Faz quase seis meses que, aos sábados e domingos, Hong Kong vira praça de guerra, com manifestantes e polícia se enfrentando nas ruas em um crescente grau de violência. Agora, o embate transbordou: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira foram, todos, dias úteis de atividades paralisadas e confronto intenso. De um lado, a multidão formada por jovens munidos de coquetéis molotov, pedras e até arco e flecha, que querem a autonomia da ilha em relação à China. Do outro, policiais brandindo bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, cacetadas — e tiros. Na cena mais chocante, exibida ao vivo nas redes sociais, um guarda apontou a arma para um rapaz de 21 anos e, à queima-roupa, disparou. Atingido na barriga, o jovem encontra-se hospitalizado em estado grave. Foi o terceiro manifestante baleado após a divulgação de um memorando, com data de 30 de setembro, pela imprensa local em que a polícia de Hong Kong “flexibilizou” as regras para o uso de armas de fogo. Horas depois do tiro, um grupo de mascarados, em outro ato bárbaro, pôs fogo na camisa de um homem contrário aos protestos que os defrontou. As aulas estão suspensas e duas universidades decidiram encerrar antecipadamente o semestre escolar. O estopim para a escalada da violência foi a queda, na sexta-feira 8, de Alex Chow do 3º andar de um estacionamento durante uma manifestação. Chow se tornou a primeira pessoa a morrer na rebelião que sacode Hong Kong. Não deve ser a última.
Publicado em VEJA de 20 de novembro de 2019, edição nº 2661