Um distrito escolar do Tennessee, nos Estados Unidos, baniu a graphic novel Maus (clique para comprar) de lista de leituras recomendadas para os alunos da oitava série de todas as unidades da rede pública. Escrita por Art Spiegelman, a HQ vencedora do Pulitzer de 1992 aborda o Holocausto a partir da perspectiva de Vladek, seu pai e sobrevivente de um campo de concentração. A obra em branco e preto retrata os judeus perseguidos como ratos (“maus”, em alemão) e os perseguidores nazistas como gatos.
A justificativa do conselho da McMinn Country School é a de que as ilustrações mostram “nudez” – em uma passagem, vítimas do Holocausto são forçadas a se despir quando são chegam a um campo de concentração. Além disso, teriam expressões “impróprias” para os leitores de 13 a 14 anos, como os estudantes da oitava série. Os responsáveis afirmaram que a censura à obra não teria nenhuma relação com o Holocausto e a decisão pela exclusão do livro de leituras recomendadas foi unânime, por 10 votos a 0.
O Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos divulgou um comunicado em que diz que Maus tem sido vital na educação de alunos de todo o país sobre o Holocausto a partir das experiências contadas em detalhes pelas vítimas. “Livros como Maus são capazes de inspirar estudantes a pensar de forma crítica sobre o passado”, diz a nota.
Em entrevista ao jornal The Washington Post, Jon B. Wolfsthal, ex-consultor de segurança nacional do presidente Joe Biden e filho de um sobrevivente do Holocausto, afirmou que a nudez e o uso de palavrões no livro são reflexo dos horrores da perseguição aos judeus. “Tentar aliviar as atrocidades diminui a escala dos crimes cometidos”, afirmou.
A decisão foi tomada originalmente no dia 10 de janeiro, mas a notícia só começou a circular na última quarta-feira, 26, e ganhou força nas redes sociais nesta quinta-feira, 27, justamente no Dia Internacional da Memória do Holocausto.
O movimento para tirar Maus da lista de livros não é um caso isolado. Há um movimento crescente de políticos da extrema-direita dos Estados Unidos em tentar vetar a leitura de obras que contenham referências sexuais, abordem temas como a causa LGBTQ ou, de maneira geral, contradigam uma visão conservadora da história.
No final de 2021, o governador eleito da Virgínia, Glenn Youngkin, defendeu a censura a Amada (clique para comprar), da vencedora do Nobel de Literatura Toni Morrison. O livro aborda os horrores da escravidão e também recebeu o Pulitzer.
No Texas, Matt Krause, membro da Câmara de Representantes do Estado, abriu uma investigação contra escolas que tenham cópias de 850 livros considerados “impróprios”. A relação inclui As confissões de Nat Turner, outro vencedor do Pulitzer escrito por William Styron, também sobre a escravidão, e a versão em quadrinhos de O Conto da Aia (clique para comprar), de Margaret Atwood.
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