Um dos maiores campeões do esporte em todos os tempos, o ex-atleta ucraniano Serguei Bubka é suspeito de estar envolvido no esquema de compra de votos para que o Rio de Janeiro sediasse os Jogos Olímpicos de 2016. O ex-recordista mundial do salto com vara, membro do Comitê Executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI) e vice-presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (Iaaf, na sigla em inglês) se envolveu em negociações que chamaram a atenção dos investigadores.
Em reportagem publicada nesta quarta-feira, o jornal francês Le Monde informou que Bubka teria feito pelo menos um depósito suspeito de 45.000 dólares (mais de 140.000 reais) para a New Mills Investments Ltd., situada em um paraíso fiscal. A companhia pertence a Valentin Balakhnichev, ex-presidente da Federação Russa de Atletismo – acusada de patrocinar um esquema de dopagem de atletas – e ex-tesoureiro da Iaaf.
Um dia antes, a empresa havia feito uma transferência idêntica de 45.000 dólares para a Pamodzi Sports, empresa de Papa Massata Diack, filho do ex-presidente do Iaaf Lamine Diack, membro do COI e suspeito de ser um dos pivôs da compra de votos em favor da Rio-2016.
A mesma companhia, Pamodzi Sports, recebeu um depósito da ordem de 1,5 milhão de dólares (4,7 milhões de reais) de uma das empresas do brasileiro Arthur Soares, outro dos investigados pelo Ministério Público Federal do Brasil e pelo Ministério Público Financeiro da França. O mesmo empresário transferiu ainda outros 500.000 dólares (1,56 milhão de reais) para uma conta situada na Rússia, também em favor de Papa Massata Diack.
“Rei Arthur”, como é conhecido o empresário brasileiro, tem contra si um mandado de prisão internacional da Interpol por suspeita de corrupção e compra de votos em favor da candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos de 2016. Além de pivô do escândalo, ele era próximo Sérgio Cabral, hoje preso, e desfrutou de contratos públicos de até 3 bilhões de dólares durante a gestão do ex-governador do Rio de Janeiro.
Completa o quadro dos investigados o atual presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, outro investigado pelos procuradores brasileiros e franceses.
Bubka sob suspeita
Segundo documentos consultados pelo Le Monde, vínculos financeiros ligariam Serguei Bubka a Valentin Balakhnichev e a Papa Massata Diack. Outro dado investigado pelos magistrados são as datas das movimentações financeiras, realizadas em 17 e 18 de junho de 2009, que coincidem com a reunião dos membros do COI em Lausanne, na Suíça, durante a disputa pelos Jogos Olímpicos de 2016.
Na época, o Rio ainda enfrentava a concorrência de Chicago, nos Estados Unidos, Madri, na Espanha, e Tóquio, no Japão. Durante o evento, os comitês de candidaturas apresentaram os seus documentos técnicos e responderam a questões dos delegados do COI.
Ao jornal francês, o advogado de Serguei Bubka, Louis Charalambous, afirmou que o seu cliente “não teve nenhuma relação financeira com Diack” e que o hexacampeão do mundo do salto com vara “não teve nenhum vínculo com as cidades candidatas” aos Jogos de 2016.
A suspeita dos investigadores, entretanto, é de que os membros do comitê possam ter recebido propinas em diferentes transações financeiras, que vão além das já conhecidas. Há uma semana, Jean-Yves Lourgouilloux, procurador responsável pelo caso no MP Financeiro de Paris, disse que a investigação poderia envolver outros membros do COI, além dos delegados africanos já identificados.
“Não devemos limitar a investigação ao seu lado africano. O número de eleitores africanos é grande, mas me parece que não se pode garantir uma vitória baseado apenas nos votos de um continente”, afirmou Jean-Yves Lourgouilloux. “Podemos imaginar que o que teria acontecido com a África possa ter acontecido com outros continentes”.
(com Estadão Conteúdo)