Centenas de estrangeiros percorreram neste domingo as ruas da capital da Coreia do Norte durante a maratona de Pyongyang, uma experiência ímpar em um dos países mais isolados do mundo.
O estádio Kim Il-sung, com capacidade para 40.000 espectadores, estava lotado quando os participantes completavam a corrida, o evento turístico internacional mais importante da Coreia do Norte. No total, cerca de 2.000 corredores participaram da maratona, mais da metade estrangeiros.
Neste ano, a corrida fez parte das celebrações do 105º aniversário, no dia 15 de abril, do nascimento de Kim Il-sung, fundador do regime, o que explica a presença de várias autoridades na tribuna de honra.
“É surreal estar aqui”, afirmou Richie Leahi, um irlandês de 35 anos, que gosta que suas férias sejam “uma aventura”. “Participei de uma competição esportiva em Pyongyang. Nem todo mundo pode dizer o mesmo!”, sorri.
No percurso, que atravessa vários lugares emblemáticos da capital, os retratos e estátuas de Kim Il-sung e de seu filho, Kim Jong-il – ex-ditador norte-coreano e pai do atual dirigente, Kim Jong-un – eram onipresentes. “Os grandes líderes Kim Il-sung e Kim Jong-il sempre estarão conosco”, lia-se em um obelisco que os maratonistas ultrapassavam no início da corrida.
A competição terminou com a vitória do norte-coreano Pak Chol, que venceu na categoria masculina (2h, 13 min e 56 segundos) e de sua compatriota Jo Un-ok, na maratona de mulheres (2h, 29 min e 23 segundos).
“Foi bastante impressionante”, declarou Kiliam LePors-Ebner, um jurista parisiense de 26 anos que participou do evento com um amigo. “As pessoas estavam aglomeradas dos dois lados. Todas estavam ali para nos saudar, para tocar nossa mão, para nos encorajar”, contou. Os encontros espontâneos com a população norte-coreana são incomuns durante as visitas de estrangeiros, daí o entusiasmo dos corredores, que multiplicavam seus “toca aqui” com o público.
Críticas ao turismo
A realização de turismo na Coreia do Norte não é assunto unânime no mundo. Alguns argumentam que seria uma fonte de dinheiro estrangeiro para Pyongyang e que estimularia um regime acusado de grandes violações dos direitos humanos. O Conselho de Segurança das Nações Unidas já adotou uma série de sanções para tentar forçar a Coreia do Norte a renunciar aos seus programas nucleares e balísticos. As medidas buscam esgotar as fontes de divisas estrangeiras do regime, mas não proíbem o turismo.
O departamento de Estado dos Estados Unidos, por exemplo, convoca seus cidadãos a não viajar à Coreia do Norte. Mas para Tamara Bedford, uma artista americana, “o retrato do país que os meios de comunicação estrangeiros fazem é diferente da realidade”. “O fato de tanta gente estar ali para nos encorajar é realmente uma honra”, afirma.
Nick Bonner, diretor da Koryo Tours, uma agência de viagens que administra os deslocamentos de europeus e de outros ocidentais para a maratona, estimou que, sem contar com os chineses, cerca de 5.000 turistas estrangeiros visitam a Coreia do Norte todos os anos. Isto significa que apenas a maratona acolhe um quinto dos turistas que viajam ao país todos os anos. Uma parte do dinheiro gasto pelos turistas estrangeiros acaba nos cofres do Estado, reconhece.
(Com AFP)