Justiça absolve Neymar de supostas irregularidades em ida ao Barcelona
Tribunal da Audiência de Barcelona inocentou o jogador e mais oito réus, seguindo decisão da promotoria; processo tinha pedido de prisão e multa milionária
![Neymar: gol pelo terceiro Mundial consecutivo -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/12/BAT_0452.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
O Tribunal da Audiência de Barcelona anunciou nesta terça-feira, 13, a absolvição do atacante Neymar, do Paris Saint-Germain e da seleção brasileira, por supostas irregularidades na transferência do Santos ao Barcelona, fechada em maio de 2013. A decisão era aguardada após a promotoria do processo optar por retirar todas as acusações contra o jogador e outros oito réus, incluindo seus pais, no último dia 28 de outubro. Eles eram acusados pela empresa DIS, que detinha 40% dos direitos econômicos do atleta na época, de fraude e corrupção na transação.
No comunicado, a justiça espanhola inocenta todos os acusados. “A Audiência absolve Neymar e os demais processados por corrupção entre particulares e fraude”, disse o Tribunal.
Inicialmente, os promotores do caso haviam pedido prisão de dois anos para Neymar, além do pagamento de uma multa de 10 milhões de euros (53,1 milhões de reais pela cotação atual). O Ministério Público local anunciou a “retirada das acusações contra todos os réus e por todos os fatos” pelos quais foram processados.
Além de Neymar, o pai e agente do jogador, Neymar da Silva Santos, a mãe, Nadine Santos, e os ex-presidentes do Barcelona, Sandro Rosell e Josep Bartomeu, estão livres perante a justiça espanhola.
Na ocasião, de acordo com o jornal espanhol Marca, o promotor responsável alegou que “o caso se baseou em presunções, não em provas”. O Mundo Deportivo, por sua vez, afirmou que a interpretação foi de que “o caso não é para código penal” e que poderia ser sancionado pela Fifa em caso de irregularidades.
“A Fifa tem um regulamento e se quisesse poderia sancionar, mas não é caso para o código penal e Neymar teve permissão do Santos para negociar com o Barça”, explicou.
No último dia 18 de outubro, ao Tribunal, o atleta de 30 anos se defendeu dizendo que apenas assinava o que seu pai lhe pedia na época. “Não participei da negociação. Sempre meu pai que cuidou e sempre será. Assino tudo que ele me manda”, afirmou Neymar, repetindo um discurso já usado por Lionel Messi ao ser acusado de fraude fiscal na Espanha.
![Neymar At National Court On FC Barcelona Fraud Investigation Neymar, ao lado do pai, durante julgamento na Corte de Madri, em 2016 -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/05/GettyImages-507982774.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
Questionado se havia outras equipes interessadas em comprá-lo, confirmou e disse que só acertou com o Barcelona em 2013, o ano de sua saída do Santos. “Sabia, por causa dos rumores, que havia clubes que me queriam. Mas meu sonho era jogar no Barça. Em 2013 tomei a decisão. Tive de decidir entre Barcelona e o Real Madrid. Havia outras equipes interessadas, mas no final a decisão foi entre esses dois. Meu coração sempre teve clareza de que queria jogar pelo Barcelona. Era meu sonho, desde criança queria jogar lá”.
Apesar do desdobramento, o processo ainda seguirá em âmbito civil, com a acusação inicial da DIS mantida.
Entenda o caso
Os promotores espanhóis pediam uma pena de prisão de dois anos e uma multa de 10 milhões de euros (51 milhões de reais pela cotação atual) para Neymar. Além do atacante, foram réus no processo os ex-presidentes do Barcelona, Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu, os pais de Neymar, Neymar da Silva e Nadine Gonçalves, o ex-presidente do Santos, Odílio Rodrigues, o Santos, o Barcelona e a empresa N&N Consultoria. A Promotoria pediu 5 anos de prisão para Rosell.
A DIS cobrava indenização de 149 milhões de euros e queria que o jogador fosse desqualificado de jogar pela duração de qualquer sentença proferida. A empresa alegava que o custo real da transação entre Santos e Barcelona chegou a 82 milhões de euros. Na época, a transferência foi oficializada em apenas 17 milhões de euros, dos quais 6,8 milhões foram para a DIS.
![Neymar, do Barcelona Neymar - Barcelona](https://placar.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/10/neymar-4.jpg?quality=70&strip=info&w=1000)
“Neymar, com a conivência de seus pais e dos conselhos de administração do Barcelona e do Santos, traiu a confiança dos meus clientes”, disse o advogado da DIS, Paulo Nasser, em entrevista coletiva na ocasião.
A defesa de Neymar, por sua vez, sustentava que o jogador não havia cometido nenhum crime (os pagamentos extras seriam bônus aos quais a DIS não teria direito) e que os eventos que estavam sendo julgados ocorreram no Brasil, de modo que os tribunais espanhóis não teriam competência para processar a família Neymar.
![esporte-apresentacao-neymar-no-barcelona-20130603-09-original.jpeg Neymar ao lado de Sandro Rosell no Estádio Camp Nou, em Barcelona. O brasileiro assinou um contrato de cinco anos com clube espanhol em 2013](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/esporte-apresentacao-neymar-no-barcelona-20130603-09-original4.jpeg?quality=70&strip=info&w=650)
Em julgamentos anteriores, Josep Maria Bartomeu e Sandro Rosell admitiram à Justiça da Espanha que fecharam um pré-contrato com Neymar em dezembro de 2011, com o pagamento de um adiantamento de 10 milhões de euros, dos quais a DIS não teve conhecimento. Pré-acordos nestes moldes são proibidos pela Fifa.
Em 2017, Neymar perdeu um recurso sobre o caso no Supremo Tribunal da Espanha, abrindo caminho para este julgamento. A promotoria também colheu depoimentos de André Cury, ex-olheiro do Barça no Brasil.