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A voz dos negros: o poder de influência de Stacey Abrams nos EUA

A advogada, ativista e escritora, que anunciou nova candidatura ao governo da Geórgia, é uma das figuras decisivas do país

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 dez 2021, 17h06 - Publicado em 18 dez 2021, 08h00

Três anos atrás, a democrata Stacey Abrams, 48, foi derrotada pelo republicano Brian Kemp por uma diferença de apenas 55 000 votos para o governo da Geórgia. A disputa acirrada a transformou em uma voz relevante na política americana e uma das principais líderes do movimento negro nos Estados Unidos. Tanto é assim que Abrams acabaria sendo recrutada por Joe Biden para ajudá-lo na campanha presidencial, desafio que exerceu com inegável competência. Com a ajuda dela, Biden se tornou o primeiro democrata a vencer na Geórgia desde Bill Clinton, em 1992. Mais recentemente, Abrams decidiu encarar novo desafio. Após a criação de uma lei estadual que impõe restrições de voto a cidadãos de bairros periféricos, ela se lançou outra vez candidata ao governo nas eleições do ano que vem. “A oportunidade em nosso estado não deve ser determinada por código postal, histórico ou acesso ao poder”, escreveu no Twitter, no dia 1º de dezembro. Sua vida é agitada. Enquanto envereda por caminhos políticos, é também uma produtiva escritora. Abrams acaba de publicar no Brasil o livro Você Pode Fazer a Diferença: Como Construir o Futuro e Promover Mudanças Raciais (Editora Nacional), no qual conta como superou obstáculos como o racismo e a misoginia para construir uma trajetória exemplar.

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Formada em direito na badalada Universidade Yale, Abrams diz ter enfrentado questões de raça e gênero logo no início da vida acadêmica. Depois de formada, entrou em um tradicional escritório em Atlanta, onde era a única pessoa não branca a atuar na área que escolheu, o direito tributário. Apesar da longa história e de ser uma firma com consciência de diversidade, somente duas pessoas não brancas haviam se tornado sócias até então.

Foi nesse contexto que ela começou uma nova etapa profissional, a de escritora de ficção, autora de livros de suspense sob um pseudônimo que é uma homenagem à atriz Elizabeth Montgomery, protagonista de A Feiticeira, clássica série de TV. “Ninguém se interessaria por um romance escrito por uma advogada especialista em direito tributário”, contou ela em entrevista exclusiva a VEJA. “Por isso, escolhi um nome diferente, Selena Montgomery, e prestei tributo a uma heroína da minha infância.”

CAMPANHA - Com Joe Biden: ela quase formou chapa como vice-presidente -
CAMPANHA - Com Joe Biden: ela quase formou chapa como vice-presidente – (Curtis Compton/Atlanta Journal/AP/Image Plus)

A política veio depois, como resultado do ativismo, e não de feitiçaria. Disposta a enfrentar os desafios sociais, tentou atacá-los antes por meio do trabalho no setor privado e no voluntariado. “Mas a política é parte integrante de como progredimos na sociedade”, diz. “Quando funciona bem, vemos melhorias na vida das pessoas. Quando não funciona, vemos o mal e o terrível. Portanto, o trabalho que eu queria ver realizado só pode ser bem-feito por quem está na política.” Após onze anos como deputada estadual na Geórgia, Abrams tornou-se a candidata ao governo a receber mais votos do que qualquer outro democrata na história do estado na eleição de 2018. Na esteira dessa disputa, fundou várias organizações empenhadas no direito ao voto, treinando jovens não brancos.

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A Editora Nacional planeja o lançamento de mais dois títulos da autora em 2022, um dos quais é seu mais recente romance, o thriller jurídico Enquanto a Justiça Dorme. Escrito em um momento atribulado da carreira, o livro a ajudou a manter os pés no chão e não deixar a política se tornar sua única identidade. “Por isso, eu tento trazer todas essas facetas diferentes comigo, a de escritora, empresária e ativista social”, diz. Cabe prestar atenção na postura de Abrams, atalho para as boas ideias de hoje e amanhã.

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EXEMPLO A SEGUIR
Em entrevista exclusiva, Abrams fala sobre como enfrentar o racismo e a misoginia presentes na sociedade.

Você Pode Fazer a Diferença é um livro de memórias e também um guia de liderança. Concorda com essa definição? Quando tive a ideia do livro, queria publicá-lo como um guia. Os editores e meu agente literário disseram que seria melhor se usasse a minha história para passar as mensagens. Acho que é descrito com mais precisão como um guia informado por minhas experiências. A maior parte das memórias é idealizada para a introspecção. E meu objetivo é a ativação. Quero que as pessoas melhorem sua vida. No livro, sou um dos exemplos de como isso pode funcionar.

Como superou obstáculos como racismo, chauvinismo e muitos outros “ismos” que encontrou pelo seu caminho? Parte da lógica do livro é exatamente isso. Não dá para ignorar o racismo, o chauvinismo, a misoginia, o sexismo ou o classismo. O que dá para fazer é navegar em torno deles ou usá-los a seu favor. Para isso, é preciso primeiro reconhecer esse enfrentamento. Em seguida, identificar que outras habilidades podem ajudá-lo a contornar esses comportamentos. Não existe a garantia de que se pode fazer alguém ser menos racista. Mas pode-se decidir como melhor responder ao racismo.

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Acredita em discurso não violento? Sim. No engajamento cívico, na organização e no protesto, a não violência deve ser sempre nossa intenção, nosso princípio orientador. É a forma mais eficaz e sustentável de promover mudanças. Seria hipócrita não reconhecer que, às vezes, a não violência é tratada com violência, e que eu nunca responderia com violência. Neste caso, no entanto, a satisfação é efêmera e não há progresso.

Acredita no sistema democrático como operado nos Estados Unidos, no Brasil e em vários outros países? A democracia é a melhor forma de operar na sociedade. O problema que enfrentamos tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil são pessoas que não acreditam na democracia e a usam para seus próprios fins. Uma vez eleitas, no entanto, agem para minar a democracia. O sistema é bom, o desafio está em nos proteger de quem usa dele para depois subvertê-lo e miná-lo.

Publicado em VEJA de 22 de dezembro de 2021, edição nº 2769

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