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Ameaças de Trump e violência no México impulsionam corrida de imigrantes rumo aos EUA

Número de caravanas ilegais a caminho dos Estados Unidos, partindo de cidade mexicana, aumentou nas últimas semanas

Por Paula Freitas 3 dez 2024, 18h50

O aumento da pressão do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para que o México controle o fluxo de imigrantes ilegais que passam pelo seu lado da fronteira e o aumento da violência em Tapachula, cidade mexicana que atua como fiscal migratório dos EUA, levou a uma corrida de caravanas de imigrantes rumo ao território americano.

Com mote de campanha a luta contra a imigração, Trump aumentou o tom com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, para que ache maneiras para conter a torrente de pessoas que entram ilegalmente nos EUA através da divisa. Caso não encontre uma solução, o republicano ameaçou aplicar um imposto de 25% sobre todas as importações mexicanas já no seu primeiro dia na Casa Branca. A posse ocorre em 20 de janeiro.

Após telefonema com Sheinbaum, o próximo mandatário americano disse que ela havia “concordado em interromper a migração através do México”. A líder mexicana, no entanto, amenizou os resultados da conversa e afirmou que sua política “não é fechar fronteiras, mas construir pontes entre governos e entre povos”.

Em reflexo às recentes notícias, o número de caravanas a caminho dos EUA, partindo de Tapachula, parece ter aumentado. Um levantamento do jornal britânico The Guardian mostra que sete grandes grupos saíram da cidade, com milhares de pessoas, nas últimas semanas. Estima-se que 50 mil imigrantes morem temporariamente em Tapachula, enquanto aguardam o sinal verde do governo americano para seguir viagem. Como consequência, o local vive uma crise humanitária. Os três abrigos principais têm capacidade máxima para 1.000 pessoas, muito aquém do necessário.

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Processo desorganizado

Os que não conseguem espaço nas instituições recorrem a hotéis, casas e até mesmo tendas. Para conseguir cruzar o México, os imigrantes precisam solicitar um agendamento através do aplicativo de celular US CBP-One. Depois disso, caso tenham uma resposta positiva, podem entrar nos EUA e aplicar para asilo. Parece organizado, mas não é. São emitidas 1.450 consultas por dia, mas sem critérios e sem obedecer uma ordem de chegada. Alguns conseguem em questão de dias, outros aguardam meses e mais meses sem qualquer retorno.

A intensa chegada daqueles que aspiram pelo sonho americano a Tapachula ofereceu mão de obra barata para o local. Há 15 meses na cidade, o haitiano Tito ganha periodicamente 250 pesos (cerca de 74 reais) por turnos informais de 11 horas em obras, segundo o jornal britânico. Os hotéis estão lotados e agências de viagens operam a todo vapor, enquanto o setor de serviços aproveita para cobrar mais caro para estrangeiros. O lucro foi acompanhado pelo aumento do crime e da violência, incluindo sequestros de imigrantes para extorquir familiares que estão nos EUA.

A demora e a falta de segurança, acompanhadas pela mudança de governo em Washington, abrem espaço para que o medo tome conta e levam alguns dos indocumentados a optar por serviços oferecidos por coiotes, como são chamados grupos ou pessoas especializadas na travessia ilegal. As propostas são caras e perigosas. Caso o imigrante seja pego no percurso por guardas de patrulha, é imediatamente levado de volta a Tapachula.

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“As pessoas têm medo de que o CBP-1 deixe de existir (no governo Trump), que haja mais restrições”, relatou América Pérez, do Serviço Jesuíta de Refugiados, ao The Guardian. “Mas, novamente, eles são muito claros sobre seu objetivo. Eles sabem que querem chegar aos EUA – e chegarão.”

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Fuga de americanos

O iminente retorno de Trump também impulsionou um movimento crescente de americanos em busca de refúgio no exterior, de acordo com reportagem da emissora americana CNN. Para muitos, programas de residência e cidadania, conhecidos como “Golden Visa”, que oferecem a possibilidade de um segundo passaporte ou residência por meio de investimentos financeiros, surgem como um “plano B” diante das incertezas políticas e sociais.

As consultas sobre os vistos dourados de americanos aumentaram 33% até agora, em comparação ao mesmo período do ano passado, com programas na Europa sendo os mais procurados. A Henley & Partners, pioneira no setor, relatou um aumento de quase 400% nas consultas feitas por americanos somente na semana do pleito. Outra consultoria de migração por investimento ouvida pela CNN disse ter recebido mais de 100 consultas no dia seguinte à confirmação da vitória de Trump, cinco vezes mais que a média diária.

Entre os destinos mais procurados, Portugal destaca-se como favorito. O Programa de Residência Dourada português exige um investimento mínimo de €250 mil (cerca de R$ 1,3 milhão) em projetos culturais e oferece a possibilidade de cidadania europeia em apenas cinco anos. Esse prazo é menor do que o de outros países, como Espanha, Itália e Grécia, onde o processo pode levar de sete a dez anos.

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