Sylvia Guimarães está mais do que vacinada. Quando aborda empresários para pedir colaboração para a Associação Vaga Lume, projeto que criou há dezesseis anos, vez ou outra escuta a seguinte frase: “Lá vem a Sylvia com aqueles indiozinhos…”. “Eles não sabem que a região atendida por nós tem também quilombolas, ribeirinhos e até loiros descendentes de paranaenses”, explica a historiadora. A Vaga Lume atende 23 municípios na Amazônia. O foco está num dos principais aspectos da educação infantil: a literatura.
A Vaga Lume nasceu de uma viagem empreendida por Sylvia e duas amigas à Ilha de Marajó, no Pará. Quando deparou com os parcos recursos educacionais, Sylvia decidiu fazer algo pela região. O primeiro passo foi a criação de um projeto cultural que rodou a Amazônia por um ano e tinha como objetivo montar uma biblioteca para a população. Em todos os locais pelos quais a expedição passava, o trio era questionado sobre quando iria voltar. “A gente respondia: ‘Só Deus sabe’, e pedia aos moradores que se comunicassem conosco através de cartas”. Ao retornar para São Paulo, um ano depois, Sylvia encontrou montanhas de correspondências na sede da entidade. Eram mensagens de líderes das comunidades locais, que falavam de quanto a visita delas fora importante para a população. E eles pediam mais livros. A expedição tornou-se permanente.
A Vaga Lume opera com o auxílio dos governos locais e de voluntários. A Secretaria de Educação ajuda no transporte, no alojamento e na alimentação dos educadores, responsáveis pela criação das bibliotecas. Afinal, eles atendem regiões remotas da Amazônia com acesso apenas por barco. Cabe aos líderes comunitários e voluntários a missão de cuidar do acervo — que a cada ano recebe nova remessa de livros, destinados ao público infantil e infantojuvenil. Mais do que doar livros e criar bibliotecas, existe uma preocupação em ministrar cursos para a população com o propósito de mostrar como incentivar o hábito da leitura nas crianças. Atualmente, Sylvia está pesquisando obras que tragam histórias da cultura negra.
“Existem pessoas que conheci no início do projeto que hoje cursam letras e pedagogia. É bom perceber que fizemos diferença na vida delas”, diz Sylvia. Em alguns casos, essa percepção se dá de maneira engraçada. Um dia, um dos voluntários da Associação Vaga Lume foi abordado por uma menina num quilombo do Maranhão que lhe perguntou a respeito de um dos personagens mais lendários da literatura mundial. “Ela olhou para o rapaz e disse: ‘Por acaso você conhece Dom Quixote? Porque eu conheço’.” Que bom, lá vem a Sylvia com seus indiozinhos.
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