Tite critica supervalorização dos técnicos no Brasil
Em evento na CBF, treinador da seleção defende maior estabilidade na profissão e afirma que a responsabilidade precisa ser dividida
Invicto desde a sua chegada na seleção brasileira, em Junho de 2016, o técnico Tite afirmou hoje, em palestra organizada pela CBF, que há uma supervalorização dos técnicos no Brasil. O evento, conhecido como “Somos Futebol – 2ª Semana de Evolução do Futebol Brasileiro”, acontecerá até a quinta-feira dessa semana no auditório da sede da CBF, na Barra da Tijuca, e contará, pelo segundo ano consecutivo, com grandes nomes do futebol mundial.
“Essa supervalorização de dizer ‘ele é o cara’ após uma vitória ou em um momento de boa fase não desce… ele não é o cara. É um conjunto todo que tem responsabilidade numa estrutura. Da mesma forma, lá na frente, esse mesmo ‘cara’ passa a ser o grande culpado pelo fracasso. Somos uma equipe. Essa responsabilidade precisa ser dividida, cada um com sua autonomia.”, reclama. Para Tite, o ideal seria dar mais estabilidade aos treinadores, mesmo que para isso, fosse necessária uma redução nos salários. “Gostaria muito de viver num país onde o técnico ganhasse menos [salário], mas tivesse mais estabilidade. Que não ficasse em média três meses apenas no clube. Não queremos audiência ou aparecer na TV, queremos tempo para trabalhar.”, disse.
Ao lado de outros companheiros de profissão como o argentino Marcelo Bielsa e o italiano Fábio Capello, Tite falou um pouco sobre a gestão de uma equipe de futebol e os conceitos e táticas que aplica dentro e fora de campo. Ex-técnico do Corinthians e Grêmio, aproveitou também para contar um pouco a respeito de sua passagem pelos clubes brasileiros e mencionou o quanto desaprova simulações de falta dentro do jogo. “Uma orientação que sempre dou para as equipes que dirijo é para que parem de fingir faltas. Nós perdemos a credibilidade, eu perco a razão de reclamar e isso acaba prejudicando nossa performance.”, afirma.
Ao longo da conversa, o técnico mostrou vídeos de gols de Sócrates e Júnior contra Itália e Argentina pela seleção brasileira de 1982, que usa de modelo e diz ser sua maior fonte de inspiração. “Não sei vocês, mas eu chorei durante a Copa de 82, com o gol de Falcão”, confidenciou Tite ao público.
Na sequência, o técnico fez um breve resumo a respeito da parte tática do futebol, utilizando imagens da seleção brasileira atual para ilustrar conceitos de jogo, como marcação alta, compactação, linhas de quatro e transições a partir da marcação. Mencionou nomes de técnicos que são referência para seu trabalho, como Zagallo e Telê Santana. Ao mostrar o lance de um gol de Neymar pelo Brasil, comentou que, apesar de ser “astro” da equipe, o jogador nunca deixa de voltar para a marcação. “Uma grande demonstração de trabalho em equipe”, exaltou.