DOHA – Decisões de terceiro e quarto lugares de Copa do Mundo não costumam ser das mais memoráveis, mas volta e meia a história registra duelos interessantes, em que ambos os times fazem muita questão da medalha e, já sem o receio de uma eliminação, vão com tudo em busca do gol. Foi o que aconteceu neste sábado, 17, no estádio Khalifa, no triunfo da seleção croata sobre o Marrocos por 2 a 1. O bronze, o segundo de sua história (o primeiro foi em 1998, na estreia da Croácia como nação independente), marca o fim da mais gloriosa geração do país de apenas 3,8 milhões de habitantes. Há quatro anos, o time de Luka Modric e companhia foi além e conseguiu o vice. Desta vez, mesmo envelhecida, a equipe de camisas quadriculadas pôs no currículo uma vitória sobre o favorito Brasil nas quartas de final e frustrou a torcida marroquina, a mais barulhenta do Mundial.
Tanto o astro Luka Modric quanto o técnico Zlatko Dalic sempre fazem questão de exaltar a geração anterior, a do artilheiro Davor Suker, que na Copa da França só parou diante da equipe anfitriã na semifinal e bateu uma fortíssima Holanda na decisão de terceiro e quarto. Ao ser eleito melhor jogador do mundo em 2018, Modric fez seu ídolo, o ex-camisa 10 Zvonimir Boban, ir às lágrimas com seu discurso de agradecimento. Um grupo claramente puxou o outro e, ainda que as seleções de 2018 e 2022 não tenham sido tão brilhantes do ponto de vista estético, os resultados obtidos foram notáveis.
Cuando ganó el premio #TheBest en 2018, Modric se lo dedicó a Boban por haberlo inspirado con el bronce en Francia ‘98. Un legado que continúa… pic.twitter.com/lpTlkJ4SgD
— Daniela Etcheverry 💚 (@danietcheverry) December 17, 2022
Modric é um craque geracional, uma lenda do Real Madrid, clube pelo qual conquistou cinco Ligas dos Campeões. Aos 37 anos, o filho da Guerra dos Bálcãs voltou a desfilar seu talento em seu quarto e último Mundial. Outros nomes também se destacam pela boa qualidade técnica, como Mateo Kovacic e Ivan Perisic – a geração passada ainda contava com o brilho de Ivan Rakitic e Mario Mandzukic. Mas foi na base da transpiração que este time fez história. Somando o Mundial anterior e este, a Croácia suportou cinco prorrogações e não perdeu nenhuma.
Em 2018, passou por Dinamarca nas oitavas, Rússia nas quartas, ambas nos pênaltis, e Inglaterra no tempo extra. Desta vez, despachou o Japão nas oitavas e o Brasil nas quartas, ambas da marca da cal. O volante Marcelo Brozovic, aquele que mais correu na história das Copas, titular em ambas as campanhas, foi peça fundamental nesta trajetória. Mas ninguém representou tão bem esta mescla entre inspiração e transpiração quanto Modric, um camisa 10 que põe a bola onde quer e o tempo todo se mostra disponível para ajudar na marcação.
Modric comemorou a conquista com os familiares no gramado e depois não mediu palavras para falar de seu orgulho. “Significa muito, de verdade, ganhar duas medalhas é algo muito grande. A Croácia não é um time que faz algo a cada 20 anos, com este Mundial e o último colocamos a Croácia no mapa dos grandes times e estamos muito contentes. Voltaremos para casa como vencedores.”
Do lado do Marrocos, ficou a decepção de não guardar uma medalha de recordação, mas ao final da partida a equipe recebeu os merecidos aplausos. “Viva Magreb” (como é chamada a região do norte da África, composto também por Tunísia, Argélia) foi o canto mais ouvido durante este Mundial, seja nas ruas ou nas arquibancadas. A primeira seleção africana a chegar entre as quartas melhores revelou ao mundo talentos como Bono, Nordin Amrabat, Azzedine Ounahi e Sofiane Boufal, além dos já consagrados Achraf Hakimi e Hakim Zyech. O sucesso da equipe coroou a “primavera árabe” no inverno catari, com direito a triunfos sobre dois de seus colonizadores (Espanha e Portugal). Croatas e marroquinos frustraram diversos favoritos e escreveram uma bonita história no Mundial do Oriente Médio.