63,5% dos menores venezuelanos no Brasil estão fora da escola, diz ONU
Crianças e adolescentes que fugiram da crise do país vizinho para Roraima também sofrem com más condições sanitárias e de alimentação
Pesquisa realizada por órgãos das Nações Unidas sobre crianças e adolescentes venezuelanos que emigraram para o Brasil indicou um número considerável fora da escola e vulnerável a problemas de higiene e alimentação.
Segundo o estudo da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 63,5% dos menores entrevistados não frequentam a escola. As razões para a ausência escolar incluem falta de vagas nos estabelecimentos de ensino brasileiros, distância e custos.
Ao observar apenas a idade escolar obrigatória, mais da metade (59%) das crianças e adolescentes venezuelanos entre 5 e 17 anos não frequenta a escola. O porcentual para esta categoria é maior do que na faixa etária de 15 a 17 anos, onde 76% não estão matriculados.
Para a pesquisa, foram coletadas informações sobre 726 crianças e adolescentes. Destes, 479 estavam nas cidades de Boa Vista e Pacaraima, em Roraima, 171 estavam bem na fronteira de Pacaraima com a Venezuela. Mais 76 estavam na Rodoviária de Boa Vista.
Saúde e alimentação
A maioria das crianças e adolescentes entrevistadas pelos órgãos da ONU estava com as vacinas atualizadas e 70% tinham acesso aos serviços de saúde. Porém, as condições sanitárias a que estão submetidas podem criar problemas.
Do total de entrevistados, 60% afirmaram que não tinham acessos a água filtrada para beber e 45% a água para cozinhar e para garantir sua higiene pessoal. Além disso, 28% dos menores de 18 anos disseram ter sofrido diarreia no último mês.
Desde que chegaram ao Brasil, 16% dos menores entrevistados não tiveram comida suficiente por algum momento. Ao menos 128 tiveram que reduzir o número de refeições diárias, 93 sentiram fome e não conseguiram alimentos e 84 disseram ter passado por um dia em que comeram uma vez ou não comeram.
Fluxo migratório
A população venezuelana está asfixiada por uma crise econômica e humanitária caracterizada pela hiperinflação, pobreza, falta de serviços públicos e escassez de artigos de primeira necessidade, especialmente de remédios e de alimentos. Esse contexto estimulou o êxodo em massa.
Pelo menos 1,9 milhão de pessoas deixaram a Venezuela desde 2015, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Os migrantes se dirigiram, principalmente, para outros países da América do Sul como Colômbia, Equador, Peru e Brasil.
O Brasil recebeu pouco mais de 60.000 cidadãos do país vizinho, e Roraima tornou-se a principal porta de entrada de venezuelanos no país.
Com a ajuda da Acnur e da OIM, o governo brasileiro adotou um programa mais intenso para transferir venezuelanos para outras cidades e estados do país. No final de agosto, o presidente Michel Temer assinou decreto que autoriza e facilita a ação do Exército em Roraima, como meio de prevenir novos incidentes de violência contra os imigrantes.
A decisão foi tomada pouco depois de cenas de violência na cidade fronteiriça de Pacaraima. Venezuelanos tiveram seus acampamentos e pertences queimados e destruídos por brasileiros revoltados com o assalto e a agressão a um comerciante local em 18 de agosto.