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Cultura

DreamWorks: 25 anos de fantasia

Estúdio que lançou franquias como 'Shrek' e 'Como Treinar o Seu Dragão' é homenageado em exposição no CCBB do Rio

por Maria Clara Vieira e Bruna Motta Atualizado em 1 fev 2019, 18h31 - Publicado em
1 fev 2019
10h09

Há 25 anos, nascia em Hollywood a DreamWorks, até hoje caçula entre os principais estúdios de cinema dos Estados Unidos. Seu primeiro longa, O Pacificador, veio em 1997, protagonizado por George Clooney e Nicole Kidman. A especialidade do grupo, entretanto, viria nos anos seguintes. A empresa se tornou uma das primeiras a mergulhar no mundo das animações e, consequentemente, a fazer frente à gigante Disney, líder do mercado, e à Pixar, que acabara de deixar sua marca neste universo com o lançamento de Toy Story, o primeiro longa produzido somente a partir de computação gráfica, em 1995 (a compra pela Disney viria em 2006). Mesmo sem números chamativos, o primeiro longa animado da DreamWorks, Formiguinhaz, deu início, em 1998, a uma história de sucesso, protagonizada por ogros de bom coração, galinhas que planejam sua fuga de uma fazenda e bebês que usam terno e despacham ordens, arrecadando bilhões de dólares em bilheteria.

A fundação do estúdio foi resultado do encontro de três nomes já consagrados da indústria: o aclamado diretor americano Steven Spielberg, o animador e diretor Jeffrey Katzenberg, que, segundo os rumores da época, saiu brigado da Walt Disney Company depois de não ser promovido pelo então CEO Michael Eisner, e o magnata David Geffen. A briga teria levado Katzenberg, inclusive, a se inspirar em Eisner para criar o personagem Lord Farquaad, vilão da trama de Shrek, provavelmente o longa mais conhecido da DreamWorks, que inaugurou o prêmio de melhor animação no Oscar, em 2002.

Shrek e Fiona
Shrek e Fiona (DreamWorks/Divulgação)

Rusgas à parte, o fato é que a primeira animação do estúdio foi muitíssimo bem recebida, tanto pelo público quanto pela crítica. “Shrek é um filme para crianças, mas com traços de humor adulto escatológico. A maioria dos grandes momentos da DreamWorks tem essa ousadia”, diz Marcelo Marão, ex-presidente da Associação Brasileira de Cinema de Animação. Os fãs mais ávidos talvez se lembrem da cena em que o ogro satiriza o castelo gigante do pequeno Lord Farquaad, dizendo que talvez ele queira “compensar alguma coisa”. O segundo Oscar do estúdio veio em seguida, com Spirit: O Corcel Indomável, animação em 2D cuja trama densa foi comparada, à época, ao clássico O Rei Leão.

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A DreamWorks foi também pioneira na construção de sequências para seus longas, investindo massivamente em produtos consolidados – medida que a Disney e a Pixar demoraram a adotar. Shrek 2 que o diga. Enquanto a estreia do ogro tenha rendido 484,4 milhões de dólares, a segunda parte da história chegou aos impressionantes 919,8 milhões de dólares. O mesmo aconteceu com Como Treinar o Seu Dragão: o filme que iniciou a série arrecadou 494,9 milhões de dólares, já a continuação chegou aos 621,5 milhões de dólares. A terceira parte, que já estreou no Brasil, vai chegar ao mercado americano em 22 de fevereiro sob a expectativa de superar a anterior.

Soluço e Banguela, de ‘Como Treinar o Seu Dragão’
Soluço e Banguela, de ‘Como Treinar o Seu Dragão’ (DreamWorks/Divulgação)

Presente tanto nas histórias sóbrias quanto nas divertidas, o espírito da marca se resume à fala de Steven Spielberg: “a vontade de fazer as crianças sentirem que podem fazer qualquer coisa”. Com filmes coloridos e alto astral, mas que não fogem de temas densos e lições de moral, não é exagero dizer que o universo que ele ajudou a criar, na DreamWorks, tem cumprido esse papel. E, agora, uma parte desse mundo, já tão conhecido do público, poderá ser visto ainda mais de perto na mostra DreamWorks Animation: A Exposição – Uma Jornada do Esboço à Tela. Confira na próxima aba deste especial.

