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Cultura

120 anos de Di Cavalcanti: desvende a vida e a obra do artista

A maior exposição já realizada sobre o pintor desde a sua morte está em cartaz em São Paulo. Conheça esta trajetória

por Sâmia Louise para Abril Branded Content Atualizado em 6 set 2017, 19h26 - Publicado em
6 set 2017
18h32

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo foi muito mais do que um grande pintor. Assinando suas obras apenas como Di Cavalcanti, também foi ilustrador, caricaturista, gravador, muralista, jornalista, escritor e cenógrafo. Um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922 e um dos artistas mais premiados da sua época, completaria 120 anos no dia 6 de setembro.

Em homenagem ao seu aniversário, está em cartaz na Pinacoteca de São Paulo a exposição Nos Subúrbios da Modernidade – Di Cavalcanti 120 Anos. Com patrocínio do Bradesco, a mostra apresenta mais de 200 obras do artista, dentre pinturas, ilustrações e desenhos. É a maior exposição feita sobre seu trabalho desde sua morte, em 1976. Você poderá visitá-la até 22 de janeiro de 2018. Antes, conheça alguns dos fatos mais importantes e curiosos sobre a vida e a obra de um dos principais nomes do modernismo brasileiro.

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(Divulgação/Dedoc)
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Alma brasileira

Com notável influência do expressionismo e do cubismo, além dos muralistas mexicanos, como Diego Rivera, Di Cavalcanti foi um dos primeiros artistas da sua época a abordar temas da cultura brasileira. Samba, carnaval carioca, operários, festas populares, paisagens suburbanas e a vida boêmia eram alguns dos cenários explorados. Ele também retratou a sensualidade tropical brasileira, na figura feminina.

Em suas telas, deixou transbordar o lirismo do povo e o seu amor pelo país. Dentre as suas principais obras, estão: Pierrete (1922); Pierrot (1924); Samba (1925); Mangue (1929); Mulheres com Frutas (1932); Músicos (1963); Rio de Janeiro noturno (1963); Mulatas e Pombas (1966) e Baile Popular (1972). Mas ele também ilustrou livros de Oscar Wilde, Álvaro de Azevedo, Jorge Amado, Monteiro Lobato, Mário de Andrade e Vinícius de Moraes.

Foi na década de 1950 que atingiu o apogeu do seu talento, tornando-se um dos principais artistas brasileiros revelados pelo modernismo. A singularidade de suas obras faz com que Di Cavalcanti seja um dos artistas mais concorridos em leilões no mundo inteiro, até hoje. É possível encontrar trabalhos seus em museus e coleções particulares por toda a América Latina, Estados Unidos e Europa. Seu ateliê e obra inacabada foram doados ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde permanecem ainda hoje.

Samba, 1925
Samba, 1925 (pinacotecasp/Instagram)
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O princípio

O pequeno Emiliano nasceu em 1897 na Rua Riachuelo, no velho centro do Rio de Janeiro. Herdou do pai o nome da tradicional família pernambucana Cavalcanti de Albuquerque. Quando criança, viveu na casa de sua tia, Maria Henriqueta de Sena, casada com o abolicionista José Carlos do Patronício. Anos mais tarde, Di Cavalcanti revelaria que nesse período de sua infância recebeu grande influência de intelectuais que frequentavam a casa dos tios, como Joaquim Nabuco, Olavo Bilac e Machado de Assis.

Desde cedo, demonstrou interesse pela arte. Foi aluno do colégio Pio Americano e aprendeu a tocar piano com Judith Levy. Aos 11 anos, teve suas primeiras aulas de pintura com o artista Gaspar Puga Garcia. Aos 17, já atuava como ilustrador e caricaturista em alguns veículos de comunicação. Do período, destaca-se o seu trabalho na Revista Fon-Fon, conhecida pelo viés político com charges sociais, caricaturas e pinturas de gênero. Na mesma época, também participou do 1º Salão dos Humoristas, no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.

Mudou-se São Paulo em 1917. Em uma de suas memórias, Di Cavalcanti afirmou que a cidade o “seduzia”. Foi onde começou a trabalhar como arquivista no jornal O Estado de São Paulo, ao chegar com uma carta de recomendação de Olavo Bilac. Logo desistiu da faculdade de Direito.

Di Cavalcanti ilustrou o livro “Balada do enforcado”, de Oscar Wilde
Di Cavalcanti ilustrou o livro “Balada do enforcado”, de Oscar Wilde (durrval/Instagram)
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Nasce a carreira

Em São Paulo, realizou a sua primeira mostra individual como desenhista, na redação da revista A Cigarra, onde colaborava como chargista. Com pinturas explorando o tom pastel, em sua maioria retratando figuras femininas, ganhou de Mário de Andrade o apelido de “menestrel dos tons velados”.

No campo da ilustração de livros, realizou trabalhos marcantes, como os desenhos para as obras Carnaval, de Manuel Bandeira; e Balada do Enforcado, de Oscar Wilde. Começou a frequentar o ateliê de Georg Elpons, que também fora professor de Anita Mafaltti. Sua pintura então foi abandonando a conotação estudantil e literária e assumiu uma postura mais madura.

Em 1921, realizou a sua primeira exposição com pinturas. Nas 12 obras lançadas no evento, ainda demonstrou traços de tendências passadas, como o impressionismo e o simbolismo, e ainda algumas marcas expressionistas.

Começou a assinar suas primeiras obras como Didi Cavalcanti, em homenagem à sua prima, Dida. Depois de um tempo, simplificou para Di Cavalcanti, nome pelo qual ficaria conhecido pelo resto de sua vida.

