A conta do TikTok que está acompanhando a fuga dos imigrantes nos EUA
Enxurrada de decretos assinados por Trump vem aumentando constantemente os temores de grupos imigrantes

A enxurrada de decretos assinados por Donald Trump nos dias seguintes à posse como presidente dos Estados Unidos vem aumentando constantemente os temores de grupos imigrantes. Em um novo capítulo do endurecimento, o republicano deu nesta sexta-feira aos funcionários da ICE, a temida polícia da imigração, o poder de deportar estrangeiros que foram autorizados a entrar no país temporariamente durante a gestão de seu antecessor, Joe Biden.
O grau do medo é evidente. No TikTok, um usuário identificado apenas pelo nome @migrantesmillonarios publicou vídeos de como têm sido os últimos dias. Em um deles, mostra um restaurante vazio, afirmando em espanhol que os funcionários não foram trabalhar porque não estão com a documentação em dia. Em outro, mostrou canteiros de obras paralisados, depois de trabalhadores faltarem por medo de serem renunciados e deportados.
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“Não há garçons, não vieram trabalhar. É a primeira vez que acontece essas coisas nos Estados Unidos. É porque as pessoas estão com medo”, disse o usuário, cujas marcações indicam que a gravação foi feita na Califórnia – um dos estados fronteiriços com o México. Outro usuário, comentou: “somos os que movem a economia em terras distantes”.
@migrantesmillonarios
Em outro vídeo, mostra um prédio onde os faxineiros foram demitidos por não terem documentos. Muitos deles possivelmente voltarão ao México, onde o governo se prepara para receber milhares de deportados, sob uma iniciativa chamada “O México abraça você”. Centros de acolhimento estão sendo montados em cidades fronteiriças com a promessa de oferecer suporte básico.
Início da “deportação em massa”
Autoridades dos Estados Unidos já prenderam 538 imigrantes “ilegais criminosos” e deportaram “centenas” em uma grande operação nos primeiros dias do segundo mandato do recém-empossado presidente Donald Trump, informou a secretária de imprensa da Casa Branca na noite de quinta-feira 23.
“A Administração Trump prendeu 538 imigrantes ilegais criminosos e deportou centenas em aviões militares”, disse Karoline Leavitt na rede social X, antigo Twitter. “A maior operação de deportação em massa da história está em andamento”, completou.
A ICE, a temida polícia de imigração, confirmou “538 prisões” e “373 ordens de detenção” em uma “atualização de aplicação da lei” no X. O órgão emite essas ordens para estrangeiros que foram presos por acusações criminais e que a agência acredita que podem ser deportados, a fim de mantê-los sob custódia.
Durante a campanha, Trump prometeu conduzir “a maior deportação da história dos Estados Unidos”, e nos primeiros dias de governo atuou nesta direção – embora tal operação deva encontrar entraves na Justiça e no caixa, já que estima-se que deportar 1 milhão de imigrantes ao ano, como prometeu, custaria 300 bilhões de dólares.
Decretos presidenciais anti-imigração
Na seara dos imigrantes ilegais, sua primeira medida foi estabelecer emergência nacional na fronteira sul, o que autoriza o redirecionamento de recursos para reforçar a segurança com tropas militares (1.500 soldados extras foram despachados na quarta-feira 22) e a retomada da construção do famoso muro.
Ele também desativou um aplicativo criado no governo Biden para encaminhar pedidos de asilo e suspendeu todas as audiências marcadas. Conforme cansou de prometer, espalhou o terror entre os cerca de 11 milhões de estrangeiros em situação irregular ao autorizar batidas da ICE em santuários como escolas, igrejas e hospitais.
Em outro decreto, Trump classificou as gangues urbanas como organizações terroristas no nível de Al-Qaeda e Estado Islâmico, orientando o Departamento de Justiça a pedir pena de morte para ilegais que cometam crimes graves, uma postura linha-dura respaldada por 55% da população. O mesmo órgão, aliás, baixou orientação para que qualquer funcionário público ou policial que se recuse a cumprir as novas regras do cerco aos imigrantes ilegais seja afastado e processado.
O ato presidencial mais audacioso no quesito imigração é o que anula a concessão automática de cidadania americana a filhos de estrangeiros em situação irregular ou temporária. O direito está previsto na 14ª Emenda à Constituição, que diz que todas as pessoas nascidas nos Estados Unidos são cidadãs do país. Promotores em 22 estados governados por democratas já entraram na Justiça contra o decreto, e na quinta-feira 23 um juiz de Seattle bloqueou temporariamente a medida para análises.