Arábia Saudita dá nova versão sobre morte de jornalista
Segundo ministro saudita, jornalista foi assassinado em uma operação clandestina sem o conhecimento do governo de Riad
A Arábia Saudita afirmou neste domingo (21) que o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado do país em Istambul foi um “erro enorme e grave”, cometido por uma “operação clandestina”.
Khashoggi, de 59 anos, desapareceu em 2 de outubro, depois de entrar no consulado saudita em Istambul, na Turquia, para obter documentos para se casar. O jornalista era grande crítico do governo da Arábia Saudita, especialmente do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
Segundo o ministro de Relações Exteriores saudita, Adel al-Jubeir, a morte de Khashoggi foi planejada por uma operação não autorizada pelo governo na qual “indivíduos acabaram excedendo a autoridade e as responsabilidades que tinham”.
“Eles cometeram um erro quando mataram Jamal Khashoggi no consulado e tentaram acobertar”, afirmou al-Jubeir em uma entrevista à emissora americana Fox News.
Os comentários do ministro saudita foram os mais diretos já feitos por Riad até agora. Logo após o desaparecimento, o governo saudita negou a morte do jornalista e afirmou que ele havia deixado o consulado vivo.
Após grande pressão internacional, no sábado (20) Riad disse que o jornalista morreu durante uma briga no edifício. Uma hora mais tarde outra autoridade saudita atribuiu sua morte a uma chave de braço.
“Esse é um terrível erro. É uma terrível tragédia. As nossas condolências estão com eles. Sentimos sua dor. Infelizmente, um grave erro foi cometido e eu garanto que os responsáveis pagarão por isso”, disse Adel al-Jubeir neste domingo, alterando as versões apresentadas anteriormente.
Jubeir confirmou que uma “equipe de segurança saudita” se aproximou de Khashoggi quando ele entrou no consulado.
“Ele foi morto no consulado. Não sabemos como. Não sabemos onde está o corpo. Estamos determinados a descobrir cada detalhe. Estamos determinados a punir os responsáveis deste assassinato”, afirmou.
Ele qualificou a ação contra o jornalista saudita de “operação secreta” e uma “aberração”, mas negou que o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, tivesse envolvimento ou conhecesse o caso.
O príncipe enviou condolências em seu nome e em nome de seu pai, o rei Salman bin Abdul Aziz al Saud, a Saleh Khashoggi, filho de Jamal Khashoggi.
A Turquia decidiu colocar a noiva do jornalista, Hatice Cengiz, sob proteção policial. As forças de segurança vão vigiar Cengiz 24 horas por dia. Ela é turca e residente em Istambul, onde está fazendo seu doutorado.
Pressão internacional
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e seu colega dos Estados Unidos, Donald Trump, conversaram por telefone na noite deste domingo sobre o caso. “Ambos concordaram que todos os detalhes do caso de Jamal Khashoggi devem ser esclarecidos”, afirmou a Presidência turca em comunicado.
Erdogan já afirmou que revelará “detalhes” sobre a investigação turca da morte do jornalista saudita na terça-feira (23).
Reino Unido, França e Alemanha afirmaram que a versão que a Arábia Saudita forneceu sobre a morte do jornalista precisa se respaldada por fatos para ser crível.
“Ainda existe a necessidade urgente do esclarecimento do que ocorreu exatamente em 2 de outubro, além das hipóteses colocadas até agora pela investigação saudita”, afirmaram as nações em nota conjunta.
Os três governos afirmam que a “qualidade e importância” de sua relação com a Arábia Saudita é baseada no respeito às “normas e valores” internacionais que todos os países devem cumprir.
Também em resposta ao assassinato de Khashoggi, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, anunciou a suspensão da venda de armas para a Arábia Saudita.
“As exportações de armas não podem acontecer no momento em que estamos”, disse Merkel, em Berlim, após uma reunião com integrantes do seu partido, a União Democrata-cristã (CDU). A chanceler afirmou ainda que a Alemanha discutirá mais “reações” ao caso com seus parceiros internacionais.
Já o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, afirmou que a explicação da Arábia Saudita sobre o assassinato do jornalista foi um “bom primeiro passo, mas não é o suficiente”.
O governo americano, que parecia colocar panos quentes no caso do desaparecimento, tem se mostrado determinado a repreender o assassinato que despertou indignação global nos últimos dias. Ainda assim, o posicionamento dos Estados Unidos é menos radical do que o demostrado pelas nações europeias e, ao que parece, Donald Trump ainda está tentando proteger as relações com o principal exportador de petróleo do mundo.
Nesta segunda, vários congressistas americanos, republicanos e democratas, pediram medidas contra o reino saudita, convencidos que o príncipe herdeiro está por trás do assassinato. Alguns legisladores também pediram que o governo corte relações com o príncipe e exigiram que a Arábia Saudita o substitua caso ele seja considerado responsável pela morte do jornalista, algo que os congressistas consideram provável.
Nova gravação
Uma nova gravação divulgada pelas autoridades turcas para a emissora americana CNN mostra um homem andando pelas ruas de Istambul vestindo as roupas de Jamal Khashoggi logo após seu desaparecimento em 2 de outubro.
Nas imagens, segundo a CNN, o saudita Mustafa al-Madani é visto deixando o consulado saudita pela porta de trás do edifício, usando as roupas nas quais o jornalista foi visto pela última vez, óculos e uma barba falsa.
Mustafa al-Madani supostamente faz parte do time de 15 oficiais enviados pela Arábia Saudita para assassinar Khashoggi, segundo as autoridades turcas.
(Com Reuters e EFE)