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Doses de insensatez na NBA

A temporada de 2021-2022 ainda não começou – mas a guerra entre os jogadores que defendem a vacina contra a Covid-19 e os negacionistas já entrou em quadra

Por Diego Teixeira Setton
Atualizado em 4 out 2021, 21h41 - Publicado em 4 out 2021, 21h39

A menos de um mês do início da temporada da NBA, a liga de basquete dos Estados Unidos, a controvérsia já entrou em quadra. Na segunda-feira, 27, durante a realização do “Media Day”, a jornada de encontro dos atletas com os jornalistas, um assunto se tornou o centro das atenções: a vacinação contra a Covid-19. A NBA, que em 2020, logo depois da eclosão da pandemia, montou uma bem sucedida “bolha”de proteção nas instalações da Disney, na Flórida, com zelo e preocupação exemplar, apesar dos tropeços, conseguiu vacinar 95% dos jogadores com ao menos uma dose de imunizante. É uma taxa muito boa. Porém, nem tudo são flores, porque alguns ídolos populares se recusaram a oferecer o braço para a agulhada salvadora. 

O armador do Brooklyn Nets, Kyrie Irving, não compareceu ao “Media Day” presencialmente em decorrência dos protocolos sanitários. Por Zoom, ao ser questionado a respeito da vacina,  ele foi direto ao ponto: “Gostaria de deixar o assunto privado”. A resposta evasiva, que parece não deixar dúvida da postura de Irving, combina com uma reportagem da revista Rolling Stone de setembro, segundo a qual ele seguiria páginas no Instagram em defesa de teorias de conspiração.  Uma das postagens anunciava, alheia à ciência: a vacina seria um instrumento utilizado por sociedades secretas para conectar a população negra a um supercomputador num suposto plano de satanás. Ambas as páginas do aplicativo citadas pela Rolling Stone já foram devidamente removidas da plataforma. A teimosia da estrela pode pôr em risco as chances de título da equipe do Brooklyn. Peça essencial do time, ao lado de James Harden e Kevin Durant, ele pode até perder metade dos jogos da temporada, por causa das leis de controle da Covid-19 impostas pelo estado de Nova York, que exigem imunização.

Outro foco de polêmica foi o ala Andrew Wiggins, do Golden State Warriors. Ele se recusou a tomar a vacina, e não demonstrou constrangimento ao anunciar: “Mesmo estando com as costas contra a parede, vou continuar lutando pelo que acredito”. No que mesmo acreditaria, ele não revelou. “Não é da sua conta”, respondeu a um repórter durante uma sessão de entrevistas. Wiggins também corria  o risco de não poder jogar em casa, em São Francisco, além de ser obrigado a pagar multa por cada partida que não jogar. Ao ser questionado sobre o prejuízo, repetiu a tolice: “Não é da sua conta”. Ele recorreu à NBA, justificando não tomar a vacina por questões religiosas. O pedido, no entanto, foi negado. Seu companheiro de quadra, e estrela de primeira grandeza da Liga, Stephen Curry, cujas posições políticas são sobejamente conhecidas (ele apoiou Joe Biden contra o negacionismo de Trump) cutucou o companheiro com firme delicadeza, ao dizer que a situação de Wiggins “não é a ideal” e completou: “No final quem tem que decidir é ele, não é segredo”. A pressão, certamente atrelada à força dos patrocinadores, funcionou. No domingo, 3, Wiggins foi finalmente vacinado.

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Há, contudo, grandes nomes que parecem insistir no egoísmo. Por trás de uma suposta defesa dos direitos individuais, não enxergam a sociedade que os cerca. Em Washington o “all star” Bradley Beal fez coro: “Eu perguntaria a todos aqueles que irão se vacinar, porque é que vocês ainda estão pegando Covid-19? Você ainda pode se infectar e infectar os outros mesmo vacinado, então…” Contudo, o ala armador diz ainda estar considerando o cenário– e não descartou a proteção.

Na NBA, como em outros torneios, reflexo das divisões ideológicas, parece haver uma guerra em nada velada. Em contraponto à turma do não, avessa à ciência, desponta um poderoso grupo a favor da vacina, com nomes como Ja Morant, Damian Lillard, Lebron James e o atual campeão e MVP Giannis Antetokounmpo. Nenhum deles, no entanto, cobrou diretamente seus colegas de profissão. Essa função tem sido feita principalmente pelo ex-jogador e multicampeão Kareem Abdul-Jabbar, hoje comentarista. O lendário pivô tem se posicionado fortemente para que todos tomem a vacina: “Não há espaço para jogadores que estão dispostos a arriscar a saúde e a vida de seus companheiros de equipe, funcionários e fãs simplesmente porque eles são incapazes de entender a seriedade da situação ou realizar a pesquisa necessária”.  

A NBA já anunciou que continuará a incentivar a imunização dos atletas, com multas a jogos perdidos, regras e restrições específicas àqueles que se recusarem a se vacinar. Tudo somado, a temporada de 2021-22 promete ser turbulento, sem favoritismo claro, com times desfalcados e mesmo risco de cancelamento de algumas partidas. Ao menos até que a sensatez faça a cabeça dos irresponsáveis, que podem, sim, ter opiniões e vontades próprias, é do jogo democrático, mas jamais poderiam abandonar o esforço coletivo de cuidados com o vírus.

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