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Tite ganha apostas com Neymar e time descansado — e até dança

Tensão pré-jogo era evidente, mas a facilidade diante da Coreia do Sul deu razão ao plano de poupar estrelas contra Camarões e de escalar o camisa 10

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 dez 2022, 19h01 - Publicado em 5 dez 2022, 17h55
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  • DOHA – A “dança do pombo” junto aos atletas para celebrar o gol de Richarlison é a cena do dia, o instante que dará volta ao mundo e possivelmente dividirá opiniões sobre se um técnico de seleção brasileira deveria se prestar a esse papel. Mas não é pelos movimentos duros e desajeitados que Tite foi protagonista da goleada por 4 a 1 do Brasil sobre a Coreia do Sul pelas oitavas de final da Copa do Mundo, nesta segunda-feira, 5, no Estádio 974. O treinador gaúcho passou dias de evidente tensão, mas no fim as suas duas controvertidas apostas — escalar reservas diante de Camarões e mandar Neymar a campo de início nesta noite — se mostraram certeiras.

    Foi um baile, daqueles de colocar em dúvida como a Coreia do Sul conseguiu chegar a esta fase. A resposta é simples: o limitado, porém valente time asiático deixara até a última gota de suor para bater Portugal e eliminar o Uruguai na primeira fase. O choro incontido de seu craque, Heung-Min Son, artilheiro da última Premier League, dava a medida da façanha. Era de se esperar que a equipe chegaria extenuada para um duelo decisivo apenas três dias depois. Quando a bola rolou, as diferenças técnicas que já eram enormes acabaram se tornando constrangedoras.

    É aí que entra o plano de Tite e sua comissão. A escolha de poupar os titulares contra Camarões tinha o objetivo de descansar os atletas para o duelo realmente decisivo que ocorreria dentro de 72 horas. Ainda que frustrasse boa parte da torcida, especialmente os que pagaram pequenas fortunas para ir ao Catar e ver todas as estrelas de perto, não se tratava de algo surpreendente ou revolucionário, tanto que as outras equipes que podiam fizeram o mesmo — curiosamente, todas elas (Brasil, França e Portugal) se deram mal na última rodada.

    Eis que a inesperada derrota por 1 a 0 para os camaroneses, a primeira diante de um africano na história da seleção pentacampeã, atingiu em cheio a moral do grupo. Graças a um chute para fora da Suíça na outra partida, o Brasil não terminou na segunda colocação do grupo G. Na zona mista, Bruno Guimarães, que em poucos minutos foi de xodó da torcida à vilão por uma partida apagada, passou mudo, cabisbaixo. Os cortes de Gabriel Jesus e Alex Telles e a grave condição de saúde do maior dos brasileiros, Pelé, jogaram para baixo o ânimo da equipe. Até mesma a tolice sobre a carne folheada a ouro comida pelos atletas virou motivo de questionamento por parte de um influencer bajulador (que acusou a imprensa de tentar criar crises). Em suma, o clima não era o ideal para iniciar a fase decisiva. Mas, ainda que demonstrando certo receio em seu semblante e tom de voz, Tite garantiu que tinha um plano, do qual Neymar era um dos protagonistas.

    Mesmo depois de ficar dez dias afastado do campo, se recuperando de uma lesão no tornozelo, e de ter feito apenas dois treinos com bola antes do duelo, Neymar foi escalado entre os titulares. Os próprios colegas já vinham pedindo pelo retorno do craque. “Deu para ver a falta que ele fez nesses dois jogos. Quero que ele volte, porque vai chegar mais bola para mim”, disse, o supersincero Richarlison, numa frase que poderia causar ciúmes no elenco, não fosse Neymar uma figura tão querida e admirada pelo grupo, uma condição quase inversamente proporcional a que conquistou junto à opinião pública.

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    O debate estava posto: não seria precipitado colocar Neymar, voltando de uma lesão incômoda, em um duelo teoricamente tranquilo? Todos os olhares se voltavam a ele já no aquecimento e o craque, com os fios devidamente retocados de loiro, aparentava normalidade. Acertou uma série de chutes no cantinho ou no ângulo do goleiro reserva Weverton, acenou para a torcida e cumprimentou um fã cadeirante na entrada do vestiário. Neymar exalava confiança, algo que pareceu contagiar o time.

    Tirou o pé de uma dividida no primeiro lance, tocou mais de primeira do que de costume, e não quis bater uma falta desenhada para ele, mas não demonstrou qualquer limitação de movimentos. Driblou até o juiz, em um lance que levantou a torcida. E deixou o seu de pênalti, em sua tradicional cobrança que ridiculariza os goleiros —o da Coreia até tentou desconcentrá-lo, mas foi enganado como quase todos os outros.

    O abraço apertado de Tite em seu braço-direito Cleber Xavier foi o retrato do mais puro alívio. E o desafogo absoluto veio no gol do carismático Richarlison, que chamou a todos para a sua dança do pombo, em um gesto que edtava ensaiado. Tite entrou na onda e será julgado por isso — é possível que rivais fiquem incomodados e até retruquem a falta de decoro em uma eventual vitória sobre o Brasil. Neste momento, porém, o gaúcho ganhou suas apostas, que incluíram até mandar a campo o terceiro goleiro Weverton, em mais uma tentativa de unir e levantar o astral do grupo. O Brasil segue no caminho do hexa.

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