Ver o time em penúltimo na tabela de classificação, com sério risco de rebaixamento à segunda divisão, é de tirar qualquer torcedor do sério, mas nada, absolutamente nada, justifica as cenas de violência e irracionalidade protagonizadas por alguns torcedores do Grêmio na 29ª rodada do Campeonato Brasileiro. Consumada a derrota de virada por 3 a 1 para o Palmeiras, no último dia de outubro, os valentões tricolores invadiram o gramado da Arena em Porto Alegre, agrediram seguranças e fotógrafos e ameaçaram os atletas, que tiveram de buscar abrigo no vestiário. Sobrou então para o VAR — sim, o aparelho à beira do campo em que os juízes revisam os lances recomendados pelos árbitros de vídeo —, que acabou destroçado. Durante a partida, os gremistas reclamaram, sem razão, de um pênalti assinalado para o adversário e de um gol anulado por impedimento. Nas arquibancadas, em mais uma cena deplorável, torcedores rivais tentaram brigar por entre a grade que os separava e circulou nas redes um vídeo em que um gremista imita um macaco, em gesto racista direcionado a um palmeirense. Para fechar o circo de horrores, houve ainda um confronto com a Brigada Militar no estacionamento do estádio. O cenário caótico poderá ser enquadrado no artigo 213 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, com pena prevista de multa de até 100 000 reais e perda de mando de uma a dez partidas. O clube agora auxilia as autoridades para identificar os invasores, única ação capaz de amenizar seu castigo. A chance de seguir na Série A ainda existe. O vexame dos vândalos, porém, ficará para a história.
Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2021, edição nº 2763