Após 6 meses, cidade nos EUA indicia policial que atirou em mulher negra
Brett Hankison, porém, não foi acusado por homicídio e sim por colocar Breonna Taylor em uma situação de "perigo desenfreado e arbitrário"
Um grande júri da cidade de Louisville, no estado americano de Kentucky, acusou formalmente nesta quarta-feira, 23, contra um policial que atirou contra Breonna Taylor, uma mulher negra que faleceu após a batida mal sucedida em seu apartamento em março.
Ela foi baleada pelo menos cinco vezes durante uma operação antidrogas no dia 13 de março, quando estava dentro de seu próprio apartamento com o namorado. Nenhuma droga foi encontrada na propriedade e Breonna não tinha antecedentes criminais.
Além disso, a polícia usou um tipo polêmico de mandado de busca – conhecido como mandado “no-knock”, ou “sem bater na porta” – que permite que a polícia entre em uma casa sem aviso prévio. Os policiais afirmam que se anunciaram antes de entrar, mas a família de Breonna e um vizinho contestaram isso.
Sua morte inflou protestos antirracistas nos Estados Unidos, e Louisville viu mais de 100 dias consecutivos de demonstrações. Manifestantes pedem que os três policiais envolvidos na batida sejam presos.
Por enquanto, o policial Brett Hankison foi o único acusado pelas autoridades locais, indiciado por “conduta perigosa” – essencialmente, por colocar Breonna Taylor em uma situação de “perigo desenfreado e arbitrário” durante a operação. É uma acusação menos séria que a de homicídio. A juíza Annie O’Connell determinou a prisão do policial e estabeleceu uma fiança de 15.000 dólares (83.500 reais).
Ele já havia sido demitido da polícia de Louisville em junho. A justificativa apresentada na carta de demissão foi que investigadores descobriram que ele havia “disparado às cegas e arbitrariamente dez tiros” contra o apartamento.
Os outros dois policiais que dispararam as armas naquela noite – Jonathan Mattingly e Myles Cosgrove – não foram acusados nem demitidos. O departamento de polícia os realocou para tarefas administrativas.
Na semana passada, a cidade de Louisville concordou em pagar 12 milhões de dólares, o equivalente a cerca de 63 milhões de reais, à família de Taylor. O acordo, anunciado pelo prefeito Greg Fischer no dia 15, é possivelmente um dos maiores já feitos para ações do tipo no país, onde departamentos policiais são extremamente protegidos.
A decisão não admite explicitamente qualquer ato irregular por parte da cidade, mas será acompanhado por reformas no Departamento de Polícia local, incluindo a exigência para que comandantes aprovem mandados de busca antes que sejam apresentados a um juiz, segundo Fischer.
O prefeito de Louisville também estabeleceu estado de emergência e um toque de recolher frente às acusações feitas contra Hankison nesta quarta-feira, em razão do “potencial de agitação civil”, segundo ele. Pelas próximas 72h, a circulação nas ruas da cidade será controlada das nove da noite às seis e meia da manhã.