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Cultura

O inventor das línguas faladas por Daenerys

O californiano David J. Peterson criou o Dothraki e o Alto Valiriano, falados em Game of Thrones

por Mariane Morisawa, de Los Angeles Atualizado em 14 jul 2017, 21h06 - Publicado em
14 jul 2017
21h01

O americano David J. Peterson, formado em inglês na Universidade da Califórnia – Berkeley, já tinha criado algumas línguas quando apareceu a oportunidade de inventar um idioma para o piloto de televisão. A série era Game of Thrones, e a língua, o Dothraki, falada pelos guerreiros nômades de Essos, o continente a leste de Westeros. O processo durou dois meses. “Mandei 300 páginas de material”, disse Peterson em conversa com VEJA. “Talvez os produtores (David Benioff e D.B. Weiss) tenham ficado com pena de eu ter feito tanta coisa e me escolheram.” Além do Dothraki, ele também criou o Alto Valiriano, uma língua praticamente morta também original de Essos. Ambas são faladas por Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), entre outros.

O maior choque? “Khaleesi”, que quer dizer “rainha” em Dothraki, era para ser pronunciada “ralissi”, mas virou “calissi”. Os idiomas ficaram tão populares que, além de ter escrito livros, Peterson dá cursos.

O Alto Valiriano, por exemplo, vai estar disponível no aplicativo de línguas Duolingo. Com o sucesso da série, ele também foi chamado para criar idiomas em diversos outros projetos, como Defiance e Thor: O Mundo Sombrio. A seguir, trechos da entrevista com Peterson:

Em que baseou a língua Dothraki? Já havia algumas palavras criadas por George R.R. Martin nos livros. Havia cerca de 40, eu tive de inventar muitas outras, expandir em relação ao que estava no livro. E fazer com que, faladas, soassem como estavam escritas.

Mas não se parece com alguma língua da vida real? Não. Na verdade há um número limitado de variações das línguas. Então de muitas maneiras o espanhol é similar ao árabe e, no entanto, não são nada semelhantes. Ou japonês e turco. Ambas são muito semelhantes, mas não têm relação uma com a outra.


Escute abaixo uma frase em Dothraki:


Yeri ray esh osoon. Ki jini yeri akhezhi. Anha chiorikem Khali Vezhvena
“Vocês cometeram um erro. Um erro de que vão se arrepender. Eu sou a mulher do grande Khal.”

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A criação do Alto Valiriano foi mais difícil do que o Dothraki? Havia muito menos material de Alto Valiriano nos livros. Tive de inventar muito mais coisa. Mas não sei se é mais ou menos difícil. É diferente. Porque com Dothraki precisava fazer com que minhas criações fizessem sentido com o que o George R.R. Martin havia escrito. São desafios bem diversos, mas bastante divertidos.

Como é o processo em Game of Thrones? Recebo o material antes de cada temporada e traduzo. Já trabalhei em muitas séries e sempre fico surpreso como Game of Thrones muda pouco e como eles escrevem com muita antecedência. Todos os roteiros estão prontos antes de começarem a filmar. Isso não acontece em nenhuma outra série que eu trabalho. E não muda muita coisa no diálogo. Depois gravo cada uma das falas para os atores saberem como pronunciar.

Tem alguém que pronuncie melhor? Todos são bons. Mas Jacob Anderson, que faz Verme Cinzento, fala muito bem. É absurdo.


Escute outra frase em Dothraki:


Mīrīno pāstys iderenni jumbiles sē bisa vala ziry ossēntas. Qilōnarion morghon issa
“Um cidadão de Meereen estava aguardado julgamento, e este homem o assassinou. A punição é a morte.”

Tem bastante Dothraki ou Alto Valiriano na temporada 7? Nem tanto. As temporadas 5 e 6 tinham mais trabalho.

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Como foi o processo de criação do Dothraki? Com Dothraki havia frases inteiras. Então só aí, você já sabe alguma coisa sobre a gramática. Porque, por exemplo, em inglês, se diz: “black cat” (gato preto, com o adjetivo primeiro) e não “cat black”. Em espanhol, se diz: “gato negro”. A primeira coisa que precisei fazer foi ver se as frases curtas eram consistentes ao longo do livro. E eram! Depois fui juntando os pedacinhos da gramática: adjetivos após os substantivos, preposições, objetos após os verbos… Aí tive de definir as inflexões. Depois que todos os sistemas estão definidos, é só criar as palavras.

E com Alto Valiriano? Foi o mesmo processo, mas tinha apenas duas frases: “Valar Morghulis” (“Todos os homens devem morrer”) e “Valar Dohaeris” (“Todos os homens devem servir”, que é uma resposta à primeira). Mas elas me ajudaram muito mesmo assim. E George R.R. Martin compara a língua ao latim, então o Alto Valiriano tem bastante influência do latim, e também do grego.


Escute uma frase em Valiriano:


Kisha shilaki yera. Anha vineserak meyer adakh zhores vezhoon. (beat) Kifindirgi yer vos esso kishaan irge Khal Drogo drivo?
“Sabemos quem você é. Nós nos lembramos de você comendo o coração do garanhão. Por que não veio até nós depois da morte de Khal Drogo?”

Há cursos de Dothraki e Alto Valiriano, você escreveu livros sobre essas línguas. Imaginou que chegaria a esse ponto? Não. A vida que tenho agora não era possível de imaginar, nem por mim mesmo. Não há precedente. Nem é que sonhava, mas achava que não ia acontecer. Nunca tinha me ocorrido, nem a ninguém, que um criador de línguas poderia ter as oportunidades que tenho. É espantoso.

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