“O Sena é lindo, mas não foi feito para nadar”. Em março deste ano, a nadadora Ana Marcela Cunha provocou ruído internacional ao comentar a ideia bonita e controversa dos organizadores da Olimpíada de Paris de usar o mais conhecido dos rios como palco de competições. “Não se trata de apagar a história do Sena, sabemos o que representam a Ponte Alexandre III e a Torre Eiffel, mas penso que a saúde dos atletas deve estar em primeiro lugar”. Campeã olímpica em Tóquio da maratona aquática de 10 quilômetros, era voz respeitada – e por isso mesmo, aliás, achou que poderia vocalizar o que muita gente pensava, mas não dizia. Contudo, a prova em cenário improvável foi realizada, e na manhã desta quinta-feira, 8 de agosto, em Paris, Ana Marcela entrou para a história do Sena, ao ficar em quarto lugar.
Foi uma travessia extenuante, misto de estratégica com força física, que a brasileira tem de sobra, mas insuficiente para levá-la ao pódio. Embora a preocupação com a sujeira do Sena fosse tema permanente, apesar da limpeza garantida pelas autoridades sanitárias, houve um elemento posto em segundo plano, e que agora ganha luz. O ponto: a travessia de 10 quilômetros feita, em metade do desafio, na contramão da correnteza. As provas costumam ser disputadas em lagos ou próximo a portos, de mar tranquilo – como foi em Tóquio. Especialistas na modalidade, associados a conhecedores do Sena, já estimavam uma diferença de cinco minutos entre a “subida” e a “descida”. A solução adotada pelas competidoras: “costear” o rio, sempre próximo da margem, de modo a minimizar os efeitos da resistência do fluxo de água.
Uma expectativa, depois do pódio: o que ela dirá das condições do Sena, agora um rio que passou em sua vida ao longo de duas infindáveis horas?
Em tempo: a vitória foi de Sharon Van Rouwendaal, da Holanda. A prata ficou com Moesha Johnson, da Austrália. O bronze está nas mãos de Ginevra Taddeucci, da Itália.