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Guga 20 anos: na final, a vitória mais fácil de todas

Na decisão contra o bicampeão Sergi Bruguera, o brasileiro Gustavo Kuerten deu uma aula sobre como dominar, do início ao fim, uma partida de tênis

Por Alexandre Salvador e Mateus Silva Alves
Atualizado em 8 jun 2017, 17h45 - Publicado em 8 jun 2017, 16h50

As imagens estão na internet. Se você joga tênis, ou apenas sonha em empunhar uma raquete, assista à grande final do Aberto da França de 1997 disputada entre o brasileiro Gustavo Kuerten e o espanhol Sergi Bruguera. É uma aula de como controlar uma partida, do início ao fim, praticamente sem sobressaltos. Sobre como atacar na hora certa e não desperdiçar chances. Ao acompanhar a trajetória de Guga naquela edição de Roland Garros, vimos o crescimento de um jovem tenista ao patamar dos grandes de seu esporte. Apesar das vitórias, era perceptível o nervosismo e os momentos de hesitação do brasileiro, principalmente quando o jogo estava a seu favor e bastava fechar a partida.

É preciso ressaltar, porém, que nos momentos mais difíceis – principalmente a desvantagem em 2 sets a 1 contra o russo Yevgeny Kafelnikov, nas quartas-de-final – Guga soube como sair do buraco. Esses altos e baixos da campanha o prepararam para a partida decisiva, vencida em 3 sets a 0. Antes da disputa, a imprensa francesa e os especialistas apontavam Bruguera como o grande favorito ao título – naturalmente, afinal o adversário de Guga na final era bicampeão de Roland Garros (1993 e 1994). Depois do título, tiveram que se render ao catarinense de roupas chamativas e cabelo rebelde. Tanto que no dia seguinte à final, no dia 9 de junho, a manchete do L’Équipe, o mais tradicional diário esportivo da França, fez um agradecimento ao novato brasileiro: “Obrigado por esse sorriso”, foi o que estampou o jornal.

Ainda enquanto a partida acontecia, Guga não conseguia esconder a alegria que sentia a cada bola vencedora. Não se tratava de prepotência, era uma alegria genuína. Na cerimônia de premiação, o brasileiro também não se conteve ao receber o troféu das mãos do argentino Guillermo Villas e do sueco Bjorn Borg, duas lendas do tênis mundial: fez uma reverência aos dois membros da monarquia da modalidade. Foi com essa espontaneidade que os franceses se encantaram e vieram a se apaixonar nos títulos seguintes, em 2000 e 2001.

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O jogo – Depois de um aparente equilíbrio nos primeiros games, a superioridade de Guga naquela partida ficou logo evidente no quinto game do primeiro set. Empatados em 2/2, o brasileiro logo aproveitou a primeira chance de quebra que teve no saque do espanhol.

Com a vantagem em 4/3, Bruguera acusou o golpe. Depois de ser jogado de um lado para o outro da quadra, para frente e para trás, Guga finalizou o ponto com um dropshot (a popular deixadinha) matador. A consequência foi aquela tradicional abertura de braços, acompanhada de um tapa duplo na linha da cintura, o primeiro sinal evidente da frustração de um tenista numa partida.

Tanto que, logo na sequência, o brasileiro logo conseguiu dois break points quando o espanhol sacava em 3/5. Na primeira, Guga deu uma furada incomum. Mas na segunda não houve perdão: um winner (como é chamado o ataque sem contestação) de direita na cruzada e o primeiro set vencido em rápidos 24 minutos.

Era evidente logo no início do segundo set que a confiança de Bruguera havia desaparecido de quadra. O adversário de Guga se agarrava nas bolas altas, de fundo de quadra, como tábua de salvação. O brasileiro as ignorava, castigando-o com pancadas rasteiras e que por vezes insistiam em beijar as linhas.

Com a palavra o campeão:

“O terceiro set começou deixando tudo evidente. Eu acertava até pensamento. De repente, encaixei uma devolução tão imprevista e matadora que Bruguera abriu os braços do mesmo jeito que Björkman e Muster fizeram antes nos jogos e Corretja num treino, naquela expressão inconformada de “Mas, pô, cara, qual é a tua? Não vai errar nada?!”.

Depois daquela reação, eu sabia, e Bruguera também, que nem uma avalanche do Himalaia seria capaz de deter minha escalada. Eu estava com a corda toda. Continuei iluminado no quinto game do terceiro set, deixando Bruguera cada vez mais apreensivo. Quando fiz 4-2, a convicção que me acompanhava desde o início se transformou em felicidade e empolgação. Nesse momento, só veio uma coisa à cabeça: “Vou ser campeão, é de verdade. Vai acontecer, está acontecendo.”

E, já que eu ia ser campeão, quis desempenhar como campeão. À vontade, relaxado, inspirado, solto, afiado, passei a exibir meu melhor tênis, com tudo funcionando melhor do que o planejado. Me inspirei ainda mais e, durante vinte minutos, o espetáculo, que já era lindo, ficou magnífico.”

Trecho extraído da autobiografia Guga – Um Brasileiro (Sextante)
Sergi Bruguera
Sergi Bruguera, na decisão de Roland Garros (Gary M.Priort/Getty Images)

Que fim levou? – Chegar à final de Roland Garros foi o último grande feito da carreira de Sergi Bruguera, bicampeão do torneio em 1993 e 1994. Naquele ano de 1997, ele também chegou à decisão do Masters de Miami, batendo o americano Pete Sampras na semifinal, e recebeu da Associação dos Tenistas Profissionais, a ATP, o prêmio de ‘Retorno do Ano’, principalmente por ter regressado ao tênis de alto nível após uma grave lesão no tornozelo. O espanhol pendurou a raquete em 2002, aos 31 anos. Depois da aposentadoria, Bruguera investiu em uma academia, sediada em Barcelona, dedicada à formação de novos tenistas. Ele também trabalha com jogadores profissionais, caso do francês Richard Gasquet (atual 25º do ranking).

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