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A vitória de Trump

O Relatório Mueller conclui que o presidente americano e a Rússia não trabalharam juntos durante a campanha. Um alívio — resta saber por quanto tempo

Por Kátia Melo
Atualizado em 4 jun 2024, 15h29 - Publicado em 29 mar 2019, 07h00
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  • Topete ao vento, gestos eufóricos e uma pitada de vitimismo. Foi à moda Trump que o presidente americano comemorou sua mais relevante vitória desde que pôs os pés na Casa Branca. “Acabam de anunciar que não houve conluio com a Rússia. É uma vergonha que nosso país tenha tido de passar por isso. Sinceramente, é uma vergonha que o presidente tenha tido de passar por isso”, disse ele no domingo 24, no aeroporto de Palm Beach, no sul da Flórida, pouco antes de embarcar de volta para Washington após um fim de semana em seu resort, Mar-a-Lago. E ainda tuitou: “Não houve conluio, não houve obstrução. Inocência total e completa”.

    Depois de mais de dois anos de investigação, com centenas de entrevistas e vasta documentação, a conclusão do relatório do procurador especial Robert Mueller de que Trump e sua equipe de campanha não trabalharam com o governo russo para prejudicar a adversária Hillary Clinton na eleição de 2016 dá ao presidente novo fôlego para disputar a reeleição. Remove uma nuvem que pairava permanentemente sobre sua cabeça e que, em última instância, poderia acabar em pedido de impeachment. Até agora, o único a ler o relatório na íntegra foi o secretário de Justiça, William Barr, a quem cabe decidir se o conteúdo será aberto ao Congresso ou não. Barr optou por não abri-lo. Em vez disso, enviou aos deputados e senadores um resumo de quatro páginas informando que a suspeita de conluio, a mais grave, fora afastada. Sobre outra acusação importante, de obstrução da Justiça, Barr reproduziu na íntegra as palavras de Mueller: “Embora este relatório não conclua que o presidente cometeu um crime, ele tampouco o isenta”. Ao lavar as mãos, Mueller “deixa para o secretário de Justiça decidir se a conduta descrita no relatório constitui um crime”. Barr, posto no cargo por Trump, decidiu que não, o presidente não obstruiu nada. E ponto-final.

    Benjamin Netanyahu, David Friedman e Lindsey Graham
    AMIGO – Netanyahu (centro) em Golã: Trump apoia a anexação e ajuda a campanha (Ronen Zvulun/AFP)

    Final em termos, porque ficam no ar dúvidas e questões paralelas em aberto. Como Mueller permaneceu mudo durante todo o processo e ninguém leu o relatório, não se conhecem detalhes das 199 denúncias contra 34 pessoas e três empresas resultantes da investigação. Entre os 34 denunciados por Mueller estão 25 russos e seis ex-colaboradores de Trump, dos quais cinco acabaram condenados por vários crimes, nenhum relacionado ao suposto conluio com os russos. O único preso no momento é o marqueteiro da campanha de Trump, Paul Manafort. Ele passou dados das pesquisas eleitorais a um russo vinculado ao serviço secreto de Moscou e estava presente à célebre reunião secreta do filho mais velho e do genro de Trump, em plena Trump Tower, com uma advogada ligada ao Kremlin. Mas nem o agente nem a advogada fazem parte do governo russo. Manafort foi condenado a sete anos e meio de prisão por fraude bancária e evasão fiscal.

    Há imensas sombras em torno de Trump, apesar do alívio momentâneo. Michael Cohen, advogado e faz-tudo do presidente durante uma década, virou a casaca e agora o acusa de ser “charlatão” e uma “fraude”. Cohen cumprirá a partir de maio uma sentença de três anos, acusado de gastos indevidos na campanha — nada a ver com os russos. Michael Flynn, ex-­assessor de segurança, George Papadoulos, ex-­assessor de campanha, e Rick Gates, ex-conselheiro de campanha, declararam-se culpados de mentir ao FBI. Roger Stone, consultor político, foi acusado de sete crimes federais, entre eles obstrução da Justiça.

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    Ao que tudo indica, nenhum dos seis homens do presidente tem papel relevante no relatório encerrado agora. “Para Mueller, o que Trump e seus assessores fizeram não foi ético, tampouco foi ilegal. Só saberemos mais sobre o assunto se o documento for divulgado em sua íntegra, o que é pouco provável que aconteça”, afirma John J. Forrer, especialista da Universidade George Washington.

    Os democratas, que contam com maioria na Câmara, movimentam-se para obter acesso a todo o relatório — seis presidentes de comissões exigem que Barr remeta à Casa a íntegra até 2 de abril. A expectativa é que haja uma longa batalha constitucional. A oposição promete ainda acelerar o andamento das várias investigações que pesam sobre o presidente: de doações escusas de campanha a pagamento ilegal para abafar a relação com uma atriz pornô, passando por uso indevido do cargo para turbinar negócios do conglomerado Trump e manipulação das finanças da Fundação Trump — fechada desde o início do governo — para encobrir recursos de caixa dois.

    Em um país polarizado, a população também se divide sobre as conclusões do relatório. De acordo com pesquisa conduzida pelo site Politico e pela consultoria Morning, 47% dos eleitores americanos acreditam que “o presidente tentou impedir ou obstruir a investigação sobre possíveis ligações de sua campanha com a Rússia”; 39% acham que “o presidente não interferiu no processo investigativo”. O fato é que, apesar das desconfianças públicas, o relatório de Mueller rendeu a Trump pontos preciosos na única disputa que importa agora: o jogo eleitoral.

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    Até que antigos problemas renasçam, Trump se sentirá mais confortável para governar, e foi com esse estado de espírito que ele entrou, na segunda 25, em conluio aberto e transparente com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Durante um encontro na Casa Branca, Trump assinou um decreto por meio do qual reconhece o direito israelense de anexar ao seu território as colinas de Golã, tomadas da Síria em 1967. A medida tem pouco efeito prático, já que a anexação não é admitida por nenhum organismo internacional, mas ajuda Netanyahu em sua campanha eleitoral — e, bem ao gosto de Trump, rende tretas no Twitter.

    Publicado em VEJA de 3 de abril de 2019, edição nº 2628

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