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O que é ser homem hoje em dia?

Diante da atual – e mais que urgente – valorização do feminino, diversas iniciativas pretendem discutir e rever o papel masculino na sociedade

Por Abril Branded Content
23 nov 2017, 11h48

Em sua mais famosa obra, a ensaísta francesa Simone de Beauvoir cunhou a seguinte afirmação: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Desde 1949, ano da publicação de O Segundo Sexo, a frase vem sendo repetida e debatida. E, ainda hoje, convida a mulher a rever seu papel na sociedade. Mas onde ficam os homens nessa revisão? Não restam dúvidas de que elas querem, podem e ocupam lugares até há pouco considerados masculinos. E eles: querem, podem e ocuparão os espaços considerados femininos?

A resposta é positiva. Não são apenas as mulheres que estão insatisfeitas. Uma pesquisa recente realizada por Molico, marca de produtos lácteos da Nestlé, em parceria com a antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostrou que todos, homens e mulheres, querem um mundo diferente do que este em que vivemos.

Segundo os dados do levantamento, do qual participaram mil pessoas de todo o Brasil, esse cenário ideal teria mais solidariedade, generosidade, companheirismo, compaixão, entre outros valores associados ao feminino. No entanto, o trabalho mostrou que, na prática, não é isso o que vivemos. Nossa realidade está repleta de valores que foram associados ao masculino, como violência, agressividade e competitividade.

A boa notícia é que já há iniciativas concretas que visam reconstruir a ideia de homem na sociedade contemporânea. De campanhas internacionais, como a He For She (“eles por elas”, em livre tradução), criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a grupos que se reúnem semanalmente para debater ideias, todas elas têm como objetivo acabar com a noção de que os comportamentos violentos, competitivos, controladores, entre outros, são sinônimo de masculino. Ser homem pode – e deve – ser algo muito diferente disso.

Em Recife, por exemplo, funciona o Instituto Papai, fundado pelos psicólogos Benedito Medrado e Jorge Lyra. Trata-se de uma ONG que tem como missão garantir direitos humanos e combater a desigualdade de gênero. Para isso, volta suas campanhas e ações para o homem.

Trata-se, por exemplo, de reforçar a ideia de que o pai não é mero reprodutor – ou ainda provedor –, mas um sujeito ativo na educação e no cuidado da criança e da casa. O Papai tem como meta garantir que haja espaço legitimado na sociedade para que eles desempenhem esse papel. “Não adianta batermos na mesma tecla se as instituições não estiverem preparadas para a participação masculina, por exemplo, na hora do parto do filho ou como acompanhante de um paciente hospitalizado”, diz Medrado.

Enquanto solidariedade, generosidade e companheirismo são valores associados ao feminino, agressividade e competitividade foram associados ao masculino. (Getty Images/Getty Images)

O psicólogo relembra sua própria dificuldade quando, em meados de 1995, acompanhou a mãe em um hospital paulista especializado no tratamento de mulheres. “Não havia preparo algum para receber um acompanhante homem”, diz ele, que ajuda a idealizar campanhas como a “Pai não é visita – pelo direito de ser acompanhante”, cujo foco é fazer valer a lei que garante a presença do progenitor na sala de parto. Ou ainda a “Dá licença, eu sou pai!”, que pleiteia a ampliação do período de licença-paternidade.

Na Grande São Paulo, tem ganhado corpo o trabalho de outro psicólogo, Flávio Urra. Há 16 anos ele coordena o programa E Agora, José?, que atua em parceria com a justiça para sensibilizar homens agressores que respondem a processos de violência pela Lei Maria da Penha. Mais recentemente, surgiu outra iniciativa, os Grupos de Trabalho sobre Gênero. Tratam-se de cursos livres, em geral oferecidos por prefeituras de municípios do Estado de São Paulo, onde homens debatem juntos o papel deles na sociedade atual.

Cada aula tem cerca de 4 horas, em turmas que variam entre 30 e 70 alunos. “Tratamos desde assuntos básicos, como as diferenças entre homens e mulheres ao longo da vida, até questões mais delicadas, como diversidade sexual”, conta Urra. Dependendo do tema, são chamados especialistas para ministrar palestras e esclarecer dúvidas. Quase a totalidade dos participantes é heterossexual, e todos vão às aulas por vontade própria.

“Conseguimos criar um ambiente solidário e acolhedor. Depois de alguns encontros, os participantes já estão abertos a trocar afeto entre si, sem o risco de que isso fira suas masculinidades. É uma conquista!”, comemora o psicólogo. Fazem parte do curso dinâmicas que incluem abraços, toque e até prática de massagem entre os alunos.

Quando a máscara cai

A discussão sobre o novo papel do homem também é tema do documentário americano The Mask You Live In (“A máscara em que você vive”, em tradução livre), disponível na plataforma Netflix. O filme mescla dados sobre suicídio, comportamentos agressivos e exposição à violência, entrevistas com especialistas e depoimentos de homens e meninos sobre como o machismo é opressor não apenas para as mulheres.

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Há, por exemplo, a história de Ian, um garoto que, desde pequeno, se sentia deslocado e sofria bullying por não fazer o tipo “machão”. Na adolescência, resolveu assumir a postura que seus colegas esperavam. Integrou-se ao grupo, mas sentia que estava se distanciando de si mesmo.

A máscara começou a cair quando soube que uma de suas namoradas tinha sido estuprada. Descobriu também que a mãe tinha vivido a mesma experiência traumática na juventude. “Foi doloroso, para mim, descobrir que aquilo tinha acontecido com alguém de quem eu gostava tanto. E acontece com todo tipo de pessoa”, diz o rapaz, que, a partir de então, passou a refletir sobre sua própria postura. “Aquilo me deu a oportunidade de começar a pensar na masculinidade de uma forma crítica, tentando me tornar um ser mais completo e menos preso a quem eu achava que deveria ser.”

O documentário não se limita a colocar os homens na condição de vítimas. Mostra também como os privilégios masculinos, antes de qualquer coisa, oprimem e violentam mulheres todos os dias, no mundo todo.

A conclusão a que tendemos chegar ao final do filme é muito parecida com a da atriz Emma Watson, embaixadora da campanha He For She, da ONU, e também autora do discurso que lançou a iniciativa, no qual disse: “Nós não falamos frequentemente sobre os homens estarem aprisionados em estereótipos de gênero, mas eu posso ver que eles estão. E, quando eles estiverem livres, as coisas irão mudar para as mulheres como consequência natural”. A revisão de papéis, portanto, precisa ser universal.

Reflita mais sobre este e outros temas em #OValorDoFeminino.

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