LEBRON JAMES (desde 2004)
Pontos: 38 390 (e contando)
Em novembro de 1969, o Brasil respirava ansiedade, em meio aos horrores da ditadura militar, na medida em que se aproximava o gol de número 1 000 de Pelé. No início do mês, ele marcou dois contra o Santa Cruz no Recife — saiu de 996 para 998. Contra o Botafogo da Paraíba, em amistoso caça-níquel, chegou ao de número 999. “Eu não queria aborrecer os baianos que me esperavam para um jogo oficial, o do milésimo, então parei de chutar em gol”, diria o camisa 10. “Tinha medo de que os jogadores do Botafogo saíssem da frente da bola e a deixassem entrar.” Terminou a partida como goleiro, por via das dúvidas. Em Salvador, contudo, o Rei saiu em branco e estacionou em 999. E então veio o jogo contra o Vasco, no dia 19. O resto é história. Um clima semelhante — guardadas as proporções — tomou conta de quem gosta de basquete, especialmente da NBA, a espetacular liga profissional dos Estados Unidos, na semana passada. Aguardava-se, com a respiração presa e os olhos para a cesta, que o ala LeBron James, de 38 anos, do Los Angeles Lakers, quebrasse uma marca mítica — os 38 387 pontos feitos ao longo da carreira por Kareem Abdul-Jabbar, encerrada em 1989. Para que não reste dúvida da dimensão épica do feito: os 38 387 de Abdul-Jabbar eram como os 1 000 de Pelé.
KAREEM ABDUL-JABBAR (1969-1989)
Pontos: 38 387
LeBron cravou 27 pontos no sábado 4, na derrota dos Lakers para os Pelicans, por 131 a 126 — saiu de 38 325 pontos para 38 352 pontos. Faltavam, portanto, apenas 35 para chegar ao cume. E então, na madrugada brasileira de quarta-feira 8, contra o Oklahoma City Thunder, ele fez 38 pontos na derrota em casa. Chegou a 38 390. O frenesi, como tudo nos Estados Unidos, podia ser medido em dólares. Os assentos mais próximos da quadra foram vendidos ao equivalente a 471 000 reais. O mais barato saiu por 2 100 reais. O próprio líder a ser destronado, Abdul-Jabbar, estava na plateia. No momento em que a marca foi alcançada, o juiz parou o jogo. Houve uma série de homenagens. O ex-recordista estendeu a mão e deu a bola ao novo dono do céu. “Acho que é um desses recordes que as pessoas acham que nunca seria quebrado”, disse LeBron, dias antes. “Sei que é 38 e alguma coisa, então é bem legal.”
KARL MALONE (1985-2004)
Pontos: 36 928
Para além do 38 e alguma coisa, há uma questão no ar: recordista, LeBron James, dono de repertório inigualável, com cestas, assistências e rebotes, pode ser considerado o melhor jogador de basquete de todos os tempos? É pergunta de resposta difícil, porque houve Michael Jordan, o quinto em número de pontos (veja nos quadros abaixo), mas o primeiríssimo em jogadas plásticas, um obcecado vocacional que inventou um mundo ao redor do basquete, com o marketing esportivo que o associaria para sempre com a Nike. Jordan, enfim, inventou uma era, nos anos 1980 e 1990. Venceu seis vezes o título da NBA, contra quatro de LeBron. Em 179 jogos de play-offs, as disputas de mata-mata, fez uma média de 33,4 pontos por jogo, o número 1 nesse quesito. A média de LeBron, em 266 jogos, é de 28,7 pontos, a sexta maior.
KOBE BRYANT (1996-2016)
Pontos: 33 643
MICHAEL JORDAN (1984-2003)
Pontos: 32 292
O feito de agora, contudo, impõe um dilema inescapável, o embate magnético entre um e outro. “Jordan é meu ídolo de infância, um personagem imenso e incomparável”, disse a VEJA o brasileiro Tiago Splitter, que disputou sete temporadas da NBA. “Mas a carreira de LeBron deve ser celebrada, é uma força bruta com inteligência, um fenômeno sem igual.” Spliter tem razão. Como o novo pontuador imbatível — até que surja outro, porque o esporte tem o dom de produzir campeões atrás de campeões —, não está de todo errado dizer que LeBron anda de mãos dadas com Jordan. É até possível relativizar alguma estatística — mas nunca a que foi dizimada por LeBron, que, na vigésima temporada de carreira, chegou a seu milésimo pessoal, como Pelé.
Publicado em VEJA de 15 de fevereiro de 2023, edição nº 2828