Mulheres na Janela, 1926
Mulheres na Janela, 1926 (Edouard Fraipont/pinacotecasp/Instagram)
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Boas relações

Di Cavalcanti já possuía um bom relacionamento com a mídia e com os círculos sociais. Ele se alternava entre São Paulo e Rio de Janeiro, frequentando não apenas os meios artísticos das duas cidades, como também as rodas de boêmia, temática representadas com frequência em suas obras.

Foi nessa época que se tornou amigo de intelectuais do seu tempo, como Mário e Oswald de Andrade. Abraçando a ebulição dos movimentos vanguardistas, foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, ao lado de outros colegas, como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret e Menotti del Picchia. Teria sugerido a Paulo Prado “uma semana de escândalos literários artísticos”, reproduzindo o incômodo que levou ao movimento de renovação artística brasileira. Ele expôs 11 obras na Semana de Arte Moderna, além de ter criado peças promocionais para o evento, como o seu catálogo.

Capa do catálogo foi ilustrada por Di Cavalcanti
Capa do catálogo foi ilustrada por Di Cavalcanti (Arquivo/Reprodução)
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A influência externa

Em 1923, fez a sua primeira viagem para fora do país. Por dois anos, permaneceu em Paris, atuando como correspondente do jornal Correio da Manhã. Lá, também frequentou a Academia Ranson, instalou ateliê e conheceu artistas e escritores europeus de vanguarda, como Pablo Picasso, Georges Braque, Fernand Léger e Henri Matisse.

A experiência influenciou o trabalho do artista em sua volta ao Brasil, dois anos depois. Com inspirações em Picasso, sua pintura passou a apresentar uso mais acentuado da cor, porte volumoso e monumental nos personagens e tratamento às mãos e pés. Essas marcas já estão presentes na ilustração do livro Os Deuses Vermelhos, de Adolpho Agrorio.

Alinhando uma linguagem própria aos traços da vanguarda europeia, também passou a abordar uma temática nacionalista preocupada com a questão social. Seu trabalho dedicou-se então com mais intensidade às críticas da realidade brasileira e da vida política. Nessa perspectiva de lutas sociais, ele filiou-se ao Partido Comunista do Brasil em 1928.

Pintou os primeiros painéis modernos do Brasil, para o Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Participou do Salão Revolucionário de 1931 e; juntamente com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado, criou o Clube dos Artistas Modernos em São Paulo, uma associação contra as agremiações artísticas da época.

Cena de rua, Emiliano Di Cavalcanti, 1931
Cena de rua, Emiliano Di Cavalcanti, 1931 (Nicolás Beraza/Pinacoteca de São Paulo/Divulgação)
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Preso

Foi preso pela primeira vez durante a Revolução Paulista de 1932. Casou-se com a pintora Noêmia Mourão e publicou uma série de 12 desenhos satirizando o militarismo, intitulada A Realidade Brasileira. Em 1936, foi preso novamente com a esposa, enquanto se escondiam na Ilha de Paquetá. Por meio da influência de alguns amigos, conseguiram liberdade.

Passou os próximos anos em Paris, onde permaneceu até 1940. Nesse tempo, recebeu medalha de bronze por conta da decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Artes Específica, em Chicago. Também trabalhou na rádio Diffusion Française, nas emissões Paris Mondial.

Retornou ao Brasil durante a Segunda Guerra. Já separado de Noêmia Mourão, participou da I Bienal de São Paulo, em 1951, e fez uma doação de mais de 500 desenhos ao Museu de Arte Moderna paulista. Em 1954, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro fez uma retrospectiva dos seus trabalhos.

Convidado por Oscar Niemeyer, criou imagens em tapeçarias para o Palácio da Alvorada. Além disso, pintou as estações para a via-sacra da catedral de Brasília. Também foi indicado pelo presidente João Goulart para ser adido cultural na França, mas foi impedido de assumir por conta do golpe militar de 1964. Passou a viver com sua nova companheira, Ivete Bahia Rocha, conhecida como Divina.

Cinco Moças de Guaratinguetá, 1930
Cinco Moças de Guaratinguetá, 1930 (tati.lazz/Instagram)
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Lembrança

O artista escreveu dois livros de memórias: Viagem da minha vida (1955) e Reminiscências líricas de um perfeito carioca (1964). Comemorou 75 anos de idade em seu apartamento do Catete, no Rio de Janeiro.

Em 26 de outubro de 1976, Di Cavalcanti morreu em sua cidade natal, aos 79 anos de idade, por conta de uma hepatite mal curada. Seu corpo foi velado no Museu de Arte Moderna. O cineasta Glauber Rocha filmou o ato e lançou, no ano seguinte, o documentário Ninguém Assistirá Ao Enterro Da Tua Última Quimera, Somente A Ingratidão, Aquela Pantera, Foi Sua Companheira Inseparável!, – Di Cavalcanti di Glauber, uma homenagem póstuma. No mesmo dia, a exibição do filme foi interditada pela justiça por um mandato de segurança da filha adotiva do pintor, Elizabeth.

Favela, 1958
Favela, 1958 (Alexandre Silva/pinacotecasp/Instagram)
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No subúrbio da modernidade — Di Cavalcanti 120 anos
Patrocinada por Bradesco

Quando: 02 de Setembro de 2017 a 22 de Janeiro de 2018
Horários: quarta a segunda-feira, 10h às 17h30
Ingressos: R$6 (inteira) e R$3 (meia). Crianças com menos de 10 anos e adultos com mais de 60 anos não pagam. Aos sábados, a entrada é gratuita
Onde: Pinacoteca de São Paulo. Praça da Luz, 02, São Paulo – SP

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