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Exposição

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(DreamWorks/Divulgação)

Desde o dia 29 de janeiro, é impossível entrar no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, sem se espantar com a gigantesca girafa que vigia dia e noite o saguão principal do prédio construído ainda no período imperial. É o sorridente – e hipocondríaco – Melman, um dos quatro protagonistas do sucesso Madagascar, quem dá as boas-vindas à exposição DreamWorks Animation: Uma Jornada do Esboço à Tela, que já passou por sete países e desembarca oficialmente no Brasil no dia 6 de fevereiro. A mostra é uma das mais aguardadas da cidade, escolhida a dedo para receber itens raros que desnudam os bastidores do estúdio fundado em 1994 pelo diretor americano Steven Spielberg, em parceria com outros dois animadores. A exposição fica no Rio de Janeiro até 15 de abril e segue para Belo Horizonte, onde permanece entre 15 de maio e 29 de julho.

VEJA teve acesso com exclusividade ao local da exposição, poucos dias antes da abertura oficial. O público acostumado à arquitetura do CCBB se surpreenderá com a reformulação espacial do espaço designado para a mostra: o primeiro andar do prédio foi completamente modificado para receber as instalações. Segundo a produção, foram necessários cinco caminhões para transportar o acervo, e outros doze só para as estruturas cenográficas – todas as paredes “montadas”, nichos e pisos. Tudo para que o ambiente da versão brasileira seja milimetricamente idêntico à exibição original, que estreou no Australian Center for the Moving Image (ACMI) – o museu nacional de cinema, videogames, cultura e arte da Austrália, localizado na cidade de Melbourne. Quatro integrantes da equipe de montagem do ACMI e dois diretores criativos da exposição vieram ao país para auxiliar na montagem e checar os detalhes da mostra. O imponente pescoço de Melman, que parece sair de um buraco na parede acima do balcão de entrada, foi um dos maiores desafios: levou um dia inteiro para ser montado. Feita de fibra, a estrutura mede cerca de 4 metros e pesa 80 quilos. O “recheio” é de isopor, para facilitar a suspensão a mais de 3 metros de altura. A exibição conta também com um protótipo “em tamanho real” do simpático Banguela, o dragão protagonista de Como Treinar o Seu Dragão.

Melman, de ‘Madagascar’, na entrada do CCBB, no Rio de Janeiro
Melman, de ‘Madagascar’, na entrada do CCBB, no Rio de Janeiro (Maria Clara Vieira/VEJA)

O acervo conta com mais de 400 itens, incluindo itens raros e inéditos, como desenhos, storyboards, máscaras, mapas, fotografias, pôsteres, pinturas e artes originais, distribuídos em três áreas. A primeira, denominada “Personagens”, é dedicada aos inúmeros ídolos infantis já produzidos pelo estúdio. As maquetes originais de Shrek, Melman, Alex (o leão de Madagascar), Lenny (o tubarão vegetariano de O Espanta Tubarões), Moisés (O Príncipe do Egito), Spirit (Spirit: O Corcel Indomável), Tulio e Miguel (O Caminho para El Dorado), entre outros, são exibidos ao centro de uma das primeiras salas, rodeados por rascunhos autênticos e vídeos exibindo a história de sua criação.

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Entre os desenhos, muitos bastidores podem ser conhecidos. O ogro verde vencedor do Oscar de melhor animação em 2002 – ano de estreia da categoria na premiação -, em suas versões iniciais, era bem mais feio. A versão final de Shrek, um pouco menos assustadora (dizem os fãs que até simpática), foi a que se consagrou como o ponto de virada do estúdio. “Os filmes da DreamWorks não têm medo de ser atrevidos”, diz a curadora Sarah Tutton. “Quando o estúdio descobriu que a irreverência é seu melhor tempero, fez dela seu ingrediente mágico. E isso aconteceu com Shrek”, explica. No hall dos personagens populares e divertidos, há também o quarteto de Madagascar. Uma das peças favoritas de Tutton é, inclusive, um esboço que mostra que Alex, Melman, Glória e Marty (“a” hipopótamo e “o” zebra) são inspirados em formas geométricas diversas, para demarcar suas diferenças. Descobre-se também que a peça-chave na construção de Spirit foi a redução das pupilas, para que o cavalo pudesse reproduzir expressões humanas e, assim, se conectar com os espectadores. Um painel interativo permite que o público projete suas próprias expressões faciais nos personagens do estúdio e os veja reproduzirem seus movimentos.

