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Os donos dos sebos ao ar livre: a Gália de Astérix cercada pelos romanos do COI

Os bouquinistes das margens do Sena foram autorizados a permanecer com as bancas abertas – mas era conversa para boi dormir

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jul 2024, 21h04 - Publicado em 25 jul 2024, 10h00
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  • Não é preciso muita criatividade para imaginar o livreiro Jérôme Callais como um personagem extraído dos livros de aventuras de Asterix – O Gaulês. Cabelos e barba dourados, os fios desgrenhados. O olhar entre a simpatia e a ironia. Callais, de 59 anos, é presidente da Associação Cultural dos Bouquinistes de Paris. Os bouquinistes são uma instituição de mais de 400 anos da cidade – a fila de sebos ao ar livre (são 900 ao longo das margens do Sena) conta séculos de história da civilização, tão queridos como a Notre Dame e a Torre Eiffel. No ano passado, por exigência das autoridades de segurança, foi decidido que nos dias anteriores à cerimônia de abertura da Olimpíada, ao longo de seis quilômetros do mais conhecido dos rios, eles seriam tirados do chão de pedra. Reclamaram, foram à justiça, conseguiram 180 000 assinaturas em abaixo-assinado e, enfim, venceram a parada. Em fevereiro deste ano, o presidente Emmanuel Macron assinou um decreto anunciando a permanência dos vendedores de livros, revistas, quadrinhos, postais e um imenso etc. Sabe-se, agora que os Jogos vão começar com a mais inusitada das festas, que foi vitória de pirro, era conversa para boi dormir.

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    Os bouquinistes poderiam ficar lá onde sempre estiveram, mas para quê? Os turistas não podem ser aproximar, a não ser que tenham QR Codes que autorizem a entrada no chamando cinturão cinza, de controle máximo. As grades impedem o acesso. Sem pessoas a circular, para que manter as bancas em funcionamento? Callais ri de uma ilação: ele e seus pares são como a Gália do Asterix cercada pelos romanos – ops, cercada pelos dirigentes do Comitê Olímpico Internacional, pelos organizadores dos Jogos, por Macron ansioso por ser o Rei-Sol de nosso tempo, em caminho que ele mesmo boicotou ao dissolver a Assembleia dos Deputados e mergulhar a França em caos político. “Isso mesmo, somos como o Astérix”, disse a VEJA.

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    “Deixar de ler é perigoso”

    Os estandes fechados: cenário como o de agora, apenas durante o período mais duro da pandemia
    Os estandes fechados: cenário como o de agora, apenas durante o período mais duro da pandemia (Fabio Altman/VEJA)

    Mas o mandão Macron ainda quer fazer da Olimpíada uma vitrine – e os bouquinistes, irritados, jogam pedra no vidro. “Nos ofereceram um passe para poder acessar a calçada onde fica minha banca, mas preferi um bilhete de avião”, diz Callais. Fez as malas, saiu fora e só pretende voltar no domingo, 28, para reabrir seu negócio no Quai Conti, em frente à rua Guenegaud, na Rive Gauche. Ele duvida, contudo, que haverá tempo para liberar toda a circulação. E dado os preços abusivos dos hotéis e do transporte (o metrô dobrou de preço) ele não acredita que os visitantes ponham a mão no bolso para comprar livros, nem mesmo Astérix nos Jogos Olímpicos, clássico adequado aos dias de hoje.

    Resta uma paisagem triste, ao avesso do frenesi que antecipa a cerimônia desta noite em Paris, entre a Ponte de Austerlitz e o Trocadéro, diante da Torre Eiffel. Os quiosques verdes fechados remetem aos dias de pânico da pandemia, forçados a receber cadeados. “Mas voltaremos”, anuncia Callais, sem temer que o céu lhe caia sobre a cabeça. Vale a lembrança de uma das placas brincalhonas que ele costuma exibir numa das prateleiras: “Deixar de ler é perigoso”.

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