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Diretora de ‘Uma Dobra no Tempo’: ‘Meninas podem salvar o mundo’

Ava DuVernay, primeira mulher negra a dirigir uma produção de mais de US$ 100 milhões, fala sobre racismo e inclusão

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
Atualizado em 30 mar 2018, 16h00 - Publicado em 30 mar 2018, 16h00

Com Selma – Uma Luta pela Igualdade (2014), Ava DuVernay foi a primeira mulher negra a concorrer ao Globo de Ouro de direção. Agora, com Uma Dobra no Tempo, ela é a primeira mulher negra a comandar uma produção de mais de 100 milhões de dólares (cerca de 333 milhões de reais). “Temos de chegar a um ponto em que somos tantos que deixamos de ser uma pauta”, disse a americana de 45 anos ao site de VEJA, referindo-se à escassez de mulheres e pessoas não-brancas em geral na posição de diretor.

A fábula infanto-juvenil Uma Dobra no Tempo, que é baseada no livro de Madeleine L’Engle e estreia no Brasil nesta quinta-feira (29), tem um elenco inclusivo: a protagonista, Meg, é interpretada por Storm Reid, uma adolescente negra, e as senhoras do tempo são vividas por Oprah Winfrey, Mindy Kaling e Reese Witherspoon. O pai de Meg, que pesquisava uma maneira nova de viajar no tempo e no espaço, sumiu. Um dia, três criaturas mágicas – Sra. Que é (Reese Witherspoon), Sra. Qual (Oprah Winfrey) e Sra. Quem (Mindy Kaling) – aparecem para convidar Meg numa jornada por outros planetas em busca de seu pai (Chris Pine).

DuVernay, que fez A 13a Emenda, um documentário sobre o alto número de presos afro-americanos nos Estados Unidos, é engajada na promoção de uma maior representatividade em Hollywood. Na série Queen Sugar, que produz com Oprah Winfrey, os episódios são dirigidos por mulheres. Em fevereiro, ela lançou um fundo, em parceria com o produtor Dan Lin e o prefeito de Los Angeles Eric Garcetti, para promover inclusão, dando oportunidades a jovens de comunidades pobres da cidade na indústria audiovisual. DuVernay conversou com o site de VEJA sobre o filme, racismo e diversidade:

 

Por que este filme é importante agora? É importante para  criarmos um panorama de imagens no cinema que reflita o mundo real. Que mostre todos os tipos diferentes de pessoas fazendo tipos diferentes de coisas. Na maior parte das vezes os heróis têm sido meninos caucasianos e homens caucasianos. Mas as meninas também podem voar. Elas podem salvar o mundo. Inclusive meninas que não são brancas. Então estamos vendo as plateias no mundo todo querendo mais, como mostram Pantera Negra e Corra!. Queremos mais tipos de imagens diferentes. E isso só falando dos negros nos Estados Unidos, mas tem a população latina, de origem asiática e nativa. Todos querem se ver. É importante. Temos de lutar contra esses muros que nos cercam há tanto tempo e incluir mais pessoas.

Na maior parte das vezes os heróis têm sido meninos caucasianos e homens caucasianos. Mas as meninas também podem voar. Elas podem salvar o mundo. Inclusive meninas que não são brancas.

Ava DuVernay
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Claro que os diretores sempre procuram escolher o melhor ator para o papel, mas você escolheu atrizes poderosas. Foi proposital? Estava procurando atores talentosos. Por acaso escolhi mulheres incríveis que têm impérios próprios. Mindy Kaling teve uma série com seu nome por seis ou sete anos, a única mulher de origem asiática a fazer isso. Reese Witherspoon tem uma linha de roupas, um clube de leitura e produz séries e filmes. E Oprah nem preciso dizer. Todas essas mulheres juntas representam uma verdadeira coleção de mulheres, de diferentes formas, tamanhos, culturas. Elas não representam apenas um tipo de mulher.

Você é líder de uma iniciativa para promover mais diversidade no cinema e na televisão. Como fazer progresso nessa área? O caminho é filme a filme. Mas temos de ter cuidado para não celebrar as quatro ou cinco cineastas ou os quatro ou cinco diretores que não são brancos que estão se destacando agora. Dá para contar esses em duas mãos. Mas a maioria continua sendo de homens brancos. A mudança não foi tão grande. Então temos de chegar a um ponto em que haja tantos de nós que deixe de ser uma pauta. Agora somos poucos: Greta Gerwig, Patty Jenkins, eu, Ryan Coogler, Barry Jenkins, Jordan Peele, Dee Rees. Não somos nem dez pessoas. Parece muito, mas não é. Precisamos continuar aumentando esse número.

Que tipos de desafios enfrentou sendo uma mulher negra? Principalmente a dúvida. As pessoas duvidando que eu podia fazer. As pessoas duvidando que eu podia liderar. Por isso achei importante ter imagens como as que aparecem no filme, em que Meg, uma menina negra, diz para Calvin, um garoto branco: “Você confia em mim?”. E ele responde: “Sim, eu confio em você”. E ele segue Meg. Ela lidera. São imagens assim que precisamos gerar na nossa cultura para ensinar aos meninos que eles podem seguir as meninas, ensinar a crianças brancas que elas podem seguir crianças negras, marrons. Porque esses meninos e meninas vão se tornar adultos, e isso vai fazer a diferença. Se isso tivesse acontecido quando eu era pequena, hoje as pessoas em Hollywood estariam mais familiarizadas com a ideia de que uma mulher negra pode ser uma líder. Por isso essas imagens são tão importantes.

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Como são tão poucos projetos liderados por mulheres e pessoas não-brancas, parece que todos os olhos estão em você, a pressão pelo sucesso é grande. É como se essas pessoas não tivessem permissão para falhar. Sentiu isso? Ainda estou no meio disso. Mas não dá para fazer muito, só torcer pelo melhor.

O filme segue os passos de Pantera Negra nos cinemas. Como se sentiu em relação a isso? São filmes tão diferentes, não têm nada em comum, a não ser que ambos os seus diretores são negros. É meio maluco que tentem colocar os dois filmes juntos. Um é de super-heróis, o outro, uma fantasia para crianças. Mas é bonito ver pessoas diferentes dirigindo esse tipo de filme grande. Tomara que tenhamos mais.

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Meg sente muita pressão para ser como os outros e demora um pouco até aceitar quem é. Sentiu-se assim em algum momento? É um processo. Chega um momento em que aceitamos quem somos e ficamos bem com isso. Foi bacana contar a jornada de auto-aceitação de Meg. Por isso o livro é tão popular há tantas gerações e foi traduzido em cem países, porque todos se identificam com essa busca pelo nosso melhor. É um filme doce para crianças aprenderem essa lição.

A diretora de cinema, Ava DuVernay
A diretora de cinema Ava DuVernay (Frazer Harrison/Getty Images)
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