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“Ajudei na redemocratização”, diz chef de cozinha Ida Maria Frank

Aos 80 anos, ela reflete sobre sua militância na juventude e sua atuação na política

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 nov 2025, 08h00

A gastronomia sempre fez parte da minha vida. Desde criança lembro de ficar ao lado do fogão de lenha da casa. Mas só fui trabalhar no setor de alimentos bem mais tarde. Nasci na Bahia, filha de mãe brasileira e pai suíço, que veio ao país para trabalhar na produção de charutos. Meu avô, pai de minha mãe, era um personagem muito interessante. Coronel que tinha muitas terras na região, controlava o comércio de couro no Rio São Francisco. Curiosamente, durante a revolução de 1930, ele ficou do lado dos revolucionários. E tinha a proteção do grupo de Lampião por todas as vezes que acobertou o bando em suas terras.

Quando criança, estudei em uma escola católica. Nessa época, ainda menina, ajudava os padres e as freiras nos finais de semana, quando eles levavam comida e outros mantimentos para as comunidades de Alagados, que viviam sobre palafitas. Não era uma atividade obrigatória, mas eu gostava de estar presente. Vi famílias inteiras dormindo em uma única cama e aquilo me deixou impactada. Na faculdade, no final dos anos 1960, militei em organizações de esquerda, primeiro na Ação Popular, depois no Movimento de Libertação Popular, de resistência à ditadura. O princípio era o entendimento da democracia como valor universal.

Por conta da minha militância, fui perseguida pela ditadura. Da primeira vez, eu e meu então marido, o professor de história István Jancsó, conseguimos fugir. Um agente da Polícia Federal foi até a universidade pegar o endereço de algumas pessoas, inclusive o nosso. O bedel escutou o pedido e estranhou. Ao chegar em casa, foi aconselhado pela esposa a nos avisar. Assim, conseguimos fugir. Ficamos um ano em Paris. Na volta, fomos presos. Durante duas semanas, sofri torturas físicas e psicológicas. Lembranças daquele período sumiram da minha memória. Ainda bem. Penso que, de alguma forma, ajudei na redemocratização do Brasil. Coloquei meu tijolinho nessa construção.

Passei outra temporada na França. Conheci amigos que levei para a vida, como Sebastião Salgado. Vi quando ele fez todo tipo de serviço para cuidar dos filhos, inclusive vender botões para camisas. Vi também quando ele publicou fotos impactantes na revista Paris Match. Ele era predestinado. Estava na hora certa, no lugar certo, e registrou o atentado que o então presidente americano Ronald Reagan sofreu. Depois, sua carreira decolou. Continuei muito amiga dele e de Lélia, sua esposa, uma mulher fenomenal. Estive em suas exéquias e participei da cerimônia no Instituto Terra, em Minas Gerais.

E também estudei na Lenôtre, uma das principais escolas de gastronomia do mundo, e voltei ao Brasil decidida a abrir um restaurante. Antes, ainda atuei na política. Fui vereadora pelo MDB com a bandeira de ajudar as crianças e as mulheres. Abri uma comissão de inquérito sobre as creches no governo de Orestes Quércia, o que foi decisivo, creio, para voltar o olhar do poder público e da sociedade para essa população.

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Há mais ou menos trinta anos, decidi finalmente abrir meu restaurante. Comecei com um bistrô francês, Maria’s, no bairro do Itaim, em São Paulo. Eu e minha filha, Maria Virgínia, dividimos as tarefas. Durante um tempo, deu certo. Mas eu já tinha mais idade e estava em busca de um sócio. Conheci o Paulo de Barros, que topou trabalhar comigo, mas disse que dominava a culinária italiana. Eu já tinha vontade de fazer a mudança, então seguimos. Assim, fechamos o restaurante por uma semana, trocamos os estofados e o nome na porta e reabrimos com um menu italiano. Assim nasceu o Due Cuochi Cucina, que hoje completa vinte anos e tem quatro unidades. Ninguém vive 80 anos impunemente (risos). São muitas histórias.

Ida Maria Frank em depoimento a André Sollitto

Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2025, edição nº 2969

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