Kung Fu Panda, artista Nicolas Marlet
Kung Fu Panda, artista Nicolas Marlet (© 2019 DreamWorks Animation LLC. Todos os direitos reservados/.)

Já na sessão “Histórias”, os espectadores são levados a conhecer melhor os enredos por trás dos filmes, do brainstorming ao desfecho. Deparam-se, por exemplo, com uma reprodução fiel da mesa dos roteiristas do estúdio, onde são realizados os debates sobre os roteiros. “Queríamos dar vida ao estúdio, para que o público que vai ao cinema saiba como é o ambiente de criação. Também queríamos mostrar aos jovens que eles podem trabalhar com aquilo, que não é impossível”, diz Tutton. Há outro espaço especial dedicado ao primeiro “estouro” da marca: uma projeção cercada de desenhos originais do primeiro storyboard de Shrek conta a história do filme que satirizou sem pudor os personagens clássicos da Disney.

Alex, de ‘Madagascar’, artista Craig Kellman
Alex, de ‘Madagascar’, artista Craig Kellman (© 2019 DreamWorks Animation LLC. Todos os direitos reservados/.)

Mais à frente, na área “Mundos”, o público entra em contato com o processo de criação dos universos nos quais se passam as histórias. Entre os produtores envolvidos com a montagem da exposição, a quantidade de detalhes surpreende. Há, por exemplo, desenhos exibindo estudos minuciosos da arquitetura da choupana de Shrek e vídeos que explicam a dificuldade de iluminar ambientes aquáticos em Os Croods. “Quando entrei em contato com os bastidores da criação, fiquei especialmente surpresa com a quantidade de pesquisa necessária para criar uma história de ficção”, lembra Sarah Tutton. “Os criadores viajaram para a China para estudar os cenários de Kung-Fu Panda e para a África para observar os animais que retratariam em Madagascar”, diz. As paredes também revelam estudos minuciosos da cidade de Nova York, onde vivem os quatro protagonistas no início do primeiro filme, com atenção especial ao zoológico do Central Park – foram reproduzidos com perfeição os espaços entre as jaulas e detalhes no topo das grades. Há maquetes também fidedignas do Reino de Tão, Tão Distante, a terra natal da princesa Fiona, da Ilha de Berk, lar dos vikings de Como Treinar o Seu Dragão e da horta de Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais.

‘Os Croods’, artista PaulDuncan
‘Os Croods’, artista PaulDuncan (© 2019 DreamWorks Animation LLC. Todos os direitos reservados/.)

Por último, a “cereja do bolo” da exposição: a Sala de Desenhos, onde os espectadores poderão, literalmente, criar suas próprias animações utilizando os programas da DreamWorks; e, ao centro do CCBB, a atração batizada de Dragon Fly (o Voo do Dragão): um simulador de voo sobre a Ilha de Berk nas costas de Banguela, realizado através de uma projeção de 180 graus.

A exposição, que promete agradar a crianças e adultos – nos moldes das produções cinematográficas da marca – representa mais um passo notável da DreamWorks na direção do império construído por Walt Disney. Os personagens do estúdio fundado por Steven Spielberg já possuem um parque temático próprio na Austrália e dão as caras em atrações nos parques da Universal. “Os personagens da Disney tiveram muito tempo para se consolidar junto ao público, e contaram com diferentes plataformas. A experiência de visitar uma exposição, conhecer um parque ou usar uma caneca ajuda na fidelização do cliente”, avalia o especialista Pedro Curi, coordenador do curso de cinema e audiovisual da ESPM no Rio. Para o ex-presidente da Associação Brasileira de Cinema de Animação, Marcelo Marão, a DreamWorks está longe de bater a casa do Mickey, mas “fica entre as três melhores”. No Brasil, reino encantado da sátira e dos anti-heróis, é de se esperar que faça sucesso.

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(DreamWorks/Divulgação)
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