Argentina e Uruguai seguem EUA e reconhecem González presidente da Venezuela
Costa Rica e Equador também rejeitaram vitória do presidente Nicolás Maduro; oposição e comunidade internacional demandam divulgação das atas eleitorais

A Argentina, Uruguai, Equador e Costa Rica seguiram os passos dos Estados Unidos e reconheceram nesta sexta-feira, 2, Edmundo González Urrutia, candidato que a oposição diz ter vencido o presidente Nicolás Maduro no pleito do último domingo, como presidente eleito da Venezuela. A legitimação ocorre em meio à instabilidade em Caracas, à medida que a oposição, parte da comunidade internacional e apoiadores de González demandam a publicação das atas eleitorais para comprovar o suposto triunfo do regime chavista.
Ambos os governos já haviam rejeitado os resultados divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão federal controlado pela ditadura, que proclamou a reeleição do líder venezuelano. Logo no início desta semana, o presidente da Argentina, Javier Milei, pediu que Maduro deixe a Presidência da República, acrescentando que “os dados apontam uma vitória acachapante da oposição e o mundo espera o reconhecimento desta derrota depois de anos de socialismo, miséria, decadência e morte”.
O anúncio de reconhecimento pela ministra das Relações Exteriores argentina, Diana Mondino, tirou todas as dúvidas sobre o posicionamento do país. No X, antigo Twitter, ela citou as altas publicadas pela oposição e disse que, por meio delas, “todos podemos confirmar, sem nenhuma dúvida, que o legítimo ganhador e presidente eleito é Edmundo González”. A postagem foi replicada por Milei.
https://twitter.com/DianaMondino/status/1819371151279210802
Poucas horas depois, foi a vez do Uruguai. Também através do ministro das Relações Exteriores do país, Omar Paganini, o governo uruguaio afirmou que “com base na evidência esmagadora, está claro para o Uruguai que Edmundo González Urrutia obteve a maioria dos votos na eleição presidencial venezuelana. Esperamos que a vontade do povo venezuelano seja respeitada. ‘A verdade é o caminho da paz’.”
https://twitter.com/OmarPaganini/status/1819393067008303384
Por sua vez, o presidente do Equador, Daniel Noboa, disse que González era o vencedor “legítimo” e alegou que a “antiga política tentava, com fraudes e irregularidades, usurpar o resultado real do processo de escrutínio.” Ele apelou à “comunidade internacional para que respeite o sacrifício venezuelano e se junte a este esforço para proteger a verdadeira decisão deste país de ser novamente livre”.
https://x.com/Presidencia_Ec/status/1819434073703493827
A chancelaria costarriquenha se juntou ao coro. Em comunicado, afirmou que “está claro que para a Costa Rica que Nicolás Maduro não recebeu a maioria dos votos dos venezuelanos, por isso, refutamos a proclamação fraudulenta de que ganhou as eleições, sendo indiscutível que Edmundo González recebeu o apoio majoritário do povo venezuelano, cuja vontade soberana deve ser respeitada”.
https://x.com/CRcancilleria/status/1819428600858231055
+ Secretário de Estado dos EUA diz que rival de Maduro venceu eleição na Venezuela
Estados Unidos à frente
Na noite de quinta-feira, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, foi o primeiro a consagrar a conquista de González. Em nota divulgada à imprensa, Blinken disse que “está claro para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano, que Edmundo González Urrutia ganhou a maioria dos votos”.
Ele classificou como “uma tentativa antidemocrática de reprimir a participação política e manter o poder” as ameaças de Maduro de prender opositores como González e María Corina Machado. O secretário também defendeu que “os venezuelanos presos enquanto exercem pacificamente seu direito de participar do processo eleitoral ou exigem transparência na contagem e anúncio dos resultados devem ser libertados imediatamente”.
Além disso, o chefe da diplomacia americana ponderou que os partidos devem iniciar “discussões sobre uma transição respeitosa e pacífica de acordo com a lei eleitoral venezuelana e os desejos do povo venezuelano” e destacou que os Estados Unidos apoiam “totalmente o processo de restabelecimento das normas democráticas na Venezuela e estamos prontos para considerar maneiras de reforçá-lo em conjunto com nossos parceiros internacionais”.
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Críticas do México
A decisão dos Estados Unidos foi criticada nesta sexta-feira pelo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, durante coletiva de imprensa que realiza diariamente no Palácio Nacional. Ele definiu a determinação do Departamento de Estado americano como “um excesso”.
“Peço desculpas a Blinken, mas isso não lhes corresponde, estão se excedendo. Não ajuda na convivência pacífica e harmoniosa entre as nações. É uma imprudência”, opinou Obrador. “Onde estão a lei, o direito internacional? Quem autoriza [Blinken], se ainda não apareceram as atas? O reconhecimento não é dado por um país estrangeiro, mas pela soberania de um povo.”
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Por que a oposição contesta o resultado?
Na madrugada de segunda-feira, o CNE apontou vitória de Maduro com 51% dos votos, contra 44% de Edmundo González, que substituiu María Corina Machado, vencedora das primárias da oposição, após ser inabilitada pelo regime chavista.
Em contraste, levantamentos de boca de urna sugeriram que o rival de Maduro teria vencido o pleito com 65% de apoio, contra apenas 31% do líder bolivariano. Uma projeção da oposição com base em 80% dos boletins de urna que conseguiram obter mostrou resultado semelhante. O principal ponto de questionamento da oposição e da comunidade internacional é que o regime não divulgou os resultados na totalidade, sem a publicação das atas das zonas eleitorais – relatórios que reúnem informações de cada centro de votação.