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“Foi com emoção”

Darlan Romani, 31, conta como superou depressão e luto até conquistar o ouro no Mundial de arremesso de peso

Por Ricardo Ferraz 17 abr 2022, 08h00
Darlan Romani -
Darlan Romani – (Andrej Isakovic/AFP)

Quando subi ao pódio para receber a tão aguardada medalha de ouro que conquistei na prova de arremesso de peso, no Mundial de Atletismo indoor, um filme cheio de altos e baixos e intensa emoção passou pela minha cabeça. Imediatamente voltei à pequena Concórdia, no interior de Santa Catarina, e me vi aos 13 anos, ingressando em um programa de incentivo ao atletismo. Meu irmão mais velho já tinha sido recrutado para treinar arremesso de peso e eu quis seguir a mesma trajetória porque os alunos iam para o litoral, participavam de torneios e faziam amigos. Para um garoto do interior, era a oportunidade de abrir as portas do mundo. Fui selecionado e me apaixonei pelo esporte, ao qual dediquei tempo e suor. E logo me destaquei. Um ano depois, fui convidado para competir na Itália. Voltei com a medalha de ouro e a certeza de que aquilo seria a minha vida.

Abraçar a carreira de atleta profissional nunca foi uma escolha simples. Meu pai preferia que eu trilhasse seus passos como empreendedor no ramo de transporte. Quando fui convidado pela Confederação Brasileira de Atletismo para treinar em Uberlândia, em 2009, ele resistiu. Mas acabei conseguindo arrancar seu consentimento e me juntei à elite, recebendo a orientação de um técnico cubano (Justo Navarro), por quem nutro imensa admiração. Uma vez, de tão puxado o treino, tive um desgaste nos joelhos e parei por quatro meses. Cheguei a pensar em abandonar tudo. Já estava planejando até comprar a passagem de volta para casa quando um amigo, que trabalhava no programa, me demoveu da ideia. Depois, trabalhei de forma incansável para conseguir a vaga para a Olimpíada de Londres, mesmo abalado com a morte inesperada do meu pai, em um acidente. Por 4 centímetros, não me classifiquei.

A rotina de atleta é uma constante luta contra suas próprias limitações e o imprevisível, que pode empurrá-lo tanto para a vitória quanto para a derrota. Havia me classificado bem para a Olimpíada do Rio de 2016. Acabei em quinto lugar, cravando minha melhor marca naquele ano. Tudo indicava que teria condições de brigar por uma medalha em Tóquio. Aí veio a pandemia. Meu treinador tinha ido a Cuba para as festas de fim de ano e não conseguiu retornar ao Brasil. O centro de treinamento em Bragança Paulista, para onde havia me mudado, fechou. O jeito foi praticar em um terreno baldio em frente à minha casa. Meu técnico tentava me acompanhar a distância, com a ajuda de vídeos que eu mandava para ele, mas não era o mesmo que estar ao meu lado. Desenvolvi uma hérnia de disco e me operaram. Já recuperado, quando soube que a Olimpíada seria adiada, bateu um desespero. Para complicar, minha mãe e meu irmão sofreram de casos graves de Covid-19, que peguei ao visitá-los no hospital. Perdi mais de 10 quilos, algo fatal para minha modalidade.

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Caí em depressão imaginando que seria o fim, que nunca mais voltaria a arremessar novamente. Felizmente, tenho por perto uma mulher sensacional, a Sara, que me deu apoio incondicional, assim como minha filhinha, de 3 anos. O amor delas foi um combustível essencial. E, com muito empenho, me recuperei a tempo de competir no Japão. Não deu para subir ao pódio, mas ganhei segurança e uma certeza de que poderia vencer. Em março, chegou a vez de enfrentar o Mundial de Atletismo indoor, a primeira competição de nível internacional desde as Olimpíadas. Fui com tudo, arremessei 22,53 metros. E aí, finalmente, ele veio: o ouro era meu. Alguns me acham parecido com o super-herói do desenho Os Incríveis. Acho graça na comparação, mas sei que meu maior superpoder, digamos assim, está na convicção que hoje eu tenho de que nada é impossível. E o jogo não para: me aguardem no Mundial de julho.

Darlan Romani em depoimento dado a Ricardo Ferraz

Publicado em VEJA de 20 de abril de 2022, edição nº 2785

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