humanitário e financeiro para Kiev. A ação americana foi acompanhada, ainda, por mais dezenas de bilhões dos países europeus.
Mesmo com o intenso despacho de dispositivos modernos, como os sistemas de defesa aérea americanos, parte dos armamentos enviados precisavam de manutenções e revisões externas. Como consequência, cerca de 30% do arsenal ucraniano está em reparos, um índice considerado alto.
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Entre as remessas que com problemas estão 33 obuses autopropulsados, um tipo de canhão, que foram doados pela Itália. Vídeos registram o momento em que um dos maquinários começa a liberar fumaça, enquanto outro apresenta um vazamento.
Em resposta, o Ministério da Defesa italiano alegou que Kiev pediu que os equipamentos fossem enviados mesmo com defeito, “para serem revisados e colocados em operação, dada a necessidade urgente de meios para enfrentar a agressão russa”.
Ainda de acordo com documentos do governo, o Ministério da Defesa do país pagou US$ 19,8 milhões (R$ 94,8 milhões) a uma empresa de armas americana, a Ultra Defense Corporation, para reparar os 33 obuses. Em janeiro, 13 desses dispositivos retornaram aos soldados ucranianos, mas em estados “inadequados para missões de combate”.
A corporação nega as acusações e afirma que “todos funcionaram” antes de chegarem em solo ucraniano. O incidente é investigado pelo Pentágono, segundo o Times.
Autoridades ucranianas, contudo, têm evitado expressar descontentamento com o envio de armamentos precários, em um tenso jogo de cintura para não constranger seus doadores.
“Houve problemas de qualidade para alguns dos obuses, mas temos que ter em mente que foi um presente”, disse Havrylov.