Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Canarinho desbotada: os desafios de Dorival Júnior à frente da seleção

Empossado como novo técnico, ele quer recuperar o prestígio da camisa amarela, mas precisa combinar com os torcedores

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h25 - Publicado em 21 jan 2024, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Perdeu-se no tempo o momento em que o torcedor brasileiro cortou laços com a seleção masculina de futebol. A genealogia do desastre é complexa. Supõe-se que tenha começado na Copa de 1982, na Espanha, com a derrota do excepcional time de Telê Santana para a Itália do carrasco Paolo Rossi. A partir de então, mesmo com as honrosas e meritórias conquistas de 1994, nos Estados Unidos, e 2002, no Japão e Coreia, tempo de Romário, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, construtores do tão propalado penta, a liga nunca mais foi refeita. A ponto de a famosa camisa canarinho, símbolo de nossa supremacia no esporte, ter sido sequestrada nos últimos anos como uniforme de passeata por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. A virada política do ano passado pressupunha renascimento do interesse pela amarelinha, mas não. Polarização? Nesse terreno, parece nem mesmo existir, e o descaso com o escrete soa tristemente unânime no país do futebol.

    Ao ser empossado como novo treinador da seleção, Dorival Júnior lembrou do divórcio, e não por acaso avisou que sua primeira convocação seria “o povo brasileiro”. O tom ufanista não resolve o problema central: é improvável refazer a relação de amor por decreto. O modo como Dorival foi tirado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) do São Paulo, aliás, dá pistas do tamanho da dificuldade de recomposição. O técnico campeão da Copa do Brasil no ano passado com o tricolor paulista virou primeira opção como comandante da seleção depois que o italiano Carlo Ancelotti renovou contrato com o Real Madrid.

    DESGOSTO - O menino em 2016: o nome de Neymar riscado da camisa
    DESGOSTO - O menino em 2016: o nome de Neymar riscado da camisa (Bruna Muraro/.)

    Afastado e posteriormente reconduzido à presidência da CBF em eterno e caótico vaivém feito de politicagem e processos, Ednaldo Rodrigues nunca escondeu que Ancelotti era seu objeto de desejo. Garantia ter feito acordo com ele, mas terminou como conversa para boi dormir. Ancelotti, que não é bobo nem nada, disse não. E, então, o interino Fernando Diniz, que dividia seus afazeres com o Fluminense até a chegada de um messias, foi sumariamente defenestrado. “Uma seleção do tamanho do Brasil não pode ter interino”, disse Muricy Ramalho, coordenador técnico do São Paulo, amigo de Dorival. “Para mim, o Diniz tinha de continuar, tinha de ser o técnico, não dava para esperar o Ancelotti. Acho que, se ele chegasse aqui e visse a bagunça, não iria ficar nem cinco minutos.”

    O resultado de tanta confusão pode ser medido pelo ano de Diniz nas Eliminatórias — o pior da história (veja no quadro), com um melancólico sexto lugar, com três derrotas sucessivas para Uruguai, Colômbia e Argentina. Ressalte-se haver escassez de grandes jogadores e o melhor deles, hoje contundido, Neymar, preocupa-se mais com o que vai fora do gramado do que com a bola nos pés. E não é de hoje. Viralizou nas redes sociais, a partir de 2016, a imagem do menino que durante a Olimpíada do Rio riscou o nome do camisa 10 e escreveu o de Marta. O Brasil dos homens, naquele ano, levou a medalha de ouro, e as mulheres não. Mas os humores pouco mudaram e ainda agora aquela imagem perpetua a constrangedora falta de motivação pelo futebol da seleção.

    Continua após a publicidade

    arte futebol

    O primeiro passo de um futuro melhor — atrelado ao tolo slogan “Novos sonhos para sonhar”, imaginado pela CBF para 2024 — pressupõe vitórias em campo e paz nos gabinetes. Em meio à cruzada por reaver o prestígio perdido da seleção, Dorival já tem definidas suas primeiras partidas como comandante: dois amistosos, um contra a Inglaterra e outro contra a Espanha, no fim de março — as Eliminatórias voltam apenas em junho. Enquanto isso, o cartola Rodrigues tem se protegido como pode de futuras investidas — e de novas denúncias — contra sua permanência na presidência da CBF. Obteve apoios da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e da Federação Internacional de Futebol (Fifa), além dos quarenta clubes das duas principais divisões brasileiras. A decisão liminar que o reconduziu ao gabinete, assinada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, ainda deve ser julgada pelo plenário da Corte, o que só acontecerá depois do fim do recesso.

    Há pressa, o tempo passa e logo estaremos nos acréscimos. Como então reconquistar o brio e a paixão? Há quem apele ao “Sobrenatural de Almeida”, o codinome do personagem salvador da pátria de Nelson Rodrigues, há quem brinque porque não há outro modo — e brinca-se até com a postura religiosa dos atletas. “Nas entrevistas, os jogadores brasileiros, mesmo os que atuam lá fora, agradecem a Deus em primeiro lugar. E o que Ele tem a ver com o gol feito, com a defesa quase impossível?”, diz o escritor Mario Prata, autor do romance histórico O Drible da Vaca, sobre os primórdios do ludopédio. Não está fácil para ninguém.

    Publicado em VEJA de 19 de janeiro de 2024, edição nº 2876

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.