1,2,3 e… a prefeita de Paris enfim mergulha no Sena
Anne Hidalgo lançou a promessa lá atrás, mas só tomou coragem às vésperas dos Jogos
A expectativa era de que Anne Hidalgo, a prefeita de Paris, mergulhasse no rio Sena bem antes dos Jogos, que começam em 26 de julho. O objetivo era exibir aos franceses – tão céticos em relação ao saneamento daquelas águas quanto os cariocas diante da Baía de Guanabara – a balneabilidade da artéria em torno da qual a cidade se organiza.
Com os testes apontando alta concentração de bactérias, porém, não deu. Dois adiamentos depois, Hidalgo finamente cumpriu o prometido na quarta-feira 17, ao lado do presidente do Comitê Organizador, Tony Estanguet, na altura da bela île Saint-Louis.
O Sena vem sendo fonte de preocupação no Hôtel de Ville, a sede da prefeitura. Um dos grandes trunfos desses Jogos é justamente tornar limpo o rio, há um século interditado para banho. Para tal, foi investido 1,4 bilhão de euros – montante que a população sempre lembra ser alto e cobra resultado. O plano é que, em 2025, alguns trechos sejam abertos aos locais.
“DIA DO COCÔ”
Tamanho o mau-humor dos moradores que um grupo deles chegou a fazer circular nas redes um tal “dia do cocô”, em que jogariam sacos de excremento no pobre Sena. A vontade de protestar, porém, não sobreviveu à ameaça do governo de multar os insurgentes.
No curtíssimo prazo, se aquelas águas não estiverem em boa condição, não será possível receber ali as provas da maratona aquática e do triatlo, o que tem deixado autoridades, e os próprios atletas, em alerta. Antes de cada competição, será batido o martelo se o Sena está apto ou não. Aí, a depender, será preciso mexer no cronograma, postergando as disputas.
O que atrapalhou nas últimas semanas foi uma chuva acima do esperado para esta época do ano. O novo reservatório, que tem capacidade para armazenar o equivalente a trinta piscinas olímpicas, não deu conta e aconteceu o que não deveria: a sujeira foi arrastada para o rio, que ainda por cima ficou mais revolto – este um ponto de atenção para a cerimônia de abertura, um desfile de barcos ali no Sena. Uma grande aposta, aliás, seja por seu ineditismo (nunca a cerimônia de largada de uma olimpíada ocorreu fora de um estádio), seja pela oportunidade de mostrar ao mundo, um a um, os cartões-postais parisienses que se enfileiram naquelas margens.
Hidalgo hesitou muito antes de dar o seu pulo, com sorriso largo e passando confiança a quem a observava. Nos bastidores, o que se diz é que ela teria ficado incomodada depois que a ministra dos Esportes, Amélie Oudéa-Castéra, tomou a dianteira e banhou-se por lá cinco dias antes.
“HIDALGO É INVEJOSA”
As duas têm relacionamento pouco amistoso – a ministra é ligada ao presidente Emmanuel Macron, com quem a socialista Hidalgo antagoniza. Não faz muito tempo que Amélie deu de disparar: “Hidalgo é invejosa e gosta de alimentar rivalidades. Quando assumi o ministério, senti que ela me julgava”, disse ao jornal Le Monde.
Na ensolarada quarta-feira do mergulho de Hidalgo, era tudo festa. “É uma felicidade, um dia de sonho. A água está um pouco fria, mas muito, muito boa”, celebrava a prefeita. A VEJA, ela garantiu ser boa nadadora. “Gosto de dar minhas braçadas”, falou.
Agora, é torcer para o tempo seguir firme, como prevê a meteoreologia.