Uma pesquisa publicada na prestigiada Nature nesta quarta-feira, 6, revelou que humanos habitam o continente europeu há muito mais tempo do que se imaginava. A análise de um conjunto de ferramentas de pedra, encontradas no oeste da Ucrânia, perto da cidade de Korolevo, indicou continente de 1,4 milhão de anos atrás. A última evidência, encontrada em Atapuerca, na Espanha, tinha cerca de 1,2 ou 1,1 milhão de anos de idade – ou seja, ao menos 200 mil anos a menos que a nova descoberta.
Os pesquisadores, ligados à Academia Checa de Ciências, disseram nesta quarta-feira que as ferramentas de pedra foram encontradas na década de 1970, no sopé dos Cárpatos, montes ao longo do rio Tysa. A região fica perto das fronteiras da Ucrânia com a Hungria e a Romênia. No entanto, a idade do material ainda não tinha sido revelada, o que eles finalmente fizeram, com um método de datação baseado em raios cósmicos.
Investigando sedimentos
As ferramentas encontradas foram feitas de rocha vulcânica e confeccionadas no chamado estilo Oldowan, simples e em flocos. Os instrumentos representam o início da tecnologia humana e eram utilizados como picadores, raspadores ou instrumentos para realizar cortes básicos – em Korolevo, predomina rocha vulcânica de alta qualidade, boa para fazer ferramentas de pedra.
Determinar a idade de sítios paleolíticos como Korolevo é um trabalho árduo, mas o estudo publicado na Nature conseguiu datar as ferramentas através da análise da camada de terra onde foi encontrada os artefatos. Os objetos foram enterrados sob sedimentos sobrepostos, com um ritmo específico de decaimento radioativo. A Terra é constantemente bombardeada por raios cósmicos – principalmente por prótons e partículas alfa –, e as partículas que esses raios geram após atravessar a atmosfera – nêutrons e múons – penetram no subsolo e deixam “marcas” diferentes, que guardam o segredo da data em que chegaram ao planeta.
Evolução humana
Saber a idade da camada de sedimentos nas ferramentas de pedra ajuda a compreender como os humanos se espalharam pela Europa durante os chamados “períodos quentes” ou “interglaciais”, que interromperam o domínio da Idade do Gelo no continente.
Além disso, apesar de nenhum osso ter sido encontrado no local, as pesquisas apontam que o fabricante dessas ferramentas provavelmente foi o Homo erectus, espécie humana que se espalhou pela África, Ásia e Europa e desapareceu a há cerca de 110 mil anos atrás. Eles foram os primeiros a possuir proporções corporais semelhantes às da espécie humana como a conhecemos hoje na linhagem evolutiva.
A Europa, antes habitada por grandes mamíferos, como mamutes e rinocerontes, foi encontrada pela espécie Homo erectus. Em seguida, ela foi colonizada por outras espécies humanas extintas, incluindo o Homo heidelbergensis e os Neandertais. Por fim, o Homo sapiens, que evoluiu na África há cerca de 300 mil anos, chegou em números significativos à Europa, provavelmente entre 40 mil e 45 mil anos atrás.
No estudo, os pesquisadores já indicaram que podem surgir novas evidências de ocupação humana na Europa é ainda mais antiga do que revelou o sítio de Korolevo.