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A feminista da vida real que inspirou as bruxas de Wicked

Matilda Joslyn Gage, uma pioneira do feminismo e dos direitos humanos, deixou uma marca profunda na obra do genro, L. Frank Baum, autor de O Mágico de Oz

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 nov 2024, 16h32 - Publicado em 26 nov 2024, 16h11
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  • Desde sua estreia em 1939, O Mágico de Oz se tornou uma obra que transcende gerações. Sob a fachada de uma história infantil, o filme e o livro original de L. Frank Baum, publicado em 1900, apresentam um legado cultural e histórico profundo, repleto de simbolismos feministas e lições que provocam reflexões até os dias de hoje. Mas poucos sabem que a inspiração para muitos dos elementos dessa obra-prima veio de uma figura real, Matilda Joslyn Gage, sogra de Baum e uma das pioneiras mais radicais do movimento feminista no século XIX.

    O Encontro entre Fantasia e Feminismo

    O universo de Oz é um lugar onde o extraordinário e o cotidiano se encontram. Na terra de Oz a luta entre bruxas boas e más se desdobra em um pano de fundo mágico, mas também cheio de reflexões sobre poder e escolha. As histórias de fundo da Bruxa Má do Oeste e de Glinda, a Boa, são o tema do filme Wicked , baseado no romance de Gregory Maguire de 1995 e no musical de Winnie Holzman e Stephen Schwartz de 2003. A polarização entre essas figuras é uma forma criativa de explorar o embate entre forças sociais opostas, uma característica marcante no ativismo de Matilda Joslyn Gage.

     

    Elphaba (Cynthia Erivo) e Glinda (Ariana Grande) em Wicked: figurinos poderosos
    Elphaba (Cynthia Erivo) e Glinda (Ariana Grande) em Wicked. História teria sido inspirada na sogra do autor — (//Divulgação)

    Gage, que foi uma das principais líderes do movimento pelos direitos das mulheres, acreditava que as estruturas de poder da igreja e do estado perpetuavam a desigualdade de gênero. Ela defendia a liberdade individual e o reconhecimento da igualdade social entre homens e mulheres. Suas ideias moldaram profundamente o pensamento de Baum, que encontrou na sogra uma inspiração intelectual e criativa.

    De acordo com um ensaio publicado na Smithsonian Magazine pelo escritor de não-ficção Evan I. Schwartz, foi Gage quem incentivou Baum a explorar a literatura e sugeriu elementos que se tornariam centrais em O Mágico de Oz, como o ciclone que leva Dorothy ao mundo mágico. Essa conexão entre as ideias de Gage e a narrativa de Oz é evidente na jornada de autodescoberta de Dorothy. Assim como a ativista defendia que as mulheres possuíam uma força interior inexplorada, Dorothy descobre que sempre teve o poder de voltar para casa. É apenas com a orientação de Glinda, a Bruxa Boa do Sul, que a protagonista compreende essa verdade.

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    Para Gage, o poder da mente e do pensamento positivo era fundamental. Ela acreditava que as mulheres poderiam superar as adversidades por meio da determinação e da confiança em si mesmas – uma mensagem que Baum capturou ao descrever os sapatos prateados de Dorothy (transformados em rubis no filme). Esses sapatos não são mágicos por si só; sua força reside na capacidade de Dorothy de usá-los com propósito, refletindo a visão de Gage sobre o empoderamento feminino.

    Matilda Joslyn Gage, a Glinda da vida real

    Nascida em 1826, Gage cresceu em um lar de livre-pensadores e abolicionistas. Educada em disciplinas que variavam de matemática à fisiologia, ela desenvolveu uma visão crítica e avançada sobre as desigualdades de sua época.

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    Durante sua vida, Gage desafiou tanto os dogmas religiosos quanto as convenções sociais. Ela acreditava que a subjugação feminina era perpetuada por interpretações bíblicas que colocavam as mulheres como inferiores. Em seu livro Woman, Church and State (Mulheres, Igreja e Estado), de 1893, Gage documentou séculos de opressão contra as mulheres, incluindo as perseguições por bruxaria. Para ela, as mulheres acusadas de feitiçaria eram, na verdade, pensadoras avançadas demais para suas épocas e vítimas de um sistema que temia a independência intelectual feminina.

    Gage foi uma das vozes mais radicais no movimento sufragista. Trabalhando ao lado de Susan B. Anthony e Elizabeth Cady Stanton, ela defendeu o voto feminino como um direito inalienável. No entanto, sua postura incisiva frequentemente a colocava em conflito com personalidades mais moderadas, como Anthony, especialmente quando o movimento começou a se alinhar a grupos religiosos conservadores.

    Quando sua filha Maud se casou com Baum, o autor de O Mágico de Oz, Gage inicialmente desaprovou. Para ela, um dramaturgo itinerante parecia uma escolha arriscada. No entanto, o relacionamento entre genro e sogra floresceu em um terreno fértil de ideias. Baum, encantado pelas visões de Gage sobre espiritualidade e justiça social, incorporou muitos de seus ideais em suas histórias.

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    Gage também foi uma defensora fervorosa dos direitos dos povos indígenas, elogiando suas estruturas sociais igualitárias. Ela acreditava que os povos nativos eram exemplos de civilizações avançadas, onde mulheres e homens desempenhavam papeis equivalentes. Essa admiração se refletiu em sua associação à Nação Mohawk, que a honrou com o título de Ka-ron-ien-ha-wi, que significa “Aquela que Sustenta o Céu”.

    Seu impacto sobre Baum foi profundo. Acredita-se que a caracterização de Glinda, a benevolente Bruxa Boa, foi inspirada diretamente em Gage. Enquanto a imagem tradicional de uma bruxa evocava maldade, Glinda representava uma nova visão – uma mulher poderosa que utiliza sua força para guiar os outros.

    Matilda Joslyn Gage faleceu em 1898, dois anos antes de Baum publicar seu livro. No entanto, seu legado está profundamente entrelaçado com a história. Ela não apenas inspirou personagens e temas do livro, mas também contribuiu para a mensagem central de autossuficiência e empoderamento que ressoa com leitores e espectadores até hoje.

    Ao reimaginar bruxas, ciclones e cidades de esmeralda, Baum eternizou a visão de sua sogra sobre um mundo mais justo e igualitário. O Mágico de Oz permanece como um testemunho da mágica real: a capacidade de transformar ideias em narrativas que mudam o mundo